Governo faz mudanças na equipe econômica

09/01/2009

Com a saída do secretário Marcos Lisboa, Palocci convoca Murilo Portugal, ex-integrante do governo FHC

Após dois anos e quatro meses de poder, o governo Lula promoveu ontem o primeiro grande rearranjo na equipe econômica. No início da noite, o ministro Antonio Palocci Filho anunciou a saída do secretário de Política Econômica, Marcos Lisboa, que será substituído pelo número 2 da Fazenda, Bernard Appy. Representante do Brasil no FMI (Fundo Monetário Internacional), Murilo Portugal vai para o lugar de Appy.

Ao anunciar as mudanças, Palocci deixou claro que elas não significarão alterações na política econômica. “Vamos em frente com a mesma política.”
Pela versão oficial, Lisboa deixa a secretaria por motivos pessoais. Ele negou que divergências em relação à política monetária do Banco Central tenha motivado o pedido de demissão. Chegou a fazer elogios ao BC. “Foi feito um trabalho impressionante, que surpreendeu a todos”, afirmou.

A Folha apurou, porém, que Lisboa avalia que as recentes altas dos juros minam a política fiscal e aproveitou a gravidez da mulher para deixar a equipe. Desde o início do governo, Lisboa é um dos principais alvos de ataque do PT e de opositores da política econômica por ser considerado a personificação das teorias ortodoxas.
“Contrariado, estou aceitando o pedido de Marcos e Bia [mulher de Lisboa, que está grávida] para ele deixar a equipe. Foi um privilégio trabalhar com Marcos”, declarou Palocci no anúncio.

A troca abriu espaço para Murilo Portugal, representante do Brasil e de outros nove países no FMI, voltar ao país. Desde 1998, Portugal trabalha no Fundo.
Com a rearrumação, o diretor de Estudos Especiais do Banco Central, Eduardo Loyo, segue para Washington para substituir Portugal. Loyo e o diretor de Política Econômica do BC, Afonso Bevilaqua, são apontados como maiores defensores da política de juros altos do Copom (Comitê de Política Monetária).

A cadeira de Loyo será repassada ao economista Alexandre Tombini, funcionário de carreira do Banco Central, que, desde 2001, exerce a função de assessor sênior de Portugal no FMI.
Agora, os dois principais auxiliares de Palocci na Fazenda, Portugal e Joaquim Levy, secretário do Tesouro, e um diretor do BC trazem no currículo passagem pelo FMI. A troca acontece um mês depois de o governo anunciar o fim do acordo com o Fundo.
Portugal e Levy também foram integrantes do governo Fernando Henrique Cardoso. Portugal foi secretário do Tesouro na equipe do ex-ministro Pedro Malan.

O secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, foi secretário-adjunto do mesmo órgão na gestão FHC.
Pelo perfil das trocas, fica evidente que não haverá mudanças na política econômica, como ressaltou Palocci. Elas, porém, têm o objetivo de melhorar a interlocução da área política do governo com a equipe econômica. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se queixa de um suposto conservadorismo e excesso de rigidez de membros da equipe econômica, principalmente do Banco Central.

Durante a entrevista, Palocci também descartou a possibilidade de o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, deixar o governo. “Não há hipótese de mudança de posição do presidente Henrique Meirelles.”
Palocci afirmou que, apesar de Meirelles estar “sofrendo” com acusações, até agora não há indicação de “real irregularidade”.

Folha de São Paulo
29/4/2005
JULIANNA SOFIA