Índices reforçam projeções para o PIB

09/01/2009

São Paulo, 28 de Março de 2005 – As exportações surpreendem positivamente, enquanto o aumento do desemprego assusta. Os resultados apresentados até agora para o primeiro trimestre do ano e as perspectivas para os próximos meses reforçam as projeções daqueles que esperam uma expansão menor para 2005, em relação ao ano passado.

Surpresas positivas, como o ritmo forte das exportações, apesar do câmbio desfavorável, ou resultados negativos, a exemplo do desaquecimento do mercado de trabalho observado em fevereiro, acabam por equilibrar o compasso do crescimento da economia que, mantida as estimativas dos principais agentes econômicos, deverá fechar o ano em 3,5%.

Considerado um termômetro da economia, o setor de papelão – a embalagem das embalagens – vem registrando nesse início de ano um comportamento típico de uma economia que cresce de maneira desigual, segundo a avaliação de fabricantes.

Em fevereiro, as vendas de papelão ondulado totalizaram 155 mil toneladas, um crescimento de 0,6% em comparação ao mesmo mês de 2004. Em janeiro, as vendas foram 2,5% superiores ao mesmo mês do ano passado.

O setor acumula crescimento de 1,5% no primeiro bimestre de 2005 com vendas 316,4 mil toneladas, de acordo com dados da Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO).

Para o presidente do Grupo Orsa, Sergio Amoroso, no ano passado o faturamento do setor registrou uma expansão de 12%, aproximadamente duas vezes e meia o valor do Produto Interno Bruto (PIB), que foi de 5,3%. “Essa é a proporção histórica do setor em relação ao PIB e, quando se confirma, sinaliza que todos os segmentos da economia estão evoluindo por igual. Este ano não deveremos repetir esse desempenho”, disse.

A Orsa planeja crescer em 2005 entre 4% e 5%, o que deverá ficar em linha com o setor. Numa proporção bem menor, portanto, quando comparada com um PIB nacional esperado de 3,5%. “Se a economia estivesse aquecida eu já teria fechado os pedidos para primeira dezena de abril. Faltam ainda 40%”. Os principais clientes da empresa são a indústria de alimentos, higiene e limpeza e produtos agrícolas para exportação.

Na avaliação do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), ligado ao Ministério do Planejamento, os sinais contraditórios da economia indicam que há um crescimento contínuo, mas lento.

Vendas sustentáveis

Nas palavras do coordenador do grupo de conjuntura do Ipea, Fabio Giambiagi, “deixamos de ser uma economia que vai a 80 quilômetros por hora e depois capota, para sermos uma que segue constantemente a 60 quilômetros por hora”. Neste mês o Ipea reviu para baixo a expansão do PIB, que passou de 3,8% para 3,5%, por conta da restrição da política monetária.

Para o superintendente do Instituto de Economia da Associação Comercial de São Paulo, Marcel Solimeo, o crescimento de 6,24% apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nas vendas do varejo de janeiro em relação ao mesmo mês do ano passado possivelmente irá se sustentar ao longo do ano, encerrando 2005 com expansão entre 5% e 6%.

De acordo com ele, até agora as sete altas da Selic não neutralizaram fatores favoráveis ao crescimento das vendas como a queda da inadimplência, a ampliação do crédito e o crescimento da oferta. “Mas isso tem um limite, a confiança do consumidor, que está elevada, pode ser abalada pelos dados do emprego. O desemprego afeta além da confiança, a inadimplência”, diz Solimeo.

Copom

O desempenho morno da atividade econômica foi destaque da ata do Comitê de Política Econômica (Copom) divulgada na quinta-feira. Após elevar a Selic para 19,25%, os integrantes do comitê reconhecem que os números deste ano já indicam uma retração inflacionária e a redução do nível de crescimento da atividade econômica. O que, na avaliação deles, não seria preocupante, já que o avanço mais lento é “mais condizente com as condições de oferta”.

O avanço notável das exportações brasileiras foi usado pelo Copom como contrapartida para o controle do crescimento da demanda interna. “Há sinais de que a demanda externa continua contribuindo para a expansão da economia”, diz a ata divulgada na quinta-feira passada. A constatação de que a política monetária está gerando os reflexos desejados não é, no entanto, suficiente para que o Copom sinalize de forma mais positiva com reduções na taxa básica de juros.

Tal sinalização no entanto é considerada fundamental para os setores produtivos da economia, o simples sinal de recuo já seria suficiente para melhorar as expectativas dos empresários. Até agora, especialistas e agentes econômicos consideram que o efeito da desvalorização cambial e da elevação da taxa básica de juros ainda não comprometem significativamente o desempenho econômico, apesar de o Copom considerar que os efeitos da política restritiva já podem ser notados.

“Os sinais não apareceram ainda nem sobre os investimentos, nem sobre o consumo”, diz o economista da Tendências Consultoria, Guilherme Maia. Ele se revelou positivamente surpreso com o resultado da produção industrial em janeiro, que cresceu 5,94% sobre o mesmo mês do ano passado.

Tal resultado levou a consultoria rever, para cima, o crescimento do setor, que passou de 3,5% para 4%. “Para fevereiro, com base em indicadores de antecedentes, esperamos um crescimento industrial de 0,6%.”

Renda e massa salarial em alta

Entre os setores com desempenho considerados mais satisfatórios neste início de ano estão os bens de consumo semi e não-duráveis, mais sensíveis à renda, os chamados bens de salário.

A Tendências estima que, neste ano, o rendimento médio real deverá elevar-se em 3%, a massa salarial em 6,3% e o nível de emprego, em dezembro, em 9,2%. São exemplos de bens salários alimentos, produtos têxteis, vestuário e calçados.

“Este ano será o ano dos bens salário. O setor será beneficiado pela ampliação da renda e da massa salarial resultante da recuperação do mercado de trabalho puxada pela consolidação do crescimento das exportações no ano passado”, afirma o economista da Fator Corretora, Vladmir Caramaschi.

Gazeta Mercantil/Caderno A – Pág. 4
Sandra Nascimento e Cristina Borges Guimarães
28/3/2005