Juros altos na América Latina atraem investidores
09/01/2009
Cada vez mais, a tentação do lucro supera o medo de correr riscos.
Voltada para os investidores estrangeiros, uma emissão de títulos do Brasil no valor de 500 milhões de euros (equivalente a R$ 1,7 bilhão) essa semana teve seu valor de face cotado a 98,80% sugerindo que o apetite por títulos da dívida com rendimento mais alto pode estar diminuindo, após o desempenho recorde no ano passado.
Desde o começo do ano novo, as expectativas de aumento na taxa de juros nos Estados Unidos e em outros países elevaram o rendimento dos títulos à categoria de papéis de alto risco, dando margem a especulações de que os dois anos de mercado favorável podem estar se encerrando. Os títulos do Brasil com vencimento em 10 anos foram cotados com um rendimento de 7,55% –5 pontos básicos acima do esperado– e com spread (diferença entre rendimentos financeiros) considerável sobre o título de 10 anos da Alemanha.
No ano passado, juros baixos em escala global provocaram uma busca internacional por bons rendimentos, levando a um investimento recorde em títulos dos mercados emergentes. Os fluxos de capital privado atingiram em 2004 seu ponto mais alto em sete anos, de acordo com o Instituto de Finanças Internacionais, tendo um rendimento um terço superior ao observado no ano de 2003.
Como conseqüência, o ágio relativo aos juros caiu, diminuindo o spread em relação ao padrão de referência estabelecido pelo Tesouro americano. Os países da América Latina capitalizaram essa demanda para ampliar sua base de investimentos. A emissão de títulos do Brasil em euros essa semana foi precedida por uma oferta em setembro, que foi a primeira realizada pelo país em dois anos.
Já a Colômbia emitiu papéis globais com denominação em pesos colombianos –a primeira do país e a segunda feita em moeda local em toda a região, onde historicamente as moedas instáveis já forçaram os governos a pedir empréstimos em dólares, o que por sua vez já deu origem a mais de uma crise.
Mas, apesar de um começo tumultuado do mercado esse ano, os analistas estão otimistas quanto às previsões para a região.
“As taxas de juros globais ainda estão muito baixas, e isso está estimulando o apetite por papéis de rendimento mais alto”, disse Ricardo Amorim, diretor de pesquisas do banco internacional West LB.
Para esse economista, a previsão econômica para a região também é otimista, o que apóia o interesse dos países mais ricos em oportunidades de investimento por lá.
Nesta semana, o presidente do Equador, Lucio Gutierrez, esteve em Nova York, conversando com investidores e banqueiros sobre planos para uma emissão de títulos. Esse lançamento seria o primeiro do país no mercado internacional dos títulos das dívidas, desde que o Equador escalonou parte de sua dívida em 1999.
Essa oferta deverá incluir um novo título, assim como a reestruturação da dívida atual equatoriana, no valor de US$ 1,25 bilhão (cerca de R$ 3,6 bilhões).
Ricardo Amorim acredita também que essa tendência de maior emissão de títulos das dívidas em moedas locais se deve às expectativas de nova desvalorização do dólar: “Isso poderá ocorrer agora, ou dentro de dois meses ou nos próximos dois anos, mas é um fato, e significa que há perspectivas para valorização dessas moedas regionais”.
Analistas da empresa de consultorias 4Cast observaram uma correlação de 95,3%, numa base de rolamento de um mês, entre o dólar em relação ao euro e ao índice EMBI (Emerging Markets Bond Index), referente ao títulos dos mercados emergentes) do JP Morgan nos últimos dois anos.
“O apetite pelo risco não diminuiu, apesar das intervenções do Federal Reserve americano, e o dinheiro real continuou a fluir em direção aos mercados emergentes, o que deverá sustentar a médio prazo uma compressão do índice (de risco) EMBI+”, declarou a consultoria 4Cast num relatório.
Financial Times
Jennifer Hughes
Tradução: Marcelo Godoy
22/1/2005