Commodities afetam inflação e exportações
09/01/2009
A desaceleração da alta dos preços das commodities não-agrícolas – esperada por boa parte dos analistas para o início do segundo semestre – ainda não ocorreu.
Esse movimento exerce uma pressão extra de custo sobre as indústrias, mas ajuda a balança comercial. Por conta desse efeito no preço de insumos como aço e celulose, economistas estão elevando, ao mesmo tempo, suas estimativas de inflação e de exportações para o ano.
A Rosenberg & Associados revisou sua expectativa de saldo comercial de US$ 26 bilhões para US$ 29 bilhões, sendo US$ 90 bilhões de exportações e US$ 61 bilhões de importações. Dirceu Bezerra Jr., sócio-diretor da consultoria, avalia que a elevação de preços de insumos básicos no mercado interno como aço, celulose e produtos da metalurgia deva continuar. Ela tem como aliados o alto nível de utilização da capacidade instalada e o reaquecimento da demanda doméstica. No mercado externo, o cenário também é favorável à manutenção de um patamar elevado de preços, pois as economias norte-americana e chinesa ainda irão crescer a taxas elevadas.
A alta das commodities metálicas foi o “fator decisivo para a elevação da projeção” do saldo da balança comercial realizada pela LCA Consultores, conta o economista Carlos Urso. Antes em US$ 29,5 bilhões, a previsão subiu para US$ 30,7 bilhões. “O efeito preço tanto nas exportações quanto nas importações foi bastante forte nos últimos três meses”, comenta. E, com a desaceleração moderada do crescimento dos Estados Unidos, tem-se novamente uma bolha especulativa em torno das commodities.
Os economistas do Bradesco também vêem um novo cenário para a balança comercial e chegam a prever um saldo de US$ 32 bilhões. Para eles, a principal razão para o que consideram “uma mudança de patamar” está no bom desempenho dos manufaturados, onde o volume cresceu 24,9% no primeiro semestre. Nos insumos básicos, onde entram produtos como soja, petróleo e aço, a história é outra. As exportações cresceram 42%, sendo que a elevação em preços chegou a 23,4%.
De acordo com Fernando Ribeiro, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), o mercado superestimou o impacto da desaceleração da economia da China na demanda por commodities, afinal o país ainda segue crescendo a taxas bastante expressivas. Prova disso é que o preço dos produtos básicos e semimanufaturados exportados pelo país seguem com altas significativas. No acumulado de doze meses até junho, a valorização chega a 19,6% nos básicos e 9,4% nos semimanufaturados.
Essas categorias, no entanto, não apresentam desempenhos expressivos de crescimento de volume exportado. Em doze meses, o “quantum” exportado de básicos e semimanufaturados cresceu apenas 3,2%. Essa desaceleração é conseqüência da quebra da safra agrícola e do fato de que as indústrias de setores como aço ou papel e celulose estão no topo da capacidade instalada.
Por conta da solidez dos preços das commodities e da expansão dos volumes exportados de manufaturados, a Funcex revisou suas estimativas para a balança comercial. Segundo Ribeiro, as exportações brasileiras devem ficar acima de US$ 90 bilhões. O economista previa anteriormente US$ 85 bilhões. Ribeiro espera um superávit superior a US$ 30 bilhões.
No que diz respeito à possibilidade de aceleração dos índices de inflação pelo prolongamento da pressão de commodities, os focos de preocupação são do petróleo e do aço, tendo em vista um arrefecimento da cotação das commodities agrícolas. O ambiente econômico atual é mais favorável aos repasses de preço para o atacado do que o do primeiro semestre, já que a demanda interna está aquecida e o nível de utilização da capacidade, elevado.
O Bradesco subiu de 11% para 11,3% sua previsão de IGP-M para este ano. Itens como materiais elétricos, transportes e indústria mecânica pesam 20% no índice e seriam fortemente impactados pelo aumento dos preços do aço, que ainda apresentam defasagem em torno de 15% sobre os preços no mercado externo. A LCA Consultores espera um IGP-M de 11%, frente um expectativa anterior de 10,5%.
Ontem, a Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) disse prever que o preço das placas de aço continue subindo no mercado internacional por causa da forte demanda, especialmente dos Estados Unidos, e passe para algo entre US$ 340 e US$ 350 no terceiro trimestre, aumentando ainda mais no quatro trimestre. A Gerdau também espera elevação dos preços internacionais do aço e informou que o preço interno está entre US$ 80 e US$ 100 inferior ao do mercado externo.
Por outro lado, o patamar elevado no preço do petróleo é motivo de preocupação tanto para o atacado quanto para o varejo. No primeiro, o impacto viria em toda a cadeia petroquímica e ao consumidor a pressão maior ficaria por conta dos combustíveis.
Valor Online 4/8/2004