Empresas trocam EUA pela Europa

09/01/2009

As empresas brasileiras estão se movimentando para encontrar novos mercados financeiros para suas ações fora as bolsas americanas. O objetivo é conquistar uma gama maior de investidores, como os europeus, que muitas vezes não acessam as bolsas dos Estados Unidos. Um motivo adicional para essa busca de novas alternativas é a Sarbanes-Oxley – conjunto de rígidas regras de governança corporativa aprovado pelo governo americano em 2002 e que deve ser seguido por todas as empresas que possuem ações negociadas nas bolsas dos Estados Unidos.

“Depois da Sarbanes, as companhias estão pensando duas vezes antes de listar suas ações nos EUA”, diz Stephen Wallenstein, professor da Duke University School of Business. O grande problema são os custos para as empresas adaptarem-se a todas as exigências da lei. Segundo o professor, a estimativa é de que as companhias gastem entre US$ 600 mil e US$ 1 milhão para adotarem todas as normas da Sarbanes, cifras inviáveis para companhias pequenas e médias.

A maior parte desses gastos deve ocorrer na montagem de controles internos que vão servir para fiscalizar o dia-a-dia de todos os departamentos das companhias. “O benefício de estar no mercado americano pode não compensar tanto trabalho e gasto”, diz Wallenstein.

Não é à toa que nos últimos dois anos praticamente não houve empresas estrangeiras lançando American Depositary Receipt (ADRs), que são os recibos de suas ações, nos EUA. O professor afirma que uma pesquisa recente revelou que 21% das companhias americanas gostariam de fechar o capital. Ele acredita que nos próximos anos pode haver uma migração de empresas listadas nos EUA para mercados europeus, com regras mais flexíveis.

As empresas latinas, por exemplo, devem participar entre os dias 17 e 19 deste mês do Foro Latibex, organizado pela bolsa de Madri. O objetivo é apresentar as companhias aos investidores europeus e até levar novas empresas para serem listadas na Latibex – ambiente de negociação dentro da bolsa de Madri específico para ações de empresas latinas. Hoje, 13 companhias brasileiras são listadas na Latibex. Já na Bolsa de Londres, há apenas as ações da Celesc.

No dia 18, haverá a Tarde do Brasil, onde seis empresas brasileiras – Bradesco, Petrobras, Eletrobrás, Gerdau e Braskem – se apresentarão para um público seleto de investidores europeus. É uma espécie de “Brazil Day” que tradicionalmente ocorre na Bolsa de Nova York. O evento está sendo organizado pelo Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI), junto com a bolsa de Madri e a embaixada brasileira naquele país.

Segundo Marco Geovanne Tobias da Silva, vice-presidente do IBRI e diretor de relações com investidores do Banco do Brasil, a idéia da Tarde Brasil é mostrar as empresas brasileiras aos investidores europeus, que muitas vezes não negociam no mercado americano. “É importante abrir outras frentes de negociação para suas ações, além das bolsas dos Estados Unidos”, diz Geovanne.

Ele acredita que, apesar de toda a rigidez da Sarbanes, as empresas brasileiras não vão abandonar o mercado americano, já que nem de longe as bolsas européias possuem o volume diário de negócios da Bolsa de Nova York. Ele reconhece, no entanto, que as novas regras americanas de governança reduziram o número de companhias dispostas em lançar programas de ADR. “Precisa valer a pena financeiramente para compensar os gastos”, diz Geovanne. Ele lembra que no início dos ADR, muitas empresas lançaram seus programas pois os bancos depositários montavam a operação de graça.

Enquanto o IBRI leva as empresas para a Europa, outro grupo, liderado pela Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e pela Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), aposta no mercado americano. No primeiro dia do Foro Latibex, ocorrerá em Nova York o Brazil Excellence in Securities Transaction (BEST), um evento que tem como objetivo promover o mercado brasileiro. “Muitos investidores acham que temos leis de 20 anos atrás, quando comprar um papel no Brasil demorava meses”, diz Gilberto Mifano, superintendente geral da Bovespa. “Precisamos atualizar esta visão e mostrar os avanços”, afirma.

O BEST também terá apoio do Banco Central (BC) e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Todos os organizadores enviarão executivos para Nova York. Segundo José Antônio Marciano, do BC, desde 2002, o ambiente legal e regulatório melhorou muito no Brasil, mas pouca gente lá fora sabe disso. “O desconhecimento das mudanças é grande mesmo dentro do mercado brasileiro”, afirma. O público alvo são os investidores institucionais, como fundos de pensão e seguradoras. Para o primeiro semestre de 2005, está previsto a realização do mesmo evento na Europa e uma outra edição nos EUA no segundo semestre.

Valor Online
10/11/2004