Fluxo cambial pode desvalorizar o real
07/08/2008
A divulgação do fluxo cambial do mês de julho, com saldo negativo de US$ 2,494 bilhões, nos leva a perguntar se não se trata do primeiro sinal de uma possível desvalorização cambial no futuro. Foi o pior resultado no ano e desde dezembro de 2006, quando ficou negativo em US$ 3,463 bilhões. Em junho, já havia sido registrado um saldo negativo de US$ 877 milhões, e é essa repetição de saldos negativos que suscita a indagação acima.
O saldo comercial caiu de US$ 4,7 bilhões para US$ 2,637 bilhões, embora os dados da alfândega mostrem que as exportações cresceram 0,4% e a importação caiu 1,4% em relação a junho. Tudo indica que as operações de Adiantamentos sobre Contratos de Câmbio (ACC) foram menores com a alta da taxa de juros.
O saldo negativo das operações financeiras foi sensivelmente próximo ao de junho: US$ 5,130 bilhões, ante US$ 5,578 bilhões – resultados que refletem, basicamente, as saídas de capital estrangeiro da Bolsa de Valores, particularmente elevadas, somando R$ 15 bilhões nos dois últimos meses.
O déficit das transações financeiras não aumentou em julho, em grande parte porque a posição comprada dos bancos passou de US$ 7,336 bilhões, no final de junho, para US$ 2,986 bilhões, em julho. Se essa desova dos bancos amenizou o impacto da saída da Bolsa de Valores, é porque houve a percepção de que a grande vantagem das taxas de juros no Brasil poderá desaparecer.
Começa a se fortalecer a idéia de que o processo de alta das commodities terminou e os fundos precisam de recursos para cobrir as perdas que estão tendo nas bolsas de derivativos nos EUA e em Londres. Paralelamente, começa a haver dúvidas sobre a continuidade da valorização cambial no País, mesmo com a aposta de que o Comitê de Política Monetária (Copom) continuará a elevar a Selic nas três reuniões que terá até o final do ano.
Os investimentos estrangeiros na Bolsa de Valores de São Paulo, feitos principalmente nas empresas ligadas à mineração ou ao petróleo, estão diminuindo com a queda do preço das commodities em geral. E tudo indica que o Brasil vai sofrer uma redução das suas receitas de exportações por causa dessa queda. Assim, as perspectivas cambiais são desfavoráveis e deverão se traduzir por uma desvalorização do real perante o dólar.
É bom ter consciência de que essa evolução da taxa cambial tende a reduzir o papel dos importados na contenção da inflação – o que explica a prudência do Banco Central diante da melhora dos índices de preços.
Fonte:
Estadão.com.br