Exportação da AL segue em alta apesar de crises e câmbio

09/01/2009

Nem crises políticas nem a valorização das moedas estão segurando as exportações latino-americanas, que continuam crescendo em ritmo forte este ano. A explicação ainda é a cotação elevada das commodities exportadas pela região. Mas as exportações estão gerando um efeito riqueza, que vem alimentando o consumo interno e provocando um igualmente forte alta nas importações da região.

Nas exportações, o México lidera com folga, com US$ 100,57 bilhões no primeiro semestre deste ano, mas é justamente o país que teve o menor aumento percentual em relação ao mesmo período de 2004, devido principalmente à concorrência com a China.

A Venezuela teve o maior aumento das exportações, 40,4%, por conta da alta do petróleo. Na Argentina, o maior consumo interno (deprimido nos anos da crise) e gargalos de infra-estrutura e financiamento seguraram as exportações, que cresceram só 14%.

O Brasil, cujas exportações subiram 23,9%, fica apenas no pelotão intermediário na região.

As exportações continuam, em geral, puxadas pelas commodities, como petróleo (Venezuela e Equador), gás (Peru e Bolívia, cujos dados de comércio vão apenas até março), minérios (Peru, Bolívia e Chile) e produtos agrícolas (Brasil e Argentina). O temor de que uma desaceleração mais forte na China e nos EUA reduzisse a demanda por essas commodities não se confirmou, e a cotação em geral se manteve em níveis elevados.

No Chile, maior produtor mundial de cobre, o governo quer aumentar a produção em 15% nos próximos cinco anos. O cobre, cujo preço médio nominal é o maior da história, responde por mais de metade das exportações chilenas.

Em geral, o crescimento das exportações em 2005 deve ser inferior ao de 2004, mas alguns países estão tendo desempenho melhor este ano. É o caso do Peru, onde entraram em operação novas estruturas de produção voltadas para exportação, e da Colômbia, onde cresceram as vendas de carvão.

O destaque negativo é o Paraguai, onde as exportações (pelo menos as oficiais) caíram 2,45%.

As importações também vêm crescendo em nível acelerado na região, na maioria dos casos superando o crescimento das exportações. Isso se deve em parte à valorização das moedas. Além do real, o peso chileno, por exemplo, tem sua maior cotação em 60 meses.

Mas há ainda, segundo a Cepal (comissão econômica da ONU para a América Latina), um aumento do consumo interno devido à aceleração das economias da região.

“O aumento da renda vem provocando uma demanda interna excepcional nos países latino-americanos em geral”, afirma o economista brasileiro Rogério Toledo, da Cepal. Ele destaca ainda a maior disciplina fiscal nos últimos, que libera mais crédito ao setor privado, responsável por 85% do consumo nos países da região. “Os governos estão se controlando para gastar, o que vem se refletindo nos bons resultados fiscais. No geral, a região mostra um fortalecimento fiscal e uma melhora nos indicadores de endividamento.”

Esse boom do consumo interno nos países sul-americanos explica o forte crescimento das exportações brasileiras para a região. As importações da Colômbia cresceram 29%, puxadas por bens de consumo, como eletroeletrônicos.

O comércio exterior se mostrou ainda imune às crises políticas que atingiram vários países, como Brasil, Bolívia, Equador e Peru.

A Cepal vê com otimismo as perspectivas para o comércio exterior da região. Alerta, porém, para o que chama de “possível reajuste traumático de alguns dos desequilíbrios existentes na economia internacional e para o perigo de uma reação protecionista”. “É um risco que pode se agravar caso a economia global desacelere de forma acentuada”, diz Toledo.

Fonte:
Valor Economico
25/8/2005