Ibovespa enfrenta sua pior semana desde julho

06/09/2008

SÃO PAULO – Derrocada das commodities e preocupantes dados econômicos deram a tônica de uma das piores semanas aos mercados financeiros globais no ano. Não faltaram ocorrências para incitar um forte clima de aversão ao risco, alimentando a alta do dólar frente as principais divisas de referência do mundo e a força vendedora nas bolsas e nos mercados de matérias-primas.

Antes motivo de alívio, visto como ajuste frente à recente disparada, o forte recuo nas commodities, ao invés de aliviar preocupações quanto as tensões inflacionárias em âmbito global, passa a preocupar por conta da percepção de arrefecimento do consumo, resposta ao delicado momento pelo qual passam importantes economias.

Em paralelo, potências como Europa, EUA e Japão colecionaram fracos indicadores econômicos. Foi neste cenário que, embalado pelas perdas externas, o Ibovespa, principal índice de ações da BM&F Bovespa, registrou seu pior desempenho semanal desde a primeira semana de julho deste ano, enquanto o mercado cambial assistiu a uma disparada do dólar comercial frente ao real.

EUA e o trabalho

A segunda semana de setembro começou sem a referência dos mercados norte-americanos, fechados em função do feriado local de Dia do Trabalho. Ironicamente, foi o Departamento do Trabalho que selou com "chave de ouro" uma semana recheada de indicadores econômicos preocupantes. O Employment Report referente a agosto mostrou a perda de 84 mil postos de trabalho, resultado pior do que apontavam as projeções de analistas. Mas foi a taxa de desemprego em 6,1%, a maior em duas décadas, que surpreendeu negativamente os investidores.

Na véspera, os fracos Initial Claims e ADP Employment já prediziam a deterioração do mercado de trabalho da maior economia do mundo. A agenda da semana ainda trouxe um ISM Index e um Construction Spending modestos, além do satisfatório Factory Orders, índices estes que em quase nada amenizaram o mau humor dos mercados.

Na Europa, o calendário econômico também acionou o alerta entre os investidores e foi um dos responsáveis da derrocada das bolsas por lá.

A cena internacional trouxe ainda novas ocorrências negativas no setor financeiro, com rumores de necessidade de capitalização do Barclays e desdobramentos da crise que assombra o Lehman Brothers. Em complemento, estiveram em evidência os fracos resultados trimestrais da varejista Staples e o bem recebido volume de vendas da gigante Wal-Mart.

Também veio de fora a derrocada dos mercados de commodities, em especial as energéticas, acompanhando a perda de força do furacão Gustav no Golfo do México. Ainda que no final da semana a oscilação dos contratos ficou menos volátil, no saldo semanal o que se viu foi dura perda à cotação dos materiais básicos nas praças financeiras internacionais.

Por aqui, olhos na inflação e nas blue chips

A ponte entre a esfera externa e doméstica vem justamente do mercado de commodities. Entre os destaques internos da segunda semana de setembro, estiveram os rumores quanto à possível negociação de ajuste adicional nos preços do minério de ferro ofertado pela Vale (VALE5 , VALE3) e o início da exploração da área do pré-sal em Tupi pela Petrobras (PETR4, PETR3).

O front corporativo contou ainda com a confirmação do pedido de oferta pública secundária de ações da VisaNet junto à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e com o anúncio da integração entre Construtora Tenda e Gafisa, que rendeu forte variação às ações de ambas as empresas.

Na agenda econômica, ficou para o final da semana o dado mais aguardado. Confirmando a recente tendência de menor alta dos preços, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), medida oficial da inflação doméstica, registrou variação de 0,28% em sua medição de agosto, inferior não só ao resultado de julho, mas também à mediana das projeções compiladas pelo último relatório Focus.

As variações

Os quatro pregões de forte queda na semana renderam ao Ibovespa desvalorização de 6,72% no período, levando o índice de volta aos 51.939,6 pontos. No mercado de câmbio, o dólar comercial disparou 5,2% na semana, cotado a R$ 1,72.

No mercado de juros futuros, o contrato com vencimento em janeiro de 2010, que vem apresentando maior liquidez, projetou taxa de 14,73% na sexta-feira, alta de 0,09 ponto percentual diante do valor do final da semana passada. Já a taxa anual do CDB pré-fixado de 30 dias fechou a 12,90%, estável na passagem semanal.

Agenda para a segunda semana de setembro

Recheado de ocorrências de peso, o calendário econômico da segunda semana de setembro pede atenção à decisão do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), programada para a noite de quarta-feira. No mesmo dia, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgará o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro no segundo trimestre do ano.

No front internacional, merecem destaque o índice de vendas ao varejo norte-americano, Retail Sales, e o PPI (Producer Price Index), indicador que mede a inflação ao produtor dos EUA. Ambos referentes ao mês de agosto.

Fonte:
Info Money