HSBC confirma venda de operações no Brasil
10/06/2015
O HSBC informou na manhã desta terça-feira (9) que continua operando normalmente no Brasil e que manterá no futuro os serviços aos clientes. Em nota, o banco confirmou que está em processo de venda de ativos e não de encerramento de suas operações no país. O HSBC Holdings confirmou, em Londres, que pretende vender a sua operação no país, mas planeja manter presença para atender aos clientes corporativos de grande porte em suas necessidades internacionais. O cenário mais especulado, agora, é que a quinta maior empresa do sul, segundo o ranking GRANDES & LÍDERES – 500 MAIORES DO SUL, publicado por AMANHÃ em parceria com a consultoria PwC, seja comprado pelo Bradesco (BBDC3; BBDC4). O banco teria oferecido o maior valor pela operação, de até R$ 14 bilhões, conforme noticiou a Bloomberg. Além de suposições sobre um possível comprador, expectativas sobre o impacto da operação no setor não podem ser descartadas. Afinal, em jogo, estão quase R$ 168 bilhões em ativos e um patrimônio líquido de R$ 9,732 bilhões (veja tabela ao final da matéria). Diante dos anseios por respostas, o InfoMoney traçou quais os possíveis cenários e impactos no setor após a compra bilionária. O que se sabe até o momento é que o Goldman Sachs, contratado para assessorar o HSBC, tem até agosto para finalizar a venda, mas o nome do comprador deve sair ainda esse mês.
Se o Bradesco adquirir o HSBC, o que isso representará para o banco?
Pagando entre R$ 10 bilhões e R$ 14 bilhões pelo HSBC, a compra ajudaria o Bradesco a se aproximar do segundo colocado em ativos, o Itaú Unibanco (ITUB4), já que ele totalizaria R$ 1,18 trilhão em ativos – enquanto o Itaú conta com R$ 1,3 trilhão. O Banco do Brasil (BBAS3) é o maior, com R$ 1,54 bilhão, enquanto o HSBC é apenas o sétimo, segundo dados dos balanços das próprias empresas. Mas, além da oportunidade de ficar mais próximo do maior concorrente, a aquisição teria especial importância em termos de sinergias que podem trazer ao banco. Para analistas, o Bradesco tem mais sinergias a extrair do processo do que o Santander (SANB11), que é o segundo banco mais provável de comprar o HSBC. A oportunidade que se abre para o Bradesco é de incorporar rapidamente os clientes sem trazer 100% dos custos que o HSBC tem atualmente. O HSBC tem atualmente 853 agências no país, mas não seria exatamente isso que os bancos estão de olho, segundo o analista Pedro Galdi, da blog Whats Call Research. "O que os bancos querem é comprar a carteira de clientes. Agência nenhum deles precisa", revela.
As expectativas sobre o Bradesco aumentaram depois que fontes disseram, além do valor da oferta, que o banco teria mais facilidade de integrar os ativos do HSBC Holdings e de obter aprovação do governo do que um banco estrangeiro, como o Santander, que também fez uma oferta, mas algo entre R$ 9 bilhões e R$ 10 bilhões. O Itaú, entre os três, que teria feito a menor oferta de R$ 8 bilhões, no piso do mercado. "O Itaú estaria no páreo apenas para pressionar o preço e deixar a concorrência pegar fogo", cogita João Augusto Frotta, analista da Lopes Filho. Para o Deutsche Bank, o HSBC pode ser avaliado a múltiplos parecidos com os do Santander Brasil ou do BB, a 1,3 vezes o patrimônio líquido, o que equivaleria a algo em torno de R$ 10 bilhões e R$ 14 bilhões – dentro da possível faixa ofertada pelo Bradesco. Ou seja, o preço é avaliado como "justo". O banco, no entanto, declarou em nota na semana passada, quando começaram a pipocar informações sobre sua oferta, que desconhece essa informação, mas que está "continuamente analisando oportunidades de operação que estejam alinhadas com sua estratégia de crescimento".
E se o Santander ganhar a disputa?
A segunda hipótese recai sobre o Santander – que teria apresentado um valor menor do que o Bradesco e encontraria maiores dificuldades para obter aprovação do governo. Contudo, para os analistas, a operação faria sentido pelo fato do banco já ter demonstrado interesse em crescer no Brasil. Em meados de maio, o banco falou que faria uma oferta de compra da unidade do HSBC no país e que teria condições de absorver uma operação desse porte, conforme destacado pelo presidente-executivo do banco espanhol no Brasil, Jesus Zabalza. "Um banco com patrimônio de cerca de US$ 4 bilhões para um nível de capital como o nosso é assumível", disse. Em relatório, analistas do Deutsche Bank destacaram que, embora a unidade do HSBC no Brasil seja relativamente pequena, com apenas 2% de participação no mercado de ativos, a avaliação é de que a aquisição poderia adicionar valor para qualquer outro banco que pretendesse aumentar a sua presença por aqui, tais como Santander, BTG Pactual, Citibank e talvez Inbursa. A carteira de crédito do HSBC é composta principalmente por empréstimos comerciais (70% do total), enquanto empréstimos a pessoas físicas correspondem a 22% – os 8% restantes são de hipotecas.
Reação na Bolsa
Para um analista que pediu anonimato uma vez que as informações não passam de suposições, independente de quem for o comprador, as ações do banco que vencer a disputa devem cair no dia do anúncio. Isso porque tanto Bradesco, quanto Itaú e Santander, têm operações rentáveis e estarão desembolsando um valor elevado para uma operação que roda com prejuízo. No ano passado, o HSBC registrou perdas de R$ 549 milhões em sua operação brasileira. Além disso, é importante ter conhecimento de qual é o Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) do HSBC, já que esse índice é de 24,5% no Itaú, enquanto que Bradesco está na casa de 21,5%, o que justifica serem negociados atualmente com prêmio em relação ao patrimônio líquido. “Isto é, comprar o HSBC a um múltiplo próximo ao valor de patrimônio se justifica dado que o ROE deve ser menor do que o registrado por esses bancos”, opina Celson Plácido, estrategista-chefe da XP Investimentos. Vale lembrar que a venda da subsidiária brasileira faz parte do plano global do HSBC de aumentar sua rentabilidade. Já a visão para os papéis que ficarem de fora, ou seja, que não conseguirem levar o HSBC, a expectativa é de que não sejam afetados em Bolsa. Vale mencionar que, no acumulado do ano, Itaú e Bradesco caem cerca de 3%, enquanto o Santander avança 18%.
Consequências
Em relatório do UBS que a Reuters teve acesso, analistas apontaram que, se o Bradesco vencer a disputa, poderá ter forte queda do índice de Basileia. Se o Bradesco pagasse a transação com caixa e os órgãos reguladores aprovassem o negócio rapidamente, o chamado capital de nível 1 do Bradesco poderia cair para 10,1%, ante 12,1% em março, escreveram os analistas liderados por Philip Finch em nota a clientes. O índice de Basileia, medida da força financeira a reserva de capital em relação a ativos ponderados pelo risco de um banco, deve ter piso de 11% no Brasil. O capital de nível 1, composto sobretudo pelo patrimônio líquido, é o principal componente de Basileia. Para o Bradesco atingir esse piso teria de ter uma queda de R$ 6,7 bilhões no capital. Se a aprovação demorar mais, no cenário mais provável, o Bradesco poderia acumular lucro, que o ajudaria a cobrir grande parte desse déficit, calcula a Finch. Mas, se a compra fosse aprovada no fim do ano, o déficit de capital cairia para R$ 5,4 bilhões. O Bradesco deve pagar R$ 1,6 bilhão em dividendos trimestrais este ano, disseram os analistas.
HSBC no Brasil |
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Total de ativos |
Quase R$ 168 bilhões |
Clientes |
4.603.625 |
Patrimônio Líquido |
R$ 9,732 bilhões |
Número de agências |
853 |
Operação brasileira em 2014 |
Prejuízo de R$ 549 milhões |
Funcionários |
20.448 pessoas |
Abrangência |
531 cidades |
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Fonte: Amanha.com.br