Europa tenta evitar propagação de cepa letal da gripe aviária

09/01/2009

A Europa já se prepara para enfrentar uma possível disseminação do vírus da gripe aviária. Ontem, a União Européia confirmou que o vírus encontrado em aves mortas na Turquia é da cepa mais letal, a H5N1. Foi confirmado ainda o contágio de aves na Romênia. Vários países estão tomando medidas para tentar evitar um alastramento da doença, mas a UE já recomenda que os governos adotem uma política de vacinação da população.

Há várias formas de gripe aviária. Ontem mesmo, alguns países vizinhos suspenderam a importação de aves da Colômbia, onde foi detectado um surto causado pelo vírus H9, que não tem relação com o H5N1 e é muito menos letal.

A gripe causada pelo H5N1 tem alto índice de mortalidade entre as aves. Apesar de o vírus não ser facilmente transmissível para seres humanos, o contágio pode acontecer por meio do contato com os animais. Também entre os homens a mortalidade é elevada, como se verificou em casos ocorridos na Ásia, onde a cepa do vírus se originou: 117 pessoas adoeceram, sendo que 60 morreram. Os casos fatais ocorreram no Vietnã, na Tailândia, no Camboja e na Indonésia.

Por enquanto, o vírus não é transmissível de um ser humano para outro, mas há o temor de que, por meio de uma mutação, isso se torne possível. Nesse caso, poderia ocorrer um pandemia global, como a da gripe espanhola em 1918, que matou cerca de 50 milhões de pessoas pelo mundo. Pesquisa divulgada há duas semanas apontou que o vírus causador da gripe espanhola também veio das aves.

Nos últimos dois anos, a doença estava circunscrita a países da Ásia, mas já se esperava que, com a migração de aves selvagens, ela fosse chegar à Europa. As aves teriam passado pela China, Mongólia, Rússia e Irã, onde suspeita-se possam surgir focos da doença.

A disseminação da gripe aviária pode causar problemas graves de saúde pública e econômicos.

A UE já proibiu a importação de aves da Turquia e deve fazer o mesmo com a Romênia. Nesses dois países, as autoridades estão sacrificando milhares de aves, como perus e frangos, nas regiões onde o vírus foi detectado. Se a doença atingir os principais países produtores europeus, o setor sofrerá um forte abalo.

Isso pode significar para o Brasil a possibilidade de exportações maiores de frango, mas há também o risco de o consumidor europeu recusar o produto, independentemente de sua origem, como aconteceu com a carne durante a crise da vaca louca.

Não há recomendação nem da UE nem dos EUA para que seus cidadãos evitem os países atingidos pela gripe aviária, mas é possível que ocorra retração do turismo.

A Alemanha reforçou a fiscalização em suas fronteiras (para evitar contrabando de aves) e em vôos vindos da Turquia e da Romênia. Aeroportos da UE estão ampliando as áreas destinadas a quarentena, para evitar a propagação rápida da doença por meio de aviões.

“Não queremos criar pânico, e temos de ter cuidado para que nossas medidas sejam baseadas no risco”, disse ontem Markos Kyprianou, comissário de Saúde da UE.

As principais empresas farmacêuticas do mundo estão ampliando a produção de vacinas (não há ainda uma específica contra o H5N1) e medicamentos antigripais. Mas elas já advertiram que, devido ao lento processo de produção, não haverá o bastante para o caso de epidemia.

A UE pôs à disposição 1 bilhão de euros para ajudar na produção e distribuição de vacinas e medicamentos, no caso de uma pandemia. “Estamos falando da mutação de uma cepa do vírus numa cepa completamente nova, contra a qual nós não temos nenhuma defesa, não temos anticorpos nem medicamentos”, disse Kyprianou. A UE marcou uma reunião de emergência para hoje.

Fonte:
Valor Economico
14/10/2005