Eleito, Sarkozy adverte EUA e pede protecionismo na UE

09/01/2009

O candidato de direita Nicolas Sarkozy foi eleito ontem presidente da França pelos próximos cinco anos, com cerca de 53% dos votos contra os 47% da socialista Ségolène Royal, na mais concorrida eleição dos últimos tempos no país.

Na noite de ontem, em seu primeiro discurso após a vitória, Sarkozy enviou uma clara mensagem aos parceiros internacionais, fazendo um apelo ao protecionismo comercial. Ele enfatizou que a França “está de volta à Europa”, mas pediu aos parceiros europeus para ouvirem a voz dos povos que, segundo ele, querem ser protegidos, refletindo o temor generalizado contra a globalização.

“Eu os conjuro a não ficarem surdos à cólera dos povos que percebem a União Européia não como uma proteção, mas como um cavalo de batalha de todas as ameaças que trazem nela as transformações do mundo”, disse.

Ao falar dos EUA, assegurou que os americanos podem contar com a amizade da França, mas apelou Washington a não colocar obstáculos na luta contra o aquecimento climático. “Este será o primeiro combate da França”, afirmou. Sarkozy mencionou ainda o Mediterrâneo e a África, mas não a América Latina.

A vitória confortável pode ajudar Sarkozy nas reformas radicais que planeja. Em seu discurso, em meio a explosão de alegria dos eleitores, esse filho de um imigrante húngaro, de 52 anos, prometeu “reabilitar o trabalho, autoridade, moral, respeito, mérito” na França.

Os franceses escolheram o candidato da “França que levanta cedo” e dos que querem trabalhar mais, que acena com corte de despesas públicas, redução de impostos em US$ 20 bilhões, redução da burocracia, aceleração do crescimento e criação de empregos na sexta maior economia do planeta.

A troca de poder é rápida na França. Dentro de dez dias, Sarkozy assume o lugar de Jacques Chirac. Seu premiê está praticamente escolhido. Deve ser François Fillon, que foi ministro de Educação em parte do governo Chirac.

Com cerca de 17 milhões de votos, Royal conseguiu o mesmo escore de François Mitterrand em 1981. Sorridente, ela reconheceu a derrota minutos depois que a TV anunciou os primeiros resultados, mas em nenhum momento citou o nome de Sarkozy. Ela disse que não deixará a política e que participará ativamente da renovação da esquerda francesa. Em setores do PS, já há um anseio em transformar as eleições legislativas de junho numa espécie de terceiro turno da eleição presidencial.

A caça às bruxas no PS começou em pleno debate na TV, ontem à tarde. Dominique Straus Khan, um das lideranças do partido, praticamente pediu a cabeça do secretário-geral, François Hollande e companheiro de Royal, acusando-o pela “grave derrota”.

À noite, mais de 10 mil pessoas festejaram a vitória do candidato num show na praça da Concórdia, com a presença de Sarkozy e de sua mulher, Cecila, que tinha sumido da campanha, alimentando rumores de que os dois estariam atravessando uma crise conjugal.

Fonte:
Valor Economico