Indústrias reduzem demanda por crédito

09/01/2009

Pedidos de empréstimo ao BNDES, termômetro do nível de investimentos no país, caem 12,4% no 1º trimestre em relação a 2004

Termômetros do nível de investimentos no país, os pedidos de empréstimo ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e a produção de máquinas e equipamentos mostram que os empresários estão menos dispostos a investir.
As consultas de empresários do setor industrial que pretendem tomar empréstimos do BNDES caíram 12,4% no primeiro trimestre deste ano sobre o mesmo período de 2004. Nos três primeiros meses do ano passado, os pedidos somaram R$ 11,157 bilhões, contra R$ 9,779 bilhões de janeiro a março deste ano, segundo dados do banco obtidos pela Folha.

Já a produção de bens de capital para fins industriais (máquinas e equipamentos usados pela indústria), que de maio a agosto do ano passado vinha crescendo a taxas na casa de 20%, desacelerou. Cresceu 1,65% em janeiro e 11,01% em fevereiro na comparação com iguais meses de 2004, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Os sucessivos aumentos dos juros desde setembro de 2004 seriam os responsáveis pela perda de fôlego relativa da produção de bens de capitais e da procura por crédito do BNDES, segundo economistas. Já em setembro de 2004, houve desaceleração na produção de bens de capital.

Divergência
O BNDES, entretanto, não vê desaquecimento. O banco informou neste mês, quando divulgou seu “Boletim de Desempenho”, que a queda ocorreu porque em janeiro de 2004 houve procura atípica por financiamentos à exportação, que não se repetiu neste ano. Ao todo, os pedidos de crédito recuaram 19,9% no primeiro trimestre de 2005 -de R$ 21,155 bilhões para R$ 16,952 bilhões.

Para Guilherme Maia, economista da Tendências Consultoria, os juros mais altos reduziram a disposição dos empresários de investir, o que explica a retração dos pedidos de empréstimo, ainda que as taxas dos financiamentos não tenham se alterado.
Ele ressalta, porém, que a freada na produção de bens de capital também “reflete uma acomodação depois de um período de forte crescimento” e um arrefecimento do consumo. Maia acredita que no segundo semestre a produção de máquinas e equipamentos volte a crescer, o que deve assegurar alta de cerca de 9% neste ano nos investimentos na economia.

Com isso, o economista projeta que a taxa de investimento (gastos em máquinas, equipamentos e construção civil em relação ao valor do PIB) ficará em 20,6% do PIB. É mais do que os 19,6% do ano passado. Mas, para sustentar um crescimento de 4% do PIB, o país precisa de uma taxa na casa de 23%, dizem economistas.

Para João Sicsú, professor do Instituto de Economia da UFRJ, a política econômica do governo está “desarticulada” e “descoordenada”, o que provocou a desaceleração dos investimentos e do nível de atividade econômica. Ele aponta que há uma política de crédito “expansionista”, oposta a uma política monetária “contracionista”. “O BNDES bota o pé no acelerador, o BC pisa no freio.”

Setores
No primeiro trimestre, o BNDES registrou queda nas consultas de setores como refino de petróleo (94,2%) e equipamentos de transporte -65,8%. Importante ramo na carteira de crédito do banco, a metalurgia (siderurgia), praticamente manteve o mesmo ritmo de pedidos de financiamento do primeiro trimestre do ano passado.

Folha de S.Paulo
PEDRO SOARES
06/05/2005