Economia retoma ritmo no 4º trimestre

09/01/2009

Depois da acomodação de setembro, a atividade econômica dá sinais de ter retomado um ritmo significativo de crescimento nas últimas semanas.

A expectativa de empresários e analistas é de um quarto trimestre positivo, ainda que a velocidade de expansão deva diminuir em relação ao observado de janeiro a agosto. O ciclo de alta de juros, pelo menos por enquanto, não mudou as previsões de um Natal bastante favorável.

O setor de produtos químicos é um dos que voltaram a crescer em outubro. Depois da queda de 1,48% em setembro em relação ao mês anterior, a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) acredita que a produção tenha voltado para níveis positivos no mês passado. Apesar de ainda não ter os dados consolidados, a entidade informa que a demanda do segmento continua forte. A queda de setembro foi influenciada por problemas operacionais e paradas técnicas de algumas indústrias, como as de intermediários para detergentes e fertilizantes, e não pela retração do mercado, explica a Abiquim.

De janeiro a setembro, a produção mostra alta de 8,4%. A expectativa é de que o setor encerre o ano com crescimento entre 6% e 7%, uma vez que os meses de novembro e dezembro são mais fracos. O índice de vendas internas deve fechar outubro com crescimento sobre o anterior, quando caiu 1,57%.

O setor de eletroeletrônicos é outro que deve registrar um desempenho positivo em outubro. O presidente da Associação Brasileira de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Paulo Saab, avalia que as vendas foram bem no mês passado, tradicionalmente o melhor período do ano para o setor, devido às encomendas do varejo. “Os indicadores iniciais sugerem que as vendas não decepcionaram”, afirma ele, que hoje projeta um crescimento para o setor superior a 15% nas vendas industriais neste ano. A previsão anterior era de 7% a 10%.

Saab acredita que o segmento vai terminar 2004 com 33 milhões de unidades vendidas. “É uma recuperação, mas ainda estamos abaixo dos 35 milhões atingidos em 2000.” A melhora da confiança do consumidor, devido à situação mais favorável da economia, e a maior oferta de crédito impulsionaram as vendas, num cenário de demanda reprimida por eletroeletrônicos, de acordo com Saab.

No setor de aços o tempo também é bom. Em outubro, as siderúrgicas despacharam 910 mil toneladas, o terceiro recorde seguido do ano, afirma Carlos Loureiro, presidente da Distribuidora Rio Negro. Em setembro, foram 906 mil toneladas.

Já no último bimestre, espera-se uma acomodação ou mesmo queda, uma vez que a produção de bens duráveis – que utiliza largamente o aço na confecção de seus produtos – diminui nesse período, explica Loureiro. Mas a queda será inferior a de outros anos.

Um setor que deve surpreender em dezembro é o automotivo. “Sabemos que a produção vai cair, mas menos do que nos anos anteriores, pois as exportações vão aquecer com mais força a produção”, acrescenta o presidente da Rio Negro. Em outubro, a produção de veículos cresceu 13% em relação ao mesmo mês do ano anterior e as exportações, por sua vez, cresceram 19,3% na comparação com outubro de 2003.

O economista Julio Callegari, da Tendências Consultoria Integrada, viu alguma desaceleração nos números da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Segundo ele, no período entre agosto e outubro, as vendas no mercado interno caíram 3,6% em relação ao registrado entre maio e junho, excluindo-se fatores sazonais. “A economia deve continuar a crescer, mas a uma velocidade menor.” A Tendências acredita que a produção industrial em setembro – que será divulgada hoje pelo IBGE – deve mostrar estabilidade em relação a agosto, na série livre de influências sazonais.

Abilio Diniz, controlador do Pão de Açúcar, acredita que a reação do consumo, já verificada no terceiro trimestre, quando as vendas nas mesmas lojas da rede varejista aumentaram 9% em relação a igual período de 2003, irá se sustentar no quarto trimestre e em 2005. “Não temos sentido uma pressão inflacionária. O índice interno de preços do Pão de Açúcar está bem abaixo do IPA”, diz Diniz, que considera “um pouco exagerada” a preocupação do governo com a inflação.

O mês de novembro, porém, tende a ser mais fraco em 2004 pelo calendário desfavorável. Neste ano, há um fim de semana a menos, o que, para o varejo, influencia o resultado, explica Diniz. A rede também conseguiu melhores condições nas negociações com os fornecedores, o que lhe permitiu elevar a margem bruta em um ponto percentual, para 29,8% no terceiro trimestre. A rede ampliou ainda o prazo médio de pagamento aos fornecedores, que há um ano era de 39,7 dias, para 48,3 dias.

O presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), João Carlos de Oliveira, espera um fim de ano razoavelmente positivo. Ele espera que o setor termine 2004 com crescimento de 3% nas vendas reais. No acumulado em 12 meses até setembro, a expansão era de 1,77%. Oliveira acredita que as vendas podem crescer 10% a 12% no Natal. “Deve ser o melhor Natal dos últimos três anos, mas não deve ser nada esplendoroso. 2003 foi um ano terrível – as vendas caíram 4,5%.” Uma alta mais forte dos juros, porém, pode afetar um pouco o resultado, avalia.

A produção da indústria de fundição foi maior em setembro na comparação com agosto e deve seguir neste ritmo no último trimestre do ano, diz Luis Carlos Koch, presidente da Associação Brasileira de Fundição (Abifa). A produção diária cresceu 2,7% em setembro, passando de 11.339 toneladas para 11.640 toneladas. Em outubro, os números devem ficar próximos a 11.500 toneladas. No ano, espera-se um incremento da produção de 20%, com mais de 80% das vendas voltadas ao consumo interno.

Valor Online
10/11/2004