Desaceleração reduz empréstimos do BNDES

09/01/2009

GUILHERME BARROS

A desaceleração da economia também atingiu o desempenho do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Os desembolsos do banco no início do ano estão abaixo do previsto. “De fato, a demanda arrefeceu um pouco, mas eu acho que estamos num momento de observar para podermos tirar uma conclusão sobre a trajetória futura”, diz Demian Fiocca, vice-presidente do BNDES. “Estamos num ponto que os economistas chamam de sinais mistos.”

Fiocca acha ainda cedo para dizer se o BNDES irá ou não cumprir o orçamento recorde de desembolso de R$ 60 bilhões para este ano. Segundo ele, não dá ainda para fazer uma extrapolação para o ano todo com o desempenho até abril. Nos quatro primeiros meses, as liberações caíram 2% e as consultas, 6%.

O vice-presidente do BNDES admite, no entanto, que a meta traçada para este ano, de R$ 60 bilhões, 50% a mais do orçamento de 2004, é bastante ambiciosa. “Quando se estabelece uma meta dessa é uma forma também de mobilizar o banco para dar um sinal aos empreendedores de que há bastante espaço para aqueles que quiserem fazer investimentos de maior porte”, diz o vice de Guido Mantega, presidente do banco.

Fiocca afirma que o principal objetivo do BNDES não é o desembolso puro e simples e sim o de contribuir para a taxa de investimento da economia. De acordo com ele, o fato de as liberações de dinheiro do banco estarem abaixo do previsto não significa necessariamente que a economia esteja indo mal.
O banco está atualmente fazendo alguns estudos para identificar onde estão os gargalos que fazem com que os desembolsos estejam em queda neste ano. Uma das conclusões foi que os empréstimos à exportação, por exemplo, que, no ano passado, representaram 30% do orçamento do banco, estão bem mais fracos agora.
De acordo com Demian Fiocca, as empresas de exportação estão trocando o dinheiro do BNDES por empréstimos em dólar. “A oferta de crédito externo é boa, a percepção do sistema financeiro sobre o risco exportador do Brasil também é positiva e o exportador está conseguindo empréstimo em dólar mais barato”, diz Demian.

Dessa forma, a parte do orçamento do BNDES dedicada à exportação está sofrendo por conta dessa substituição no crédito. “Esta é uma das causas que identificamos para a queda da demanda para os financiamentos voltadas para a exportação”, afirma Fiocca.
Há outros programas que também estão demandando menos recursos. Um deles, por exemplo, é o de distribuição de energia. O programa foi elaborado depois da crise de racionamento de 2001 e o seu objetivo era o de capitalizar as empresas de energia para poderem se preparar para novos investimentos no setor. “O objetivo era de assegurar a solidez do setor”, diz Fiocca.

O problema, segundo Fiocca, é que o setor se recuperou sozinho e não precisou mais do dinheiro do BNDES, o que também está fazendo com que os desembolsos sejam menores.
O setor agrícola, segundo Fiocca, também está demandando menos recursos. Na sua opinião, o que aconteceu com o setor é que, nos dois últimos anos, as empresas agrícolas investiram bastante. Houve um grande ciclo de investimentos em modernização e compra de equipamentos, o que significa que, hoje, a necessidade do setor é menor. “O setor se modernizou e não necessita tanto mais de novos equipamentos”, diz Fiocca. A seca no Sul e a quebra da safra também abalou o apetite por crédito do setor.

Estímulo
Diante desse quadro, Fiocca diz que o BNDES está tomando uma série de medidas para poder estimular as empresas a captarem recursos no banco. Uma delas, por exemplo, anunciada recentemente, foi a de reduzir os “spreads” de diversas linha do banco em um ponto percentual, que pode ser pequeno, mas em relação ao “spread” anterior, de 1,25%, representa 80% da remuneração do banco.

Além disso, o BNDES também adotou uma série de procedimentos para agilizar a aprovação de empréstimos pela diretoria. Os clientes mais tradicionais do banco ganharam, por exemplo, uma espécie de cheque especial para poder ter acesso mais rápido aso recursos.

Folha online
4/6/2005