Fuga de ‘cérebros’ para países ricos ameaça países pobres

09/01/2009

Os países pobres da África, da América Central e do Caribe estão assistindo a uma fuga impressionante de sua mão-de-obra qualificada, com formação superior, para os países ricos. Essa é a conclusão de um estudo do Banco Mundial (Bird) divulgado ontem, que indica que esse padrão ameaça os esforços dos países atingidos pela evasão em alcançar crescimento sustentável.

No Haiti e na Jamaica, por exemplo, essa “fuga de cérebros” chega a mais de 80%. Em outros países, como Gana, Moçambique, Quênia, Uganda e El Salvador, esse percentual varia de 25% a 50%.

“Um país que perde um terço de seus trabalhadores graduados tem muito com que se preocupar”, afirma Alan Winters, diretor de pesquisa de desenvolvimento do Banco Mundial.

Países como Brasil, Índia, China e Indonésia, por outro lado, não apresentam imigração tão preocupante de mão-de-obra qualificada: menos de 5% cada.

O estudo do Banco Mundial é baseado em censos e outras fontes de dados dos 30 países-membros da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), instituição que congrega a maioria dos países receptores dessa imigração.

Os efeitos exatos dessa evasão, entretanto, ainda não são muito claros para os economistas, apesar de a maioria dos especialistas concordar que o êxodo se mostra particularmente preocupante nas áreas de saúde e educação.

Devesh Kapur e John McHale argumentam em seu livro “Give Us Your Best and Brightest” (Dê-nos os seus melhores e mais brilhantes), publicado pelo Centro de Desenvolvimento Global, um grupo de pesquisa baseado em Washington, que a perda de “construtores de instituições” – como administradores de hospitais, reformadores políticos e diretores universitários – ajuda a manter os países na pobreza.

Mas os padrões indicam que a emigração qualificada prejudica mais os países de pequeno e médio portes. Os países pobres de maior porte conseguem compensar essa pressão ou até mesmo reverter seus efeitos danosos, já que muitos dos trabalhadores voltam para casa depois de algum tempo ou investem seus ganhos nos países de origem, afirma Frédéric Docquier, pesquisador do Banco Mundial e economista da Universidade de Leuven, na Bélgica.

Parte do estudo analisa os efeitos do dinheiro mandado pelos imigrantes para seus países, como no México, nas Filipinas e na Guatemala. Nesses casos, o dinheiro remetido para casa ajuda a reduzir a pobreza nesses países e se torna uma fonte importante de reserva internacional. As implicações mais amplas, entretanto, são complexas. Na Guatemala, por exemplo, as famílias da zona rural que recebem esse dinheiro gastam mais em educação do que em consumo.

Os dados do Bird causaram também algumas polêmicas. Mark Rosenzweig, economista da Universidade Yale, afirma que as medidas usadas no estudo foram infladas em alguns casos por não excluir os imigrantes que foram para os países ricos ainda na infância ou que tiveram educação superior nesses países.

Rosenzweig aponta o caso da Jamaica. Segundo o estudo, quatro de cada 10 jamaicanos que foram para os EUA chegaram com idades abaixo de 20 anos. Essa distorção poderia descaracterizar a imigração jamaicana como uma “fuga de cérebros”.

O Banco Mundial admite haver algumas discrepâncias e diz que está trabalhando para apurar mais o seu banco de dados.

Fonte:
Valor Economico
26/10/2005