FMI diz que Brasil “não está imune à crise” e que seu crescimento diminuirá

09/10/2008

César Muñoz Acebes.

Washington, 9 out (EFE).- O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, disse que o Brasil não está imune à crise financeira e seu crescimento diminuirá.

Strauss-Kahn destacou que o país seguiu a política econômica "correta" nos últimos oito anos e acumulou reservas nesse período.

"O Brasil tem uma economia em boa forma", comentou o diretor do FMI em entrevista coletiva, que ressaltou, no entanto, que "os efeitos da desaceleração do crescimento mundial terão conseqüências" para o país.

O Fundo prevê que a economia brasileira crescerá este ano 5,2% e 3,5% em 2009.

"Para alguns países, como o meu, a França, por exemplo, 3,5% seria um grande êxito", afirmou Strauss-Kahn.

"A última vez que alcançamos 3,5% foi há dez anos. Não lembro quem era o ministro das Finanças então", afirmou.

"Era você", respondeu o vice-diretor-gerente do FMI, John Lipsky, que também estava sentado no palanque da sala de imprensa do organismo, arrancando risadas dos presentes.

"Para o Brasil, obviamente 3,5% não é bom. Estamos acostumados a taxas de crescimento de entre 5% e 6%, ou inclusive mais", continuou Strauss-Kahn.

"De modo que o Brasil está em uma situação forte, mas não é imune à crise", afirmou o chefe do FMI.

Strauss-Kahn destacou também que o planeta está à beira de uma recessão global que só pode ser combatida com ações conjuntas e com a injeção de dinheiro nos bancos.

De acordo com o FMI, as economias avançadas quase não crescerão no ano que vem, enquanto que a economia global se expandirá 3% graças às nações em desenvolvimento.

"Estamos à beira de uma recessão global", alertou Strauss-Kahn em entrevista coletiva anterior à assembléia anual desse organismo e do Banco Mundial, na qual os ministros de economia de todo o mundo tentarão encontrar uma resposta coletiva para o problema.

O ex-ministro francês insistiu para que os Governos usem todas as ferramentas à sua disposição – monetárias, tributárias e financeiras – para combater uma crise como não se via desde o início do século passado.

Ele ressaltou que o mais importante é restabelecer a saúde dos bancos no mundo desenvolvido, que nos Estados Unidos e em outros países guarda seu capital em vez de emprestá-lo por medo de que os créditos não sejam devolvidos.

"Não há forma de encontrar uma saída sem suficiente recapitalização das instituições financeiras", disse Strauss-Kahn.

Essa posição significa, na prática, que os Governos deverão injetar dinheiro nos bancos, pois atualmente não há fontes privadas dispostas a investir neles, disse à Agência Efe uma fonte do FMI.

É algo que também tem em mente o secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, que estuda comprar ações de bancos, segundo anunciado hoje.

Em sua entrevista coletiva, Strauss-Kahn ressaltou que como a crise financeira é global, ela deve ser resolvida de forma coletiva.

O ex-ministro francês se referiu especificamente à União Européia (UE), cujos membros foram incapazes de acertar um acordo sobre um plano de ação conjunto porque alguns países, como a Alemanha, se negam a colocar dinheiro próprio para apoiar bancos de outras nações.

"Peço aos países da UE que trabalhem juntos. Não existe uma solução nacional a uma crise como esta", disse Strauss-Kahn.

"As ações solitárias devem ser evitadas e inclusive condenadas", acrescentou.

Além disso, afirmou que "todos os países que tenham possibilidade de adotar um estímulo fiscal deveriam fazê-lo".

Também avaliou positivamente a baixa coletiva das taxas de juros determinada na quarta-feira pelos principais bancos centrais do mundo.

Em todo caso, Strauss-Kahn disse, as medidas macroeconômicas devem ser combinadas com um plano de ação no terreno financeiro, que faça com que os mercados de crédito voltem a funcionar.

"A confiança é a primeira coisa que devemos restabelecer", disse.

O diretor-gerente disse que ativou um programa de empréstimos urgentes do FMI, segundo o qual um país com problemas financeiros pode receber créditos com menos condições e em, no máximo, duas semanas.

Strauss-Kahn afirmou que o FMI conta com reservas suficientes no primeiro ano, e poderá obter mais se for necessário.

Até agora, os países em desenvolvimento, os receptores nas últimas décadas dos empréstimos do FMI, se mostraram mais resistentes à crise do que as nações desenvolvidas.

No entanto, Strauss-Kahn enfatizou que "nenhum país está imune", apesar de que os efeitos poderão ser sentidos com atraso nessas nações e as ondas de instabilidade poderão ser mais débeis.

A última pancada da crise financeira afetou mais diretamente essas nações do que no passado e as bolsas tiveram quedas desde a Rússia até o Brasil. Além disso, viram como se fecharam as linhas de crédito, segundo Strauss-Kahn.

A Global Insight, uma empresa de consultoria, afirmou hoje que aumentaram as pressões sobre os sistemas bancários dos países em desenvolvimento, que são vulneráveis pela rápida expansão do crédito nos últimos anos.

No entanto, Strauss-Kahn ofereceu um raio de luz no meio das sombrias perspectivas econômicas, pois afirmou que o mundo irá se recuperar, embora lentamente, no final de 2009.

"O crescimento voltará", concluiu.

 

Fonte:
EFE