Empresas menores deixam de exportar

09/01/2009

Número de companhias de pequeno e médio porte que vendem para fora cai 8,8%; AEB culpa câmbio

A valorização do real nos últimos meses tem sido especialmente cruel com as empresas exportadoras de menor porte. Muitas delas não têm conseguido mais ser competitivas no comércio com o exterior. Assim, têm sido obrigadas a voltar suas operações ao mercado interno ou mesmo fechar suas portas.
Estudo elaborado pela AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), com base em dados do Ministério do Desenvolvimento, mostra que entre janeiro e maio de 2004 foram computadas 6.510 empresas exportadoras de pequeno e médio porte.
Considerando o mesmo período deste ano, foram encontradas apenas 5.939 empresas -uma redução de 8,8%.
Quando os dados da AEB abrangem o setor exportador como um todo, maio foi o terceiro mês consecutivo de redução no número de empresas. Durante pelo menos um ano, até fevereiro, o setor exportador vivia um ritmo de alta de novas companhias entrando no mercado a cada mês.
José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB, diz que as empresas menores “são mais punidas com a atual realidade da taxa de câmbio”.
“E a tendência é esse quadro se agravar, pois essas empresas têm custos maiores, rentabilidades decrescentes e menos possibilidades de driblar um momento menos positivo”, afirma Castro.
Por outro lado, as grandes exportadoras -com volume de vendas ao exterior acima de US$ 6 milhões- cresceram de 665, entre janeiro e maio de 2004, para 829, no mesmo período de 2005.

Concentração
“Se uma das políticas da Apex [Agência de Promoção de Exportação e Investimentos] é a de estimular os pequenos exportadores, a atual rota do câmbio tem agido em sentido contrário. Com isso, tem havido uma concentração maior”, avalia Castro.
O dólar chegou ao fim de maio do ano passado em torno dos R$ 3,10. Ontem, encerrou o dia a R$ 2,406. Quanto mais alto o valor do dólar, mais baratos ficam os produtos brasileiros no exterior. Esse cenário favorece o crescimento das exportações -desde o ano passado, o Brasil bateu sucessivos recordes de saldo positivo na balança comercial.
Mas o enfraquecimento da moeda norte-americana diante do real tende a prejudicar o desempenho do setor exportador, por encarecer os produtos brasileiros lá fora.
Neste ano, o dólar acumula desvalorização de 9,34%.
Para José Roberto Carreira, diretor de câmbio da corretora Novação, o fato de segmentos do setor exportador estarem sendo punidos pela apreciação do real não é motivo suficiente para o governo intervir no mercado.
Em março, o Banco Central deixou de realizar leilões de compra de dólares e de venda de contratos de “swap cambial reverso”, que tendiam a fortalecer a cotação do dólar. Com isso, a desvalorização da moeda se acentuou.
“Penso que o dólar ainda tem espaço para cair mais. Eu diria que a tendência da moeda ainda é de baixa”, afirma Carreira.

Produtos concentrados
Um outro levantamento, feito recentemente pela Funcex (Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior), mostrou também haver uma maior concentração nos produtos exportados.
Segundo o estudo, os 75 produtos mais relevantes da base exportadora contribuíram com 92,9% da expansão das vendas ao mercado externo no segundo semestre de 2004. Nos primeiros quatro meses deste ano, esse percentual saltou para 97,6%.

Folha de S.Paulo
FABRICIO VIEIRA
17/6/2005