Juro alto já afeta confiança do consumidor

09/01/2009

Otimismo bate recorde no curto prazo, mas cai a expectativa positiva para os próximos seis meses, aponta pesquisa.

O otimismo do brasileiro em relação aos rumos da economia em janeiro é o mais alto desde que a FGV (Fundação Getúlio Vargas) iniciou a pesquisa de Sondagem de Expectativa do Consumidor, em outubro de 2002. Em compensação, aumentou a desconfiança em relação ao futuro do país.
A queda da expectativa positiva em relação à situação econômica do país nos próximos seis meses atinge principalmente as classes com renda mais alta. Para o economista Aloisio Campelo, responsável pela pesquisa, um dos motivos é a política de alta consecutiva dos juros adotada pelo BC.
“As taxas de juros vêm sendo corrigidas desde setembro do ano passado e, aparentemente, agora ela começa a ter algum impacto”, disse. “Sentimos isso principalmente nas classes mais altas, que têm mais acesso à informação.”
“Acreditamos que isso tenha a ver não com o sentimento na vida real do consumidor, mas com o noticiário e a perspectiva de que haverá desaceleração da taxa de crescimento nos próximos meses”, completou Campelo.
Para 45,4% dos entrevistados em janeiro, o país estará melhor economicamente nos próximos seis meses do que está agora. O índice era de 46,4% em dezembro. Os que consideram que a situação estará pior somam 11,4%, contra 10,4% em janeiro.
Suave no universo total da pesquisa, a queda se revela abrupta na parcela dos entrevistados cuja renda familiar é maior do que 12 salários mínimos. Nesse tipo de divisão, a FGV divulga o saldo, que é a diferença entre a proporção de consumidores que acham que a situação está melhor e a dos que a consideram pior.
Em dezembro, o saldo na fatia cuja renda varia entre 12 e 20 salários mínimos era de 39,9 pontos percentuais. Caiu para 28,9 em janeiro. Na faixa de renda familiar acima de 20 salários mínimos caiu de 35,7 pontos percentuais em dezembro para 18,9 em janeiro.
Para o professor da Escola de Pós-Graduação e Economia da FGV Fernando de Holanda, a pesquisa mostra que o consumidor avalia que 2005 não será tão “exuberante” economicamente quanto o ano passado.
A pesquisa da FGV vai ao encontro das conclusões do levantamento trimestral do Provar/USP (Programa de Administração de Varejo): o índice de consumidores que têm a intenção de comprar a prazo caiu de 60%, no início de 2004, para 35%.
Em relação ao presente, todos os indicadores da pesquisa da FGV são positivos. Mais do que isso, são recordes. Do total de entrevistados, 24,7% consideram que a situação do país está melhor do que há seis meses, o maior índice da série. Já 15,3% acham que está pior, o menor índice desde que a pesquisa teve início.
O consumidor também mostra confiança em relação à situação da sua família -21,3% avaliam que ela está melhor do que há seis meses. Mais uma vez é a maior da série. E 12% consideram que ela está pior, o menor índice da história do levantamento.

Folha Online
3/2/2005