Indústria começa o ano em ritmo lento e culpa os juros

09/01/2009

Setores de embalagens de papelão, aço e plásticos registram quedas em janeiro

A indústria, que virou o ano com estoques acima do previsto, começou 2005 tirando o pé do acelerador. Dados preliminares de setores que funcionam como termômetro da economia – aço, embalagens de papelão ondulado, plástico e automotivo – apontam queda nas vendas em janeiro.

No caso do aço, as vendas caíram cerca de 8% em relação a janeiro de 2004. Para o papelão ondulado, a queda pode ser de 7% ante dezembro e 14% ante janeiro do ano passado. Os empresários atribuem a desaceleração à expectativa negativa causada pelas altas das taxas de juros iniciadas em setembro.

Uma das maiores empresas de embalagem papelão ondulado do país, a Orsa Embalagens relata queda de 7% nas vendas em janeiro ante dezembro. “Isso é um absurdo”, diz Sérgio Amoroso, presidente do Grupo Orsa. Ele diz que janeiro costuma ser mais forte que dezembro por causa da recomposição de estoques. Em relação a janeiro de 2004, a queda fica entre 12% e 14%. “A economia vive um momento de expectativa negativa por conta da forte alta dos juros”, afirma Amoroso.

As empresas especializadas na transformação de material plástico também relatam um quadro menos otimista. Segundo Merheg Cachum, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Plástico (Abiplast), dados preliminares indicam queda de 15% a 20% nas vendas em relação a dezembro. “Os juros em alta e o dólar se valorizando são sinais muito ruins para a economia”, afirma Cachum.

De acordo com Carlos Loureiro, diretor-presidente da Rio Negro, distribuidora do grupo Usiminas, está havendo uma “desaceleração razoável” nas vendas de aço. Apesar de ainda não haver dados consolidados, ele acredita que seu setor registrou queda de cerca de 8% nas vendas em janeiro sobre mesmo período do ano passado.

Mas Loureiro atribuiu as menores vendas de aço ao acúmulo de estoque por parte da indústria, que comprou mais do que o necessário, temendo novas altas de preço. Alguns derivados de aço chegaram a subir 70% em 2004. “O mercado comprou muito no segundo semestre e isso será digerido no primeiro trimestre desse ano”, diz Loureiro. Na sua opinião, os dados de 2004 evidenciam a maior estocagem. O consumo aparente de aço aumentou 19% em 2004, enquanto o usual seria um aumento entre 12% e 15% dado o provável crescimento de 5% do PIB.

A produção industrial de dezembro ainda não foi divulgada, mas os analistas acreditam que houve alta em relação a novembro, na série livre de influências sazonais. No último mês de 2004, indicadores antecedentes, como a produção de veículos, o fluxo de caminhões nas rodovias e a expedição de papelão ondulado mostraram expansão. O Credit Suisse First Boston (CSFB), por exemplo, estima crescimento de 0,8% em dezembro em relação ao mês anterior. Para janeiro, um dos poucos indicadores consolidados divulgados até agora foi a produção de veículos.

Em janeiro, o licenciamento de carros de passeio e comerciais leves somou 99.671 unidades. Na comparação com dezembro houve queda de 41% . Mas em relação a janeiro de 2004, a retração foi de 1,3%. “Acredito que fevereiro virá mais ou menos no mesmo ritmo, mas em março as vendas mensais voltarão às médias de 110 mil a 115 mil unidades do segundo semestre do ano passado”, afirma Paulo Kakkinoff, gerente de marketing da Volkswagen.

Segundo o executivo, o resultado do primeiro mês do ano, já esperado, não serve para alterar a previsão de crescimento das vendas em 2005. A Volks segue a previsão da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) de crescimento de 4% nas vendas.

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Paulo Saab, também está cautelosamente otimista em relação ao desempenho do setor. As vendas em janeiro foram iguais ou pouco abaixo do que em mesmo mês de 2004. Se o PIB crescer 4% a 4,5%, ele considera possível um aumento de 6% nas vendas. Uma boa notícia para o setor é o comportamento do crédito, mesmo num cenário de aumento dos juros básicos.

Outro importante indicador de nível de atividade mostrou estabilidade em janeiro. Segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a carga de energia no Brasil foi 45.328 megawatts médios, o que representou crescimento de 0,9% em relação a dezembro. (Colaboraram Marli Olmos, de São Paulo, e Claúdia Schüffner, do Rio)

Valor Economico online
Raquel Landim e Sergio Lamucci De São Paulo
3/2/2005