Economia: acirramento da crise nos eua faz ibovespa cair mais de 7%

16/09/2008

SAFRAS  – O noticiário econômico evidencia cada vez mais a falta de credibilidade das instituições financeiras norte-americanas e, com isso, o mercado acionário mundial vem sendo um dos mais atingidos. A saída maciça de investidores estrangeiros fez o Ibovespa encerrar o pregão desta segunda-feira em queda de 7,59%, a 48.

416 pontos, com volume financeiro de R$ 6,570 bilhões.

Foi a maior queda registrada desde 11 de setembro de 2001, e a menor pontuação desde 16 de agosto de 2007. O exercício de opções sobre ações movimentou R$ 1,16 bilhão.

"A crise nos Estados Unidos é realmente séria e o dia foi de nervosismo", afirmou o diretor-executivo da Mapfre DTVM, Elíseo Viciana. Para ele, todas as principais instituições norte-americanas estão com a credibilidade abalada.

"Não se sabe qual o impacto da quebra do Lehman Brothers, falam em US$ 613 bilhões. É o maior default que já vi nos meus 20 anos de mercado. Falam que a AIG, maior seguradora do mundo, está à beira da falência. Ela é uma instituição maior que o Lehman. Outros bancos como o Goldman Sachs, Morgan Stanley, Citibank e Bank of America também não estão em situação confortável", acrescentou.

O executivo acredita que o pregão de amanhã continuará trazendo turbulência e indefinições aos investidores. "O mercado vai esperar alguma definição em relação à AIG e o Lehman. Mas é arriscado fazer alguma previsão enquanto não se souber a real extensão dos prejuízos." O advogado José Eduardo Carneiro Queiroz, sócio da área de Mercado de Capitais do escritório Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados, vê conseqüências da crise de crédito já na economia real. "A preocupação foi reforçada pela percepção de que a crise está se alastrando e não se sabe onde ela vai parar", observou. "E a primeira conseqüência disso é a restrição ao crédito." Segundo ele, o Brasil está "confortável", com uma economia real aparentemente bem. "As commodities estão em queda, mas ainda a um preço razoável", afirmou.

A seguradora norte-americana American International Group (AIG) recebeu nesta segunda-feira uma permissão especial do governador de Nova York, David Paterson, para utilizar até US$ 20 bilhões de seu próprio capital para cobrir despesas diárias e aumentar sua liquidez, segundo informações de agências internacionais. Também hoje, o jornal "The New York Times" publicou reportagem na qual diz que a AIG poderia buscar um empréstimo-ponte de US$ 40 bilhões do Federal Reserve (Fed), para tentar evitar o rebaixamento por parte das agências de classificação de risco, o que poderia tornar a situação da companhia ainda mais complicada. "Uma pessoa próxima à situação afirmou que se isso ocorresse a AIG não duraria mais do que 48 horas ou 72 horas", afirmou o "NYT".

Depois do pedido de concordata do banco Lehman Brothers, as três maiores agências de classificação de crédito (Standard&Poor's Ratings Services, Moody's Investors Services e Fitch Ratings) rebaixaram suas notas do banco, refletindo o enfraquecimento da capacidade de pagamento da instituição. E a Moody's colocou em revisão para possível rebaixamento o rating de crédito de longo prazo do Bank of America Corporation (BofA) e o de força financeira. As ações de rating seguem a notícia da aquisição do Merril Lynch pelo BofA, por cerca de US$ 50 bilhões, anunciada pela manhã. O negócio agora deve ser submetido à aprovação dos acionistas e dos órgãos reguladores.

Como nova evidência de que a economia norte-americana está perdendo força, o Fed anunciou que a capacidade utilizada da indústria caiu de 79,7% em julho para 78,7% em agosto. O ritmo de desaceleração foi maior que os 79,6% projetados pelos analistas. A produção industrial do período caiu 1,1%, bem acima da queda de 0,3% estimada. Em julho, a produção havia crescido 0,1%.

Segundo o índice NY Empire State Index, indicador do Fed que mede a produção da região industrial de Nova York, a atividade produtiva ficou negativa em 7,4 pontos em setembro. O mercado esperava desaceleração para até 1,4 ponto positivo, ante 2,8 pontos de crescimento de agosto.

Com a queda generalizada do mercado brasileiro hoje, apenas uma entre as 66 ações listadas no Ibovespa terminou o dia em alta: a Comgás (CGAS5), que subiu 0,51%, a R$ 39,20. Durante o dia, as ações chegaram a seguir o movimento do mercado, atingindo a mínima de R$ 38,02. No fórum Rio Oil & Gas o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que a crise interna na Bolívia e a ameaça de interrupção no fornecimento de gás ao Brasil não vão afetar o suprimento de gás ao Brasil. O ministro disse que o despacho de 31 milhões de metros cúbicos diários já foi completamente normalizado e que o país vizinho tem procurado garantir o envio e manter os contratos, mesmo com a atual instabilidade política.

O dia foi repleto de importantes notícias no cenário corporativo, mas com o forte recuo do índice, a repercussão foi mínima. A maior queda foi da BM&FBOVESPA (BVMF3), que perdeu 13,93%, a R$ 8,40, devido à expectativa de que o volume de negócios no mercado brasileiro continue em queda, à medida que a aversão ao risco persiste.

As ações ordinárias e preferenciais da Petrobras também tiveram um dia de queda. O desempenho dos papéis também foi agravado pelo forte recuo no preço do petróleo no mercado internacional que, após conseguir recuar para abaixo dos US$ 100 agora de aproxima dos US$ 90. As ações PETR3 caíram 9,94%, a R$ 36,40, enquanto PETR4 recuou 9,69%, a R$ 29,80.

A diretoria executiva da estatal aprovou a contratação de dez novas unidades de produção de óleo do tipo FPSO (Floating Production Storage and Offloading) para serem utilizadas na área do pré-sal, na bacia de Santos – duas delas serão afretadas (contratos de aluguel) de terceiros e terão capacidade de produção diária de 100 mil barris de óleo e 5 milhões de metros cúbicos de gás natural. As duas plataformas serão instaladas entre 2013 e 2014 em áreas a serem definidas, e as outras oito unidades serão detidas em propriedade pela Petrobras e terão capacidade de produção diária de 120 mil barris de óleo e 5 milhões de metros cúbicos de gás natural.

Também hoje, o setor de papel e celulose viu a definição da aquisição da Aracruz pela Votorantim Celulose e Papel (VCP). O grupo Safra (Arainvest) optou por não se desfazer dos seus ativos na Aracruz, e assim se torna acionista na nova empresa, que será criada a partir da cisão da companhia e da VCP. O mercado já previa o resultado, mas o que surpreendeu foi o fato de que o Safra irá pagar R$ 530 milhões à VCP para que os ativos sejam "equilibrados" e o grupo não seja apenas um acionista minoritário, mas passe a deter 50% do capital votante da nova companhia. As ações ARCZ6 caíram hoje 6,01% a R$ 8,60, enquanto VCPA4 perdeu 5,36%, a R$ 34,95. As ações ordinárias da ARCZ3, com um volume de negócios muito baixo, recuaram 11,39%, cotadas a R$ 10,50.

Além disso, outras importantes ações de empresas listadas no Ibovespa, além da BM&FBOVESPA e da Petrobras, terminaram o dia com queda superior a 9%. A Vale PNA (VALE5), por exemplo, caiu 9,86%, a R$ 33,62, enquanto a Telemar Norte-Leste (TMAR5) perdeu 9,53%, a R$ 54,01, e a CSN (CSNA3) teve desvalorização de 9,32%, a R$ 46,11.

A GVT (GVTT3), que não faz parte do Ibovespa, terminou o dia com perdas de 7,73%, a R$ 30,54. Nesta segunda-feira, a companhia informou que a empresa Swarth, acionista indireta que, juntamente com a GVT Holland, forma o grupo de controle da companhia, assinou contrato de compra de 5 milhões de ações ordinárias, o que resultará em aumento de 3,9% na sua participação acionária na empresa. Com a conclusão do negócio, a participação da Swarth aumentará de 8,1% para 12% do total de ações emitidas pela companhia, enquanto que a GVT Holland passará a deter participação de aproximadamente 19%, não alterando, portanto, o controle da companhia, atualmente já exercido em conjunto por Swarth e GVT Holland.

As ações com o maior volume financeiro negociado foram as preferenciais da Petrobras, com R$ 1,098 bilhão, seguida pela Vale PNA, com R$ 743,051 milhões, e pela CSN, com R$ 203,439 milhões. As informações partem da Agência Leia.

 

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