Inflação no país já é inferior a de 11 países emergentes

09/01/2009

A história de que a inflação brasileira é uma das mais altas entre os países emergentes começa a deixar de ser verdade. Nos 12 meses terminados em junho, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 4%, mais baixa que a de 11 entre 27 emergentes acompanhados pela “The Economist” e muito próxima aos 3,9% registrados por três integrantes desse grupo.

Um ano antes, o Brasil tinha a quinta inflação mais alta desse grupo, de 7,4%, a mesma da Indonésia. Com base nas previsões do mercado de que o IPCA vai ficar em 3,74% neste ano e em 4,5% no ano que vem, o quadro positivo para os índices de preços deve continuar nos próximos 18 meses.

A valorização do câmbio, a queda dos preços agrícolas e o comportamento favorável dos preços administrados derrubaram a inflação brasileira a partir do segundo trimestre de 2005 para níveis bastante baixos. Os 4% acumulados nos 12 meses terminados em junho são muito próximos da inflação registrada no Chile e na Malásia no período (3,9%).

O economista-sênior para a América Latina do Dresdner Kleinwort, Nuno Camara, lembra que, nos últimos meses, diversos países emergentes tiveram de absorver o impacto do aumento dos preços do petróleo, e alguns sofreram com a desvalorização de suas moedas (a Turquia viu sua inflação acumulada em 12 meses pular de 7,7%, em dezembro de 2005, para 10,1% em junho deste ano). Outros países, porém, conseguiram derrubar a inflação no período, como o Brasil. No México, o IPC recuou de 4,3% para 3,2%.

Com cenário inflacionário bastante benigno, o BC brasileiro continuou a cortar os juros num momento em que a tendência global é de aperto monetário. Uma diferença importante, porém, é que os juros no Brasil estavam em níveis muito mais elevados, como nota o economista-chefe do JP Morgan, Fábio Akira. Mesmo depois da queda de cinco pontos percentuais da taxa Selic desde setembro de 2005, para 14,75% ao ano, os juros reais continuam próximos a 10%, bem acima dos 2% a 3% registrados pela maior parte dos emergentes.

Nos próximos anos, o desafio do país é consolidar a inflação na casa de 4% a 4,5%, mas com juros reais declinantes. Camara considera esse cenário factível, prevendo IPCA de 3,5% neste ano, ainda que haja aumento de 8% a 10% no preço da gasolina. Para 2007, ele estima inflação de 4,1%.

Camara e Akira apontam a solidez das contas externas como um fator-chave para que o país possa conjugar uma inflação estruturalmente menor com juros reais mais civilizados. O raciocínio é que o câmbio flutua menos quando pioram as condições no cenário externo, devido ao superávit em conta corrente e a dívida externa mais baixa. Foi o que se viu na turbulência internacional ocorrida em maio. O dólar bateu em R$ 2,40, mas a alta logo perdeu força, abrindo espaço para o BC voltar a comprar a moeda no mercado. Ontem, fechou em R$ 2,203. A avaliação predominante é de que o risco de uma crise internacional pressionar o câmbio e provocar um surto inflacionário – como no fim de 2002 – diminuiu muito.

“Essa mudança nas contas externas permite ao BC testar níveis de juros reais mais baixos com muito mais segurança”, diz Akira. Depois de oscilar muito nos anos que se seguiram à flutuação do câmbio ocorrida em 1999, o dólar passou a ter comportamento mais estável, o que é positivo para a inflação.

Outra boa notícia é que a capacidade produtiva do país também está crescendo, como mostram os números relativos ao investimento em máquinas e equipamentos e na construção civil -a formação bruta de capital fixo (FBCF). Não há um descompasso entre oferta e demanda que possa causar pressões inflacionárias relevantes, avalia Akira. Camara estima que a FBCF vai crescer 9% neste ano.

O temor de repique inflacionário significativo é bem mais baixo. Um IPCA acima de dois dígitos – como os 11% da Argentina ou os 10,1% da Turquia, por exemplo – é uma possibilidade tida como remota pelos economistas. Um outro motivo para isso é que a inércia inflacionária se reduziu bastante, em boa parte devido aos reajustes mais baixos dos preços administrados, corrigidos em boa parte pelos IGPs. Com isso, a inflação passada deixa de contaminar com intensidade a inflação futura.

Mas há quem seja mais cauteloso na avaliação das perspectivas para os índices de preços no Brasil, como a analista Cláudia Castro, do OppenheimerFunds. Ela considera que há uma perspectiva melhor para a inflação no país, mas considera que o histórico ainda é insuficiente para apostar que os indicadores vão se consolidar na casa de 4% a 4,5%. O regime de metas inflacionárias, por exemplo, mostra compromisso forte com o combate à inflação por parte do governo, mas ainda há riscos que podem pressionar a inflação, afirma, apontando problemas no front fiscal.

Além do forte crescimento dos gastos públicos, que impulsionam a demanda, Cláudia lembra que as vinculações de receitas a despesas e a elevada carga tributária criam ineficiências na economia. Uma delas é o baixo nível de investimentos do setor público, o que compromete a capacidade de oferta do país no futuro. Ela diz ainda que a inflação brasileira costuma oscilar muito. “As pessoas se esquecem que em maio de 2003 o IPCA atingiu 17% no acumulado em 12 meses”, diz. Ela reconhece, porém, que os riscos de alta mais forte da inflação são atualmente menores. (SL)

Fonte:
Valor Online