Governo faz firme defesa do Mercosul para empresários
09/01/2009
Depois de fortes críticas à política comercial e ao funcionamento do Mercosul, o governo federal adotou ontem um firme discurso de defesa do bloco. E as manifestações não vieram apenas de ministros encarregados diretamente das negociações, mas também da área política, como o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu.
Os empresários também baixaram o tom das críticas e o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, afirmou que “nesse momento, não vamos desistir do Mercosul”.
Skaf contraria, assim, as afirmações de Roberto Gianetti da Fonseca, diretor de exportação da Fiesp, que, em entrevista ao Valor , em 12 de novembro, propôs um “passo atrás” no Mercosul e a transformação do bloco de união aduaneira em área de livre comércio. Isso permitiria ao Brasil negociar mais livremente acordos bilaterais. As declarações de Gianetti causaram mal-estar entre Fiesp e governo.
“Eu não vejo alternativa ao Brasil a não ser aprofundar o Mercosul”, afirmou Dirceu, que participou ontem do encerramento do 24º Encontro Nacional de Exportadores (Enaex). O ministro reconheceu que “essas alianças comerciais são complexas”, referindo-se às dificuldades no comércio entre Brasil e Argentina. Mas afirmou que o objetivo do governo é aprofundar as relações com o Mercosul e a América do Sul, inclusive criando instituições sociais e políticas.
“É impossível imaginar que o Brasil nos próximos anos vire as costas para a América do Sul”, disse Dirceu. “O Brasil, como país mais desenvolvido, precisa ter competência e capacidade para resolver essas crises”, ressaltou.
Segundo o ministro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer privilegiar tanto os acordos multilaterais como os bilaterais. Dirceu afirmou que a orientação de Lula é para chegar a um acordo com a União Européia. “Mas acordo significa concessões mútuas e o Brasil precisa defender seus interesses como os europeus defendem os seus”, ressaltou Dirceu.
O fracasso das negociações com a UE foi o estopim da revolta dos empresários, que culparam o protecionismo argentino pelas dificuldades. Dirceu negou que exista viés político nas negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e afirmou que elas dependiam das eleições americanas e agora devem ser retomadas.
O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, reconheceu que faltou comunicação entre o empresariado e o governo durante a condução das mais recentes negociações comerciais.
O presidente da Coalizão Empresarial Brasileira (CEB), Osvaldo Douat, reclamou que os empresários não foram ouvidos quando o Brasil deu à China status de economia de mercado. Skaf também afirmou que não foi consultado.
“Eu acho que há uma lacuna, talvez por culpa nossa, uma falta de diálogo com o setor empresarial”, disse Furlan. “Uma parte das negociações são tratadas pelo presidente a portas fechadas e nem sempre colocadas a público antes da hora”, completou, referindo-se aos encontros com os presidentes da China e da Rússia.
Embora mantenha suas reclamações contra a China, Skaf baixou o tom das críticas ao Mercosul. “Nós estamos em uma época de blocos comerciais, então devemos nos esforçar para fortalecer o Mercosul”, afirmou. Ele acrescentou, porém, que não se pode permitir que esse esforço prejudique as negociações com outros países.
Segundo ele, Gianetti expressou uma opinião pessoal e sua proposta foi levada ao Conselho Superior de Comércio Exterior da Fiesp, mas não houve consenso. “Nesse momento, não vamos desistir do Mercosul. Mas tudo é muito dinâmico. Se sentirmos prejuízos, vamos reavaliar”, afirmou Skaf, que ontem também participou de reunião com empresários argentinos em Buenos Aires.
Valor Economico
25/11/2004