Crisi politica sacode os mercados, dólar a R$ 2,45

09/01/2009

SÃO PAULO, 19 de agosto (Reuters) – Balanços oficiais sobre dívida pública, crédito e política fiscal lotam a agenda da próxima semana, em que o principal destaque pode ser a divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom).

Mas a repercussão dos eventos econômicos, incluindo a ata do Copom, estará condicionada ao cenário político que sacudiu o mercado financeiro nesta sexta-feira.

As agudas variações dos principais ativos financeiros em poucos minutos de negócios foi uma amostra da reação do mercado a qualquer ameaça de mudança na condução da política econômica.

A arrancada do dólar e dos juros, em contraponto à queda das ações e dos títulos da dívida externa brasileira negociados no mercado internacional nesta sexta-feira, ocorreu de bate-pronto aos comentários do advogado Rogério Buratti, ex-assessor do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, quanto este era prefeito de Ribeirão Preto.

Em depoimento sob o mecanismo da delação premiada, que prevê redução de pena por colaboração com a Justiça, Buratti acusou Palocci de receber propina de empresa da área de limpeza pública Leão Leão quando era prefeito de Ribeirão Preto, segundo relato do promotor Sebastião da Silveira.

O nervosismo do mercado justifica-se por Palocci ser visto como guardião da política econômica em curso, que tem gerado resultados positivos e de forte repercussão internacional.

Ante o risco do fim de semana ser embalado por novas revelações, tesourarias bancárias, fundos de investimentos e grandes investidores apressaram-se a desfazer ou a cobrir posições –movimentação que levou grande instabilidade a todos os segmentos de negócios.

O ministro Palocci negou “com veemência”, em nota, ter recebido propina da empresa Leão & Leão quando prefeito.

Solavanco
Apesar da negativa do ministro da Fazenda, os ativos financeiros não se recuperaram da deterioração vista no início dos negócios.

O dólar subiu 2,9% na sexta-feira e fechou o dia colado em R$ 2,45, exibindo alta de 4,16% em duas sessões. Este avanço é semelhante ao registrado também na quinta e sexta-feiras da semana anterior.

A taxa de câmbio é normalmente monitorada com atenção pelo mercado, mas o comportamento da moeda ganhou importância na avaliação dos bancos depois da decisão tomada pelo Copom, na última quarta-feira, de manter a Selic inalterada em 19,75% até meados de setembro.

A ata do Copom deverá justificar a decisão, e economistas acreditam que a instabilidade mais recente do dólar é uma das razões que explicam um aperto monetário mais prolongado.

Alerta
O declínio da inflação –sobretudo nos preços por atacado– é associado à taxa de câmbio.

A repetida queda dos IGP’s, que vem beneficiando os índices de preços ao consumidor, tem sido atribuída em boa medida à apreciação do real.

O mercado fica em estado de alerta, portanto, ante duas situações consideradas possíveis sobretudo após os movimentos da moeda nesta sexta-feira: de rápida e intensa desvalorização do real ou de instabilidade prolongada da taxa.

E o motivo é a ameaça que o câmbio faz principalmente às expectativas de inflação, que vão abrindo caminho para o afrouxamento monetário.

Petróleo
Nesta sexta-feira, à turbulência do mercado doméstico, em particular do câmbio, somou-se nova alta do petróleo negociado no exterior, onde os preços da commodity não dão trégua e também inspiram cuidado quanto o assunto é inflação.

A volatilidade do petróleo é apontada como outro fator de risco considerado pelo Copom na decisão de manter a Selic.

Na primeira quinzena do mês, o petróleo chegou a subir 10,5%, com o contrato para entrega em setembro alcançando US$ 67,10 na New York Commodity Exchange (Nymex).

Nos quatro pregões seguintes, portanto nesta semana, o petróleo devolveu a metade da alta acumulada –recuou a US$ 63,10.

Mas, nesta sexta, o barril voltou a superar US$ 65, justificando a expectativa de que a Petrobras não poderá adiar por muito tempo o reajuste dos combustíveis.

Além do dólar e do petróleo, o mercado estará de olho nos leilões de títulos públicos por pelo menos dois motivos:
* a curva de juros sofreu forte alta nesta sexta-feira, o que deve contaminar as taxas de retorno dos papéis federais prefixados;
* uma eventual venda de títulos por investidores estrangeiros –no caso de aumento de preocupação com risco político– pode provocar a desvalorização dos papéis públicos que já estão em circulação.

Em qualquer um desses casos, o Banco Central e o Tesouro poderão ter problemas para definir preços de venda de novos papéis.

A dívida mobiliária encerrou o mês de junho em R$ 905,51 bilhões, com prazo médio de vencimento de 27,1 meses.

Fonte:
Reuters
Angela Bittencourt
20/8/2005