Dólar deve atingir R$ 1,73 no fim do ano com novo imposto

20/10/2010

SÃO PAULO – O aumento de 4% para 6% na alíquota do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF) para investidores estrangeiros que aplicam em renda fixa e que visa combater a desvalorização do real frente ao dólar deve ter uma reação a curto prazo, contudo, no longo prazo esta medida não terá nenhum efeito. A afirmação é do presidente da Associação brasileira de Comércio Exterior (Abracex), Roberto Segatto.

De acordo com analistas do setor internacional, a medida deve trazer alguns benefícios imediatos e responde pela pressão do setor que já havia sentido o efeito do dólar abaixo de R$ 1,70.

"Teremos uma pequena melhora real. O dólar deve subir nesta semana e manter na próxima, mas depois voltará a cair. Ou seja, melhorar mesmo de fato e com efeito duradouro não vai, por que a entrada de capitais estrangeiros é maciça. Nesses próximos 15 dias vai ajudar um pouco, deve cair de 5% a 10% a entrada de capitais, mas isto no máximo. Precisaríamos de uma série de medidas para conter a desvalorização do real. Há uma oferta excessiva de dólares em decorrência da impressão de moeda norte-americana sem controle e aqui mesmo com a alta do IOF pagasse melhor, então vem tudo para o Brasil. O País está sólido para investimentos", ressalta o presidente da Abracex.

O professor da Trevisan, Alcides Leita afirma ainda que o aumento do IOF terá um efeito a curto prazo. "Acredito que daqui três a quatro meses, as entradas de capital estrangeiro voltarão a um fluxo intenso", relata.

Após o anúncio, o ministro da Fazenda Guido Mantega afirmou que poderão ser adotadas novas medidas para conter a valorização do real. "Poderemos tomar novas providências, contudo, é preciso cautela para não usar mais remédio que o necessário."

Para o professor da ESPM, Francisco Turolla, a nova taxação do IOF não será suficiente para conter a entrada de dólares. "A medida não irá conter a entrada e sim selecionar os investidores. É um pedágio mais caro, ele claro irá conter um pouco do fluxo de entrada, mas prioritariamente irá selecionar. A necessidade real do País é de medidas estruturais como reforma fiscal e maior competitividade interna", disse.

"Devíamos impor uma limitação de prazo, ter uma obrigação de tempo de permanência do dinheiro no País. Outra medida seria a de gastar dólar, é o momento ideal para a modernização industrial, assim geraríamos emprego e gastaríamos o dinheiro excedente. A balança ficaria com déficit, mas é melhor termos resultado negativo agora para depois termos um positivo, pois daqui a um tempo teremos a explosão de uma bolha e não teremos competitividade e um problema com o dólar a R$ 1,20 novamente", pontua Segatto.

De acordo com o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Evaldo Alves, o objetivo do governo é diminuir o volume de investimentos em papéis de curto prazo que vem crescendo de forma preocupante.

"Por outro lado, a recente decisão do governo norte-americano de aumentar a liquidez do mercado internacional também vai aumentar o volume de recursos disponíveis para investimentos, sobretudo, os de curto prazo. Na segunda-feira a cotação da moeda americana chegou a R$ 1,66."

Alves ressalta ainda que o dólar continuará a cair, mesmo com o aumento do IOF. "Apesar das medidas adotadas pelo governo, a tendência de queda da moeda americana deverá continuar porque são reflexo das dificuldades inerentes à lenta recuperação da economia dos Estados Unidos, levando os investidores a buscar mercados alternativos para suas aplicações, pressionando mais ainda no sentido da desvalorização do dólar. O sistema produtivo americano está longe de atingir níveis de desempenho semelhantes aos cenários anteriores à crise de 2008".

A expectativa de analistas do mercado financeiro para a cotação do dólar ao final deste ano caiu de R$ 1,75 para R$ 1,70, segundo o boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira pelo Banco Central. Para o final de 2011, a projeção permanece em R$ 1,80 há quatro semanas. Ontem o dólar fechou em R$ 1,687. "Neste ano o dólar deve realmente fechar em R$ 1,73", frisa Turolla.

A valorização do real em relação ao dólar, para Mantega tem como motivo a forte entrada de dólares no país por conta da capitalização da Petrobras.

O Focus também traz a previsão para o superávit comercial (saldo positivo de exportações menos importações), que permanece em US$ 15,85 bilhões, este ano, e foi alterada de US$ 9,5 bilhões para US$ 9 bilhões, em 2011. "Em setembro tínhamos superávit de US$ 11,5 bilhões, se continuar assim terminaremos o ano com US$ 8 bilhões" conclui o presidente da Abracex.

Fonte:
DCI