Compras no exterior foram fortes em 2007, com US$ 7 bi investidos

10/12/2008

Após a explosão de investimentos diretos do Brasil no exterior em 2006, as empresas brasileiras mantiveram a onda de internacionalização em 2007. Estudo da Fundação Dom Cabral sobre as transacionais brasileiras mostra que os investimentos de companhias nacionais no exterior somaram US$ 7 bilhões no ano passado.

A cifra é menor do que a apresentada em 2006, de US$ 27 bilhões, quando o resultado foi inflado em razão da compra da canadense Inco pela Vale. Mas segundo o professor da Fundação Dom Cabral responsável pelo estudo, Álvaro Cyrino, os dados de 2007, que equivalem a aproximadamente o triplo do total de 2005, comprovam a evolução da internacionalização de empresas.

A mineradora Vale foi a líder no ranking de 2007 das maiores transnacionais brasileiras elaborado pela Fundação Dom Cabral, seguida pela Petrobras, Gerdau, Embraer e Camargo Corrêa. As 20 maiores empresas da relação acumulam US$ 73,8 bilhões em ativos no exterior, o que representa 56,8% do total de estoque de investimento direto estrangeiro brasileiro. Esse valor é 30% superior ao apurado no ano anterior.

Segundo Cyrino, a conjuntura macroeconômica, com o acelerado ritmo de crescimento da economia mundial e a apreciação do real ante o dólar, incentivou a expansão das empresas brasileiras no exterior. Além disso, a explosão do preço das commodities no mercado internacional elevou a disponibilidade de caixa das transnacionais brasileiras.

Não por acaso, entre as principais aquisições realizadas em 2007 destacam-se operações comandadas por produtoras de matérias-primas e exportadoras. A transação com valor mais elevado, por exemplo, foi a da compra da norte-americana Chaparral Steel pela Gerdau, que somou US$ 3,9 bilhões. A Gerdau aparece na segunda colocação no ranking de aquisições, com a aquisição da Qanex Corp, também dos Estados Unidos, por US$ 1,45 bilhão. Em seguida, a compra da americana Swift pela JBS Friboi, por US$ 1,4 bilhão. Em 2007, houve 66 operações de aquisição de empresas no exterior por empresas brasileiras, segundo relatório da consultoria KPMG.

Outro fator apontado como grande impulso para a internacionalização é a necessidade de inserção das companhias brasileiras na competição global. "Para muitas empresas brasileiras, passou a imperar a necessidade de internacionalização, especialmente para as maiores. O mercado brasileiro começou a ficar pequeno para elas", afirma Cyrino.

Apesar do peso das aquisições que ocorreram nos Estados Unidos, em 2007 a América Latina continuou sendo o principal alvo das empresas brasileiras no processo de internacionalização, ao receber 34% dos investimentos estrangeiros das empresas que constam no estudo.

Segundo o professor da Fundação Dom Cabral, isso ocorre pela própria familiaridade e proximidade que as empresas brasileiras apresentam com os mercados latinos. "Em geral, a América Latina é o primeiro lugar onde as empresas brasileiras se instalam", observa. No momento em que as transnacionais brasileiras começam a ganhar mais corpo, passam para outros países, incluindo os desenvolvidos, lembra ele.

Baixo retorno – Apesar de o processo de internacionalização das empresas brasileiras estar se aprofundando, os resultados econômico-financeiros das operações no exterior ainda ficam abaixo dos registrados no mercado doméstico. De acordo com o estudo, 36% das empresas que compõem o ranking avaliaram o retorno dos investimentos externos como muito abaixo ou menor ao obtido no Brasil. Outros 36% classificaram o retorno como igual ao do mercado interno.

"Há o custo do aprendizado. Existe uma curva que precisa ser percorrida na qual as empresas pagam para aprender a operar no exterior", afirma Cyrino. Segundo ele, essa curva de aprendizado tem duração de sete a dez anos, em geral, mas o especialista destaca que esse período de adaptação varia de acordo com os setores. "Quando uma empresa brasileira vai para um país desenvolvido, por exemplo, passa a trabalhar com consumidores mais sofisticados e concorrentes mais fortes. Ela paga o preço de ser estrangeira", diz.

Cyrino destaca, no entanto, que começa a aparecer a luz amarela para algumas transnacionais brasileiras. "Daqui para frente, a rentabilidade terá de crescer, para justificar aos acionistas perdas que podem ter sido verificadas", afirma o professor, lembrando que o processo de internacionalização de empresas brasileiras teve início em meados dos anos 90.

Um processo que pode ajudar na busca por maior retorno é o aprimoramento interno do aprendizado por parte das empresas, o que pode contribuir para ampliar a visão global das companhias e torná-las mais abertas a uma visão multicultural. "As empresas estão fazendo um grande esforço não só do lado do mercado, mas também para adequar a sua cultura a uma atividade global", afirma o especialista.

Apesar do avanço do Brasil no processo de internacionalização de empresas, o País é mais lento nesse movimento que outros emergentes. Os investimentos diretos estrangeiros da Rússia somaram US$ 45,6 bilhões em 2007 e os da China somaram US$ 75,6 bilhões. As empresas mexicanas investiram US$ 8,2 bilhões no exterior no período, enquanto as companhias com origem na Índia destinaram US$ 13,6 bilhões a projetos fora do país.

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Último Segundo