Conselho da Cepal é aproveitar a onda chinesa para investir

09/01/2009

Paula Rosas Pequim, 26 abr (EFE).- A América Latina deve aproveitar a oportunidade proporcionada pela China e diversificar os destinos de suas exportações, além de aumentar o seu valor agregado, disse hoje à EFE o secretário-executivo da Cepal, o argentino José Luis Machinea.

A previsão do economista da Comissão Econômica Para a América Latina e o Caribe (Cepal) é de que a China se torne, dentro de cinco anos, o maior parceiro comercial de muitos países do continente, ou pelo menos o segundo maior. Seria um grande desafio para as economias latino-americanas, que na sua opinião não devem se limitar a exportar matérias-primas, e sim “aproveitar a oportunidade para agregar valor, e sobretudo conhecimento”.

“Se você não pegar o trem hoje, ele pode não passar de novo amanhã”, alertou o dirigente. Ele participou nesta quarta-feira de um fórum em Pequim sobre política econômica nas relações chinesas com a América Latina.

Machinea se reuniu com o vice-primeiro-ministro chinês, Zeng Peiyan, que apontou interesses comuns em diversos assuntos internacionais. Além disso, as duas áreas são “complementares em economia”, segundo Peiyan.

O argentino lembrou exemplos históricos, como o período de 1870 a 1914, quando a Europa importava matérias-primas da América Latina em grandes quantidades. “Não aproveitamos a oportunidade. Só exportamos matérias-primas e, quando acabou o ‘boom’, caímos”, analisou.

China e América Latina podem assimilar a experiência mútua em problemas como a desigualdade, a pobreza e outros temas sociais, disse Machinea. “A América Latina, para o bem ou para o mal, foi um campo de experiências” no setor, afirmou.

Apesar das diferenças culturais, históricas e políticas, ele acha que “podemos aprender muito com a China. Principalmente com a sua receita de crescimento econômico”. Nos últimos 25 anos, a economia chinesa cresceu em média 9,5% ao ano, 7 pontos a mais que a América Latina no mesmo período.

O intervencionismo estatal chinês não parece preocupar Machinea.

“As experiências asiática e chinesa mostram que pode haver desastres, mas que certas intervenções do Estado no setor produtivo podem ser úteis e eficientes”, admitiu.

Porém, ele criticou a nacionalização da exploração de recursos naturais em alguns países latino-americanos. “Precisamos de uma presença estatal mais forte que nos anos 90, mas não necessariamente voltar ao Estado produtor da década de 70”, opinou.

Um Estado forte, na sua análise, pode promover políticas sociais para combater a desigualdade na América Latina, “que é a maior do mundo, e vem aumentando nos últimos 15 anos”.

O secretário-executivo considera o superávit de países como o Brasil e Chile nas suas relações comerciais com a China uma oportunidade de “agregar valor às exportações, porque vai a situação favorável vai durar algum tempo, mas não a vida toda”.

O valor agregado está relacionado ao investimento em pesquisa e desenvolvimento. A China aplica 1,3% do seu PIB, e a América Latina só 0,5%. Em 2005, metade dos investimentos chineses no exterior beneficiou os países da América Latina. Em 2004, o presidente, Hu Jintao, já havia prometido investir pesadamente nos próximos 20 anos. Mesmo assim, Machinea acha que “ainda é pouco”.

No entanto, ele espera um aumento nos investimentos chineses. “A preocupação da China é garantir o fornecimento de matérias-primas” e vai investir na sua produção e na infra-estrutura de transportes, previu.

A presença chinesa na América Latina tem despertado preocupações nos Estados Unidos, que podem ver reduzida a sua influência econômica na região. Mas a liderança americana em comércio e investimentos ainda não foi ameaçada, disse Machinea.

A China, segundo Machinea, é um grande interlocutor internacional e será ainda mais importante nos próximos anos, apesar das dificuldades da sua economia. “Nos últimos anos, a sociedade chinesa tem se mostrado capaz de resolvendo seus problemas”, concluiu.

Fonte:
Agencia Efe