Elevação do risco-Brasil encarece captações externas

09/01/2009

A expectativa de alta maior do que a esperada nos juros básicos dos Estados Unidos atrapalha as captações externas de empresas e bancos brasileiros. Em um primeiro momento, as operações no forno, um total que ultrapassa US$ 1,7 bilhão, ficam suspensas devido à volatilidade do mercado. Depois, a tendência é de que voltem ao mercado, pois há demanda dos investidores. Mas o custo será mais alto. Essa é a opinião de especialistas ouvidos ontem pelo Valor.

O CPI, o índice de preços ao consumidor dos Estados Unidos, divulgado ontem, o maior em quatro meses, só veio reafirmar os temores do mercado de que as pressões inflacionárias estão crescendo no mercado americano. Anteontem, o Fed, banco central americano indicou estar preocupado com essas pressões e os mercados internacionais reagiram, com alta de juros forte nos títulos americanos e venda de papéis de países emergentes. Ontem, a venda continuou nos mercados emergentes, levando o risco-Brasil a 461 pontos básicos, uma alta de 3,36% no dia e de nada menos que 17,90% no mês.

“O Brasil tem os títulos de maior liquidez entre os papéis de países emergentes, que acabam oscilando mais em momentos de volatilidade”, diz Drausio Giacomelli, estrategista para mercados emergentes do JP Morgan.

Ele conta que o título de vencimento em 2040, o Brasil 40, com cerca de US$ 4 bilhões nas mãos do mercado, tem importância crescente como instrumento de “hedge” (proteção financeira) contra outros riscos de crédito de mercados emergentes ou empresas. Investidores que estão comprados em títulos de maior risco e menor liquidez e que não conseguem se desfazer desses papéis nos momentos de maior volatilidade por falta de comprador, como nos últimos dois dias, acabam vendendo a descoberto o Brasil 40 para se proteger. Tanto que ontem o Brasil 40 chegou a ser negociado a 108,313% do valor de face, seu menor valor em seis meses. A queda na comparação com os 110,25% de anteontem foi de 1,76% no pior momento. No mês, o título caiu 5,09%.

“É uma grande oportunidade para a turma realizar polpudos lucros com mercados emergentes”, comenta Carlos Gribel, sócio-diretor da Eurovest Securities. Segundo ele, as perspectivas de curto e médio são de que o mercado continue mais vendedor do que comprador. Passada a volatilidade maior, ele não acredita que as captações das empresas brasileiras hoje no forno estejam inviabilizadas. A oferta de títulos tem sido pequena e há demanda crescente, afirma. “Mas os custos da captação dessas empresas tendem a subir”, diz.

Em abril, vencem US$ 2,6 bilhões em juros e principal da dívida externa do setor público não-financeiro brasileiro, segundo o Banco Central. A tendência do investidor que vai receber os recursos é voltar a reaplicar parte deles no mercado brasileiro. Giacomelli conta que os vencimentos chegam a US$ 10 bilhões em abril e maio em todos os mercados emergentes. É dinheiro de sobra para comprar títulos da CSN, Braskem, Suzano, Votorantim Industrial, Sabesp, Cesp e Camargo Corrêa, entre outras que querem lançar papéis.

Valor Economico
27/3/2005