Gripe aviária afeta demanda mundial e exportação brasileira de frangos

09/01/2009

Apesar de não terem registros da doença, exportadores brasileiros temem que a queda no consumo no exterior gere um acúmulo de estoques, aumento excessivo da oferta e queda nos preços no Brasil

Por Larissa Santana
EXAME A gripe aviária não chegou ao Brasil, mas causa angústia entre alguns brasileiros – os exportadores. De acordo com a Associação Brasileira de Exportadores de Frango (Abef), a doença que vem abatendo as vendas do produto na Ásia e na Europa pode derrubar os preços no Brasil, e em pouco tempo.

O presidente-executivo da Abef, Ricardo Gonçalves, prevê que dentro de um mês os brasileiros deverão sentir nas gôndolas dos mercados os efeitos do vírus H5N1, o causador da influenza aviária. O frango, acredita ele, deve ficar mais barato no país por conta do medo de consumidores de todo o mundo de ingerir a carne e do conseqüente aumento de estoques dos produtores. Com oferta ampliada e procura reduzida, os preços no mercado internacional estão caindo, e os exportadores brasileiros terão de repassar o que não for vendido lá fora ao mercado doméstico. “O que vai acontecer é o efeito cascata. O que não for exportado vai entrar no mercado interno e produzir queda de preço”, diz Gonçalves.

Para o Brasil, hoje maior exportador da carne de frango tanto em volume quanto em receita, a solução para barrar o efeito da gripe aviária seria reduzir a produção em algo próximo de 15% durante 2006. “Essa é a primeira vez que vemos uma crise de demanda. Já tivemos excesso de oferta, mas nunca uma diminuição do interesse do consumidor”, afirma Gonçalves, que lembra que a produção menor daria maior poder de barganha aos produtores na hora da negociação do preço.

Além do medo de consumidores, o dólar também vem pesando no preço de exportação e dificultando as negociações com o mercado internacional. “Os preços no mercado internacional estão caindo, e os custos em real estão subindo”, diz o presidente da Abef. Tanto o dólar quanto a gripe devem transformar o primeiro semestre em um período de ajuste do setor, na opinião de Gonçalves: “Mas acredito que o segundo semestre será de recuperação, podemos crescer 5%”.

Exportações em janeiro

O peso dos dois fatores já pôde ser sentido nos resultados de janeiro de 2006, divulgados nesta segunda-feira (20/2). O mês, que costuma ser fraco para o setor, teve 213,720 mil embarques, uma queda de 13% em relação a dezembro e um crescimento de 14% na comparação com o mesmo mês de 2005. A receita cambial caiu 22% sobre dezembro e subiu 41,5% em relação a janeiro do ano passado. Os números da comparação com o último mês de 2005 já indicam uma influência tanto da gripe aviária quanto do dólar, ainda que esteja cedo para mensurá-los, segundo Gonçalves.

O mês registrou queda de 11% nos embarques de cortes de frango, 15,5% nos de frango inteiro, e 17% nos de frangos industrializados. Em relação a janeiro do ano passado, os resultados foram alta de 26,5% nos embarques do corte de frango, queda de 6% nos da ave inteira e alta de 41% nos de frango industrializado.

A Ásia, maior comprador do frango brasileiro em termos de receita, também foi a maior importadora em volume. O Brasil enviou para a região 69,781 mil toneladas de frango, 39% mais do que em janeiro de 2005. A receita com os embarques cresceu 39%, para 93,156 milhões de dólares.

Portaria contra a gripe

O presidente da Abef diz ainda esperar que seja publicada nesta terça-feira a portaria do Ministério da Agricultura que estabelece o plano de prevenção contra a gripe aviária. No entanto, ele acredita que o anúncio não trará duas medidas consideradas vitais para o setor: a proibição de trânsito de frangos provenientes de granjas não certificadas pelo governo e a obrigatoriedade do uso de uma guia durante o transporte dos animais que venha assinada por agente fiscal federal e garanta a isenção da doença.

“Temos que tomar medidas preventivas. Temos que treinar, admitir gente, fazer controle, certificar laboratórios. Eu tenho impressão que o ministério está sensível a isso”, diz Gonçalves, que acredita que o governo vai ouvir as reivindicações dos produtores durante os 30 dias em que a portaria ficará disponível para consulta à população.

Fonte:
Exame