Inflação cai à metade com ajuda do dólar

09/01/2009

A desvalorização do dólar diante do real e a normalização da oferta de produtos do setor agrícola enfraqueceram a inflação em abril. O IGP-DI, divulgado ontem pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), registrou elevação de 0,51%, contra 0,99% em março.

O recuo do IPA (Índice de Preços por Atacado) de 1,14% em março para 0,33% em abril, puxado pela deflação de 1,60% dos produtos agrícolas, foi fundamental para o resultado do indicador de preços.
“A queda do IGP-DI se explica fundamentalmente pelo recuo do IPA, que havia ficado elevado em março devido à quebra da safra agrícola”, diz Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da FGV. “O câmbio mais baixo também ajudou no resultado, principalmente na parte de insumos industriais.”

O resultado do IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna) ficou abaixo das expectativas do mercado. Segundo o boletim Focus elaborado semanalmente pelo Banco Central, a previsão era que o indicador ficasse em 0,80%.
A desaceleração nos preços do atacado tende a gerar menor pressão futura para o consumidor. Por enquanto, isso não ocorreu. A inflação medida pelo IPC (Índice de Preços ao Consumidor) subiu de 0,70% em março para 0,88% em abril.

Hoje, será conhecido o resultado do IPCA de abril. Se o indicador trouxer surpresas, como o IGP-DI, poderão crescer as expectativas de que o Copom (Comitê de Política Monetária) mantenha inalterada a taxa básica de juros nos atuais 19,50%. O IPCA é o índice que baliza a política de metas de inflação. O Copom se reúne na próxima semana para definir como ficam os juros.

Para Maristella Ansanelli, economista-chefe do banco Fibra, o dólar baixo e o cenário de acomodação da atividade econômica aumentam as chances de o ciclo de altas dos juros básicos ter chegado a seu fim.

Pressão passageira
A economista afirma que as expectativas para o IPCA em 12 meses devem aparecer menores no Focus da próxima semana, devido à própria metodologia de cálculo do dado. “O câmbio também está muito baixo, o que favorece a concretização do fim do ajuste de alta”, avalia Ansanelli.

Apesar da alta de ontem, o dólar tem desvalorização acumulada de 2,17% no mês. No ano, a baixa da moeda chega a 6,78%.
“Se o dólar permanecer baixo, poderemos ver ainda influência positiva dessa tendência na inflação deste mês também”, afirma Jorge Simino, sócio-diretor da MS Consulting.

Conservador
Maurício Oreng, economista do Unibanco, afirma que é bom ter cautela, pois o “BC pode interpretar o atual nível do dólar como algo temporário”. “Trabalhamos ainda com uma expectativa de que a Selic seja elevada em 0,25 ponto percentual na próxima reunião do Copom. A ata da reunião do mês passado ainda estava com uma visão bem conservadora”, diz o economista.
A piora do mercado internacional ontem pode, se prosseguir nos próximos dias, influenciar o BC em sua decisão. Ontem, os juros futuros já subiram um pouco, e o dólar voltou a ser vendido a R$ 2,47 -depois de bater em R$ 2,45 no início da semana.
Na opinião de Roberto Padovani, da consultoria Tendências, “há espaço para o BC elevar a Selic em 0,25 ponto percentual”. “Mas achamos que o ciclo de alta deve ser interrompido já nesta reunião”, diz Padovani.

Folha Online
FABRICIO VIEIRA
11/5/2005