Internacionalização e as empresas de menor porte
09/01/2009
Nos últimos meses, as empresas espanholas têm ocupado o noticiário nacional. No leilão pela concessão das rodovias federais, a empresa OHL arrematou cinco dos sete trechos oferecidos, a também espanhola Acciona levou outro trecho e apenas um ficou em mãos de um consórcio de empresas brasileiras. No setor financeiro, ocorreu a compra do banco ABN/Real por um consórcio do qual faz parte o Santander e o banco se colocou em terceiro lugar no ranking brasileiro.
Se por um lado, a investida das empresas espanholas na América Latina tem sido amplamente debatida, do outro lado do Atlântico, os pesquisadores e responsáveis pela política econômica do país se preocupam com a sustentabilidade do desenvolvimento espanhol. Observam que a produtividade da Espanha é mais baixa (cerca de 20%) do que a média da produtividade dos países da União Européia (UE), embora o número de horas trabalhadas seja superior.
Entre as causas se destacam: a fraqueza do sistema de inovação, os baixos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, a baixa qualificação dos recursos humanos e os fracos laços entre empresas, universidades e instituições públicas.
Questionam o fato de o desenvolvimento estar ancorado em um grupo seleto de grandes empresas, com baixa participação das pequenas e médias empresas (PME) no processo de internacionalização e no sistema de inovação do país. Estas PME representam mais de 99% das empresas espanholas e embora sejam as maiores empregadoras, vêm diminuindo de importância para o Produto Interno Bruto (PIB) daquele país, destas apenas 10% exportam. Três fatores são considerados chaves para melhorar a competitividade destas empresas: o investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e inovação, a internacionalização e a criação de mecanismos de cooperação entre elas.
Já no caso da Itália, o cenário é diferente: as pequenas e médias empresas são responsáveis por um terço das exportações do país (chegam a exportar cerca de 50% de sua produção). São empresas inovadoras, que interagem por meio de redes de cooperação industrial, exportando produtos de alto valor agregado.
No caso brasileiro estamos mais próximos da Espanha do que da Itália. Os estudos realizados pelo Sebrae mostram que embora as grandes empresas representem apenas 9% das companhias exportadoras, elas são responsáveis por 77% do valor das exportações do País. O movimento de entrada e saída do mercado internacional das pequenas e mesmo das médias empresas é grande, mostrando que esta ainda é uma aventura arriscada.
Na pauta das exportações destas empresas predominam produtos manufaturados e semimanufaturados, intensivos em mão- de-obra; os produtos com uso mais intensivo em P&D têm uma participação muito reduzida. E são produtos que se destinam a mercados pouco dinâmicos.
Olhando este segmento, sob uma óptica diferente, acabei de concluir um estudo, com a pesquisadora , Ana Siqueira, sobre pequenas empresas de serviço no Brasil e o uso de tecnologia de informação (TI), com uma base de dados do IBGE.
Analisando os resultados de 125 mil casos observamos que as empresas que usam serviços de TI para desenvolver seus negócios alcançam maior produtividade nos seus empreendimentos. Quando o empresário , além da formação técnica, fez cursos em gestão de empresas a produtividade do negócio aumenta ainda mais. Para esquentar os dados “frios” do IBGE , resolvi fazer entrevistas para entender melhor esses resultados. Pesquisei escritórios de contabilidade, de pequeno porte, com idade semelhante , atuando em segmentos próximos, porém com faturamento e produtividade bem diferentes.
Foi interessante observar, in loco, as diferentes estratégias adotadas pelos empresários: Todos os escritórios precisam ter funcionários tecnicamente confiáveis, mas têm dificuldades em retê-los pois as pessoas, depois de um período inicial, aprendendo, preferem ir para um grande escritório, que paga mais ou ainda abrir o seu próprio negócio.
A saída dos escritórios que estão com melhor performance é investir em tecnologia de informação e na própria qualificação do empresário e dos funcionários. Com isto estão abrindo novas frentes, crescendo e mesmo se internacionalizando; ao acompanhar clientes para o exterior, por exemplo, se internacionalizam também (um deles já tem um sócio em Miami). A estratégia dos escritórios de menor produtividade, menor faturamento é investir o mínimo em TI e procurar contratar pessoas mais idosas, menos atrativas para o mercado de trabalho, porém “de confiança”.
Olhando assim o tecido empresarial brasileiro observamos como é necessário investir nestas empresas e trabalhar políticas adequadas para o seu desenvolvimento. Se as verde-amarelas empresas multinacionais brasileiras, assim como as amarelo-vermelhas espanholas brilham em outros territórios, do lado de cá é preciso fomentar o empreendedorismo, a criação de novos negócios, o incentivo a inovação, a profissionalização das pequenas e médias empresas.
kicker: Estudo mostra que pequenas que usam TI vão melhor em seus negócios
Fonte:
Gazeta Mercantil
Maria Tereza Leme Fleury
Professora da FEA/USP e FIA.