FMI: conter crise em emergentes “é questão de sobrevivência”

19/02/2009

A preocupação com o efeitos da crise financeira sobre os países emergentes está aumentando e a contenção dos seus efeitos nos países pobres "é uma questão de sobrevivência", alerta o Fundo Monetário Internacional (FMI). Em uma coletiva de imprensa em Paris, o presidente do fundo, Dominique Strauss-Kahn, prevê um ano ruim "para todos" e diz que muitos países estão demorando demais para reagir à crise.

"A crise, que era das economias avançadas, começa agora tocar as emergentes. Vemos vários países emergentes com problemas financeiros. Nós temos de ajudá-los", afirmou Strauss-Kahn, precisando que o auxílio do FMI deverá se focalizar nos incentivos para que os países mantenham o fluxo de investimentos.

"Teremos um ano de 2009 difícil, sobretudo difícil para os países desenvolvidos, mas difícil também para os emergentes e pobres. Nos países desenvolvidos, é um problema de desemprego e poder de compra; nos países pobres, é uma questão de sobrevivência."

Strauss-Kahn participou da abertura do Fórum Mundial da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para a Concorrência, que acontece nesta quinta-feira na capital francesa.

Ao lado do presidente do FMI, o secretário-geral da OCDE, o francês Angel Gurría, pediu que os governantes não se deixassem levar pela tentação protecionista. "A competição sempre foi crucial, e agora é ainda mais importante. Temos todos de demonstrar empenho em renovar a nossa missão e vocação do livre comércio. É a concorrência dos sistemas de investimentos que vai estabilizar o mercado", defendeu ele.

Os dois diretores apelaram pela cooperação internacional para que os efeitos da crise sejam contidos o mais rapidamente possível. "A cooperação internacional é necessária. As economias dependem umas das outras. Isso não impede que, em cada país, os dirigentes tomem as medidas necessárias para que o país sofra menos com a crise, e eu os compreendo. Mas cada um tem de ter bem claro que não há solução nacional para uma crise global", disse o presidente do FMI.

"O cenário para 2009 é de fato muito cinzento, mas a boa notícia é que esperamos melhoras em 2010 se os governos tomarem hoje as medidas que podem para evitar os efeitos da crise. Precisamos de mais cooperação internacional do que temos verificado atualmente", completou Strauss-Kahn.

De acordo com o presidente do FMI, os esforços feitos até agora, em níveis diferentes de engajamento e de reação contra a crise, poderão acarretar em consequências para todos os países. "Eu não digo que não tem nada sendo feito, isso seria injusto. Mas muitos países estão reagindo tarde demais, o que está fazendo com que a maior parte dos pacotes de estímulos tenha sido perdida", avaliou.

Para ele, em uma economia globalizada, é preciso que todos façam esforços de relançamento econômico, uma vez que um dependem dos outros. "Se os emergentes pioram, haverá em seguida efeitos sobre os avançados, porque a crise é global. Cada um pode fazer o seu melhor, mas nem assim se garante que o que for feito será suficiente."

Já Gurría insistiu que os governantes não podem perder de vista as perspectivas a médio e a longo prazo. "Tem diversas medidas que podem ser tomadas imediatamente, como o salvamento das empresas em risco de falência e o estímulo à concorrência. As tentações protecionistas podem ser compreendidas, mas elas devem ser afastadas, sobretudo neste momento."

Strauss-Kahn lembrou que a crise econômica começa a tocar com força a economia real, e que os governantes podem reaquecer as economias internas através de através de políticas econômicas adequadas.

"A desaceleração econômica tem consequências dramáticas no mundo todo. É preciso mais do que olhar às cifras econômicas: é preciso observar homens e mulheres que sofrem com o desemprego, com a queda da renda. A previsão que nós fazemos é que se as políticas econômicas e financeiras que nós sugerimos forem postas em prática corretamente, o início da reaceleração da atividade econômica mundial deve acontecer no início de 2010", disse ele.

Fonte:
Terra