Economia latino-americana vive estado de idílio
09/01/2009
A América Latina costumava ser um item habitual na lista de lugares problemáticos para o investimento global, mas não é mais. Hoje não há calotes da dívida, nem trocas de ministros da Economia, nem tumultos nas ruas –pelo menos não muitos.
Em vez disso, a inflação, as taxas de juros e a dívida pública estão caindo, e o crescimento em outros lugares do mundo está fazendo subir os preços de matérias-primas como cobre, minério de ferro e ouro –pilares de algumas economias sul-americanas.
As conquistas da região se refletem no súbito florescimento de suas bolsas. Os índices de referência no Brasil, Argentina e México subiram até um terço desde a primavera.
Não somente isso, mas muitas moedas da região se valorizaram no mesmo período. Um investidor em dólares em ações brasileiras ou chilenas teria visto seus ganhos aumentarem cerca de 10 pontos percentuais, e investidores que pensam em euros ou ienes teriam experimentado retornos ainda maiores.
“Todo o ambiente macroeconômico global é favorável aos países latino-americanos”, disse Liu-Er Chen, administrador do fundo Evergreen Emerging Markets. “Nos últimos 24 meses houve uma enorme mudança nos países latino-americanos.”
Onde está o “mas”? Na política.
As eleições nos mercados emergentes tipicamente são precedidas de quedas no preço das ações, e os estrategistas e administradores de fundos salientam que há eleições marcadas em vários países, incluindo a Argentina neste fim de semana, a Venezuela e o Chile este ano e o México e o Brasil no ano que vem.
“As eleições sempre foram uma fonte de volatilidade nos mercados emergentes”, escreveu Benoit Calderon, estrategista da AXA Investment Managers, em uma nota aos investidores.
Os governos latino-americanos tendem a se inclinar à esquerda ou mais à esquerda, e os candidatos geralmente fazem tantas promessas ao eleitorado quantas forem necessárias para conquistar o cargo, assustando os investidores.
Três anos atrás, por exemplo, a ansiedade antes da eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez o rendimento dos títulos da dívida brasileira subirem de 8 pontos percentuais acima dos títulos do Tesouro americano para 24 pontos, fazendo as ações caírem cerca de 40%.
Calderon acrescentou, porém, que “as políticas macroeconômicas tranqüilizadoras” do governo Lula fizeram as margens voltarem a seus níveis anteriores em poucos meses. Os preços das ações mais que se recuperaram, triplicando em cerca de um ano e meio.
“A grande maioria dos países da região já experimentou uma transição política”, disse Calderon. Ele sugeriu usar qualquer queda nos preços das ações “como uma oportunidade de compra em países com fundamentos sólidos e onde o risco político foi exagerado, como o México e a Colômbia”. Mas advertiu os investidores para ficarem de olho em uma “piora da crise política no Brasil”, causada, ironicamente, por uma queda da popularidade de Lula.
Chen não está preocupado. “Todo mundo compreende que com qualquer novo governo as coisas têm de mudar”, ele disse, sem se referir a qualquer país em particular. “Quando as políticas mudam, as companhias podem ganhar muito dinheiro”, ele acrescentou.
A perspectiva de manutenção do ambiente político favorável é apenas um dos fatores que faz o fundo de Chen continuar firme na região, mesmo depois da grande recuperação. “Parte do motivo pelo qual eu acho que ainda temos um caminho a percorrer é que há companhias muito atraentes que ainda são negociadas por baixo valor”, ele disse.
Entre suas opções no México está a Femsa, que possui 50% da franquia de engarrafamento da Coca-Cola e também tem interesses em cervejarias e varejo; a Teléfonos de México e sua subsidiária de celular, América Móvil.
Chen também gosta de duas das maiores companhias brasileiras: a Vale do Rio Doce, ou CRVD, um “ator dominante” nos mercados de aço e minério de ferro, e a Petróleo Brasileiro, ou Petrobras. “Esta costumava ser o monopólio estatal de petróleo e gás”, ele disse, “mas a empresa agora está se tornando mais global”.
Notando que sua produção deverá alcançar 1,8 milhão de barris diários dentro de dois anos, ele disse: “Se os preços do petróleo ficarem em US$ 50 a US$ 60 o barril, há tendência de alta” das ações.
Chen elogiou as perspectivas de ações em mercados menores, incluindo a Cresud, uma companhia argentina com interesses em imóveis e agricultura, e o banco BanColombia, da Colômbia.
Enquanto os mercados da região estão atraindo muitos investidores transitórios, Chen está menos preocupado com o dinheiro quente do que com as economias superaquecidas. “Se a inflação voltar, vai matar a economia americana e isso matará todo mundo”, ele advertiu. “Se a inflação se tornar uma questão séria nos EUA, será o fim da música para a América Latina.”
Fonte:
Herald Tribune
Uol Economia
Conrad de Aenlle
22/10/2005