Destino da taxa básica de juros está selado: subirá de 11,25% para 11,5% em abril
09/01/2009
SÃO PAULO – Se não bastasse a clareza do seu Relatório Trimestral de Inflação, a entrevista dada pelo diretor de Política Econômica do Banco Central, Mário Mesquita, para divulgá-lo não deixou a menor dúvida de que o Copom irá cumprir já na próxima reunião (16 de abril) as ameaças de elevar a taxa Selic.
Os contratos curtos negociados no mercado futuro de juros da BM&F dispararam e passaram a precificar virtualidade de 100% de alta de 0,25 ponto na taxa. O destino da Selic está selado: ela avançará de 11,25% para 11,50% em abril. E, segundo o DI, há enorme chance (chance para os comprados em taxa, risco para os vendidos) de o ritmo de alta acelerar-se para 0,5 ponto no Copom seguinte, dia 4 de junho.
A taxa para julho subiu 0,06 ponto, para 11,45%. O CDI para outubro avançou 0,07 ponto, a 11,91%, mesma aceleração do CDI previsto para a virada do ano, agora em 12,30%. Mas os DIs mais longos caíram. Enquanto a taxa para janeiro de 2010 permaneceu estável em 13,25%. o CDI estimado para janeiro de 2011 recuou 0,01 ponto, para 13,41%, e o previsto para janeiro de 2012 tombou 0,11 ponto, para 13,37%.
Essa modulação – alta para os contratos curtos e baixa para os longos – reflete a percepção de que o aperto monetário a ser iniciado em abril será, embora leve, vitorioso e, por isso, de curta duração. Logo a ameaça inflacionária será debelada e a taxa poderá se flexibilizar. Esse foi o entendimento do recado contido na seguinte frase de Mesquita: “O BC, que espera a inflação divergir muito em relação à meta para agir, tem que atuar de forma mais intensa e por mais tempo, o que tende a ser danoso para a atividade econômica”.
As declarações, o texto e os números do Relatório de Inflação confirmam a alta da Selic. Para quem é ortodoxo, é inadmissível e intragável projetar para este ano, como faz o cenário de referência do BC, IPCA de 4,6%, já acima da meta, supondo Selic estável em 11,25% e câmbio a R$ 1,70.
E ontem o dólar subiu 0,52%, para R$ 1,7360. De duas, uma: ou o câmbio afunda mais ainda ou a Selic sobe. Como a Fazenda não deixará que o real se aprecie ainda mais, resta jogar o juro básico para cima. Quem manda é o BC: o Relatório provocou alta dos DIs num dia em que os indicadores sugeriam o oposto.
O Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) da indústria paulista caiu de 83,7% em janeiro para 83,3% em fevereiro. E o desemprego, segundo o IBGE, subiu de 8% para 8,7% no mês passado quando se esperava queda para 7,6%. Mas o BC acha que tem um ” estreitamento do hiato do produto ” e que a demanda está excessivamente robusta.
Parte considerável dos economistas de bancos que apostava na manutenção da Selic em 11,25% no próximo Copom (16 de abril) escorava esta certeza na condicionalidade estabelecida pelas expectativas de IPCA abaixo da meta central de 4,5% de inflação para este ano e o próximo.
Enquanto o prognóstico de inflação do Focus permanecer abaixo de 4,5% – pelo último, divulgado na segunda-feira, está em 4,44% para o acumulado de 2008, em 4,33% para os próximos 12 meses e em 4,30% para o ano de 2009 -, o Copom não teria respaldo técnico ou moral para subir o juro básico. O Relatório de Inflação destrói essa condicionalidade.
Após longa peroração sobre as condições precárias em que são forjadas as “expectativas de inflação”, o Relatório explicitamente sentencia à morte o que antigamente era a razão de ser do sistema de metas de inflação. Diz, sem meias-palavras: “Ainda que permaneçam em linhas gerais consistentes com a trajetória de metas, as perspectivas para a inflação estão cercadas por maior incerteza”.
Se é assim, elas não servem para nada e o Copom se sentirá livre para subir o juro mesmo que as expectativas estejam em linha com a trajetória das metas. O que era sagrado e intocável virou descartável. O que o Copom fará para reabilitar o dogma das “expectativas inflacionárias” quando a sua invocação voltar a ser conveniente?
Evidentemente, não se está diante de um Copom preocupado em preservar a coerência ou a credibilidade. Ele quer subir o juro, é isso o que fará, e as justificativas são moldáveis e mutantes no tempo como os textos oficiais.
Com o seguinte trecho do Relatório – “O risco de materialização de um cenário inflacionário menos benigno no médio prazo se elevou. Diante da continuidade do aquecimento da economia, conforme atestam as contas nacionais relativas ao último trimestre de 2007, e da elevação das expectativas de inflação, são relevantes os riscos de que os resultados favoráveis por ora observados não se sustentem em horizontes mais longos” -, o BC está dizendo que as cem instituições que alimentem o Focus de previsões não sabem fazer previsões. É por isso que ele não vai respeitar a sinalização do Focus e vai subir o juro.
Trata-se do pleno exercício discricionário do poder da autoridade monetária. Para quê sistema de metas e boletim Focus, então? O desejo de exercer o poder discricionário está bem nítido quando o Relatório arremata: “É importante salientar que, embora as expectativas ainda se encontrem marginalmente abaixo da meta, para que as mesmas permaneçam em patamares compatíveis com a trajetória de metas, diante dos riscos que se apresentam para o cenário prospectivo, cabe à autoridade monetária estar pronta para atuar de forma preventiva”.
Fonte:
Luiz Sérgio Guimarães
Valor Econômico