É preciso estimular internacionalização das empresas brasileiras
09/01/2009
Apesar dos bons resultados das exportações do Brasil nos últimos anos, ainda é brutal o atraso na participação de empresas brasileiras internacionalmente, se comparado aos movimentos de capital e realocação da produção que ocorrem na economia mundial. Com a mudança na geografia econômica global, onde despontam atores como China e Índia, ou o País acelera o processo de internacionalização de suas companhias ou corre o risco de perder o espaço que tem conseguido conquistar. A análise faz parte de um estudo elaborado pelos economistas José Roberto Mendonça de Barros e Lídia Goldenstein e pelo embaixador Rubens Barbosa no âmbito da Fiesp e apresentado nesta terça-feira, 25, na sede da Federação.
A pesquisa definiu como internacionalização “qualquer operação internacional de uma empresa, seja pela via do comércio ou de formas mais sofisticadas de relações com o exterior (como o estabelecimento de alianças estratégicas, as várias formas de associação e de aquisição de empresas ou a construção de subsidiárias próprias para produção no exterior)”. Para os pesquisadores, ainda que, em alguns casos, possa haver perdas localizadas de empregos e capitais, o efeito líquido do processo de internacionalização é altamente positivo, já que, a longo-prazo, reverte-se em crescimento e mais empregos no país de origem.
Embora ainda exista um longo caminho para a ampliação do número de empresas brasileiras internacionalizadas, segundo os responsáveis pela pesquisa, as transformações pelas quais passaram o empresário brasileiro levaram, sim, ao surgimento de uma nova cultura empresarial no País. Esse processo teve início com a abertura da economia brasileira nos anos 90, que impôs aos executivos nacionais um novo desafio: para sobreviver no mundo globalizado, era preciso aumentar a qualidade de seus produtos e ter preços tão competitivos quanto o dos importados. Muitas indústrias não conseguiram adaptarem-se e acabaram sucumbindo.
Com o lançamento do Plano Real e o câmbio subvalorizado, a facilidade na importação de bens de capital favoreceu a modernização das fábricas e ao aumento na escala de produção. No entanto, no final daquela década, a inversão da política cambial, a retração do mercado interno e a percepção pelo governo federal da importância dos superávits comerciais, levou ao lançamento de medidas de incentivos à exportação, como a desoneração fiscal. Já reestruturadas, as empresas começaram a enxergar o mercado externo não mais como uma válvula de escape, mas, sim, como uma necessidade.
Hoje, a participação do empresário brasileiro no mercado mundial é uma realidade. Com isso, consegue-se sobreviver ao “stop and go” do mercado interno (atualmente, muito mais estável, ressaltaram os três consultores), além de serem as exportações o único meio para reduzir o pagamento de impostos no Brasil, como ressaltou Mendonça de Barros. Embora hoje o câmbio esteja novamente valorizado, ele afirmou que as vendas externas continuam sendo extremamente positivas para o produtor. Com o aumento dos preços internacionalmente e a crescente demanda, basta ter produtos competitivos e fazer um constante trabalho de prospecção de novos clientes – e, não, apenas esperar que eles surjam. “O câmbio é um desafio muito grande, mas não maior do que foi no passado. Agora, é importante enxergar outros desafios, como os de infra-estrutura”, disse.
Propostas
Goldenstein afirmou que é a diferenciação do produto que garantirá seu sucesso no exterior. E citou o caso das sandálias Havaianas que, com o “poder da marca”, vende o estilo brasileiro no mundo todo.
Na opinião de Rubens Barbosa, para competir no mercado mundial, é também imprescindível que se aumente os investimentos em pesquisas e em respeito à propriedade intelectual. O embaixador reforçou ainda que as empresas precisam passar por uma reestruturação e formulação de uma estratégia para que consigam se internacionalizar. A constante e eficaz escolha de mercados-alvo, a busca por parceiros locais (no outro país) e o conhecimento das características específicas do mercado que se deseja atingir são outras ações sugeridas como determinantes para o sucesso das empresas que desejam crescer no exterior.
Os consultores advertem ainda que a ampliação da participação do Brasil no comércio mundial e a sobrevivência das indústrias nacionais com a nova abertura pela qual passará em breve a economia – após a conclusão dos diversos acordos comerciais que vêm sendo negociados (OMC, Alca, União Européia x Mercosul) –, está condicionada à preparação do empreendedor interno por meio de políticas públicas e privadas. O estudo sugere, por exemplo, a negociação de acordos de bitributação com os grandes parceiros do Brasil, como os Estados Unidos, a dedução fiscal dos investimentos realizados no exterior e uma maior participação de entidades de classe, como a Fiesp, na formação de executivos mais globalizados.
Fernanda Cunha – Agência Indusnet Fiesp