Istoé: Bravo, Montezemolo!
09/01/2009
Ele tirou o grupo Fiat da maior crise
de sua história. E agora vem ao Brasil
com R$ 2,6 bilhões para investir em tecnologia e novos produtos
Por Darcio Oliveira
Um bolo de dois metros de altura e um parabéns a você entoado por um coro de 4 mil vozes esperam Luca Cordero Di Montezemolo na fábrica da Fiat em Betim (MG) nesta terça-feira 28.
O presidente mundial do grupo italiano vai aproveitar sua passagem pelo Brasil para comemorar com todos os funcionários locais os 30 anos da filial, a mais importante da corporação. Montezemolo não podia faltar à festa. Sob sua gestão, o grupo italiano saiu de uma crise profunda que quase o levou à lona. Em 2005, lucrou 1, 4 bilhão de euros ante prejuízo de 1,5 bilhão no ano anterior. Há duas semanas, o mercado comprovou a recuperação: o valor das ações da Fiat mundial chegou a 10 euros, marca que não se via desde 2002. No Brasil, a montadora, que em 2004 amargava prejuízo de R$ 400 milhões, virou 2005 com lucro de R$ 511 milhões. E como em festa que se preze não pode faltar presente, Montezemolo trará o seu: a aprovação de um investimento de 1 bilhão de euros (R$ 2,6 bilhões) no Brasil para os próximos quatro anos.
O capo não revelou detalhes, mas o dinheiro servirá para modernização industrial, tecnologia e lançamento de produtos. Quem sabe o Panda, veículo compacto que ganhou o prêmio de carro do ano na Europa? Ou o Punto, a redenção da Fiat, carro mais vendido na Europa em janeiro e fevereiro de 2006? O que sabe mesmo é que Montezemolo, advogado formado em Roma e pós-graduado em Nova York, chega ao País com credenciais de herói da indústria. Ele, que já havia triplicado as vendas da Ferrari entre 2003 e 2005, agora leva no currículo o resgate do maior grupo empresarial italiano. “A Fiat voltou com tudo”, diz o executivo.
R$ 511 milhões foi o lucro da Fiat do Brasil em 2005. No ano anterior, havia registrado R$ 400 milhões de prejuízo. A virada se deve ao sucesso de novidades como o Idea
Montezemolo ficará uma semana no Brasil. Chega na segunda 27, em Belo Horizonte, com uma delegação de mais de 150 empresários italianos – sem contar o staff de 30 pessoas, entre secretárias, assessores e seguranças que o acompanham em suas “turnês” internacionais. É que além de presidente mundial da Fiat e da Ferrari, ele também comanda a Cofindustria, a poderosa entidade que reúne o empresariado italiano. O objetivo da missão é estreitar os laços comerciais com o Brasil. “A Itália é a pior economia de uma Europa que já vai mal. Precisamos de alternativas”, diz Montezemolo. O primeiro encontro será com empresários mineiros na sede da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). Em seguida, a equipe italiana parte para São Paulo, em reunião na Fiesp. O capo da Fiat quer mostrar que o Brasil representa uma grande oportunidade. E dá como exemplo a própria filial de seu grupo.
Por aqui, além da Fiat Auto, todas as demais divisões (Comau, CNH, TecSid, Iveco, Marelli) estão operando no lucro e crescendo ano a ano. No mundo, a situação é parecida, com exceção da Fiat Auto, que ainda registrou prejuízo de 183 milhões de euros em 2005. O rombo era de 852 milhões de euros um ano antes.
“Talvez a grande virtude de Montezemolo tenha sido saber escolher as pessoas certas para mudar a história da Fiat”, afirma Cledorvino Belini, presidente da Fiat do Brasil. Entre as pessoas certas, há uma em especial que desfruta da total confiança do chefe: Sergio Marchionne. Juntos, Montezemolo e Marchionne delinearam o plano de recuperação do grupo. A situação era dramática: 17 trimestres consecutivos de prejuízo e dívidas que ultrapassavam os 9 bilhões de euros. O principal problema estava mesmo na divisão de automóveis. Era preciso mudar a forma de vender carro, privilegiando margem de lucro em vez de volume. Isso só seria possível com novos veículos, mais modernos e de grande qualidade, para consumidores de maior poder aquisitivo. Foi o que dupla fez (leia box).
No Brasil, mercado totalmente diferente da Europa, Montezemolo deixou o barco andar. A filial precisava apenas de pequenas e precisas alterações como, por exemplo, mergulhar de cabeça no bi-combustível. Ela foi a primeira a fazer carros 1.0 flex (Mille, Siena e Palio). Estourou a banca. Também entrou em um novo segmento, o de minivans, com o Idea, e apresentou ao Brasil uma nova categoria: a linha adventure, de off-roads. O resultado de tudo isso é a reversão do prejuízo em lucro e aumento de participação de mercado de 23,6% para 25%. “Em 2005, a Fiat conseguiu a liderança porque, melhor do que as outras, desenvolveu uma gama de produtos sob medida para o gosto dos brasileiros”, afirma Conrado Capellano, diretor da consultoria Roland Berger. Além disso, o fato de ter uma única fábrica totalmente integrada, com 4 linhas de montagem e seis plataformas, deu ampla vantagem de custos em relação aos concorrentes Ford, GM e Volks que têm mais de uma planta no Brasil. Montezemolo tem razões de sobra para comemorar os 30 anos da Fiat.
Colaborou Rosenildo G. Ferreira
OS SEGREDOS DO CAPO
Reuters
Ao lado de Sergio Marchionne, Montezemolo delineou o plano de resgate da Fiat. Eis os principais pontos:
• Grande parte das perdas do grupo vinham da divisão de automóveis. Era preciso mudar a forma de vender carro. Primeiro ponto: privilegiar margem de lucro em vez de volume. O resultado imediato foi queda de 15% do volume de vendas na Europa e 10,2% no resto do mundo – excluindo-se o Brasil (que registrou aumento de 12,9%). Menos carro, no entanto, significou mais dinheiro. A Fiat Auto conseguiu reduzir o prejuízo de 852 milhões de euros em 2004 para 183 milhões em 2005.
• O segundo ponto foi justamente lançar carros que mudassem a imagem da companhia. O marketing da Fiat sempre foi preço e versatilidade. Era preciso mostrar que os carros tinham qualidade também. Três modelos contribuíram para a nova estratégia: Panda, Punto e o sedan Croma, além de novidades na linha Alfa Romeo e Lancia.
• Montezemolo e Marchionne também lançaram mão de demissões para estancar a sangria financeira. E com a redução do volume de vendas foi obrigada ainda a dar seguidas férias coletivas para o pessoal de fábrica.
• Com a operação ajustada, faltava apenas renegociar a dívida, que somava 9,4 bilhões de euros em dezembro de 2004. A Fiat vendeu algumas empresas, aproveitou o dinheiro pago pela GM para se desligar da parceria com ela (1 bilhão de euros) e converteu as pendências com bancos credores em ações. Em dezembro passado, a dívida caiu para 3 bilhões de euros.
Fonte:
Istoé dinheiro