Classe C poupa mais que as A e B
07/04/2010
Depois de mobiliar a casa, renovar os aparelhos eletroeletrônicos e comprar o carro, a classe C – que passou de 45% para 49% da população entre 2008 e 2009 – aprendeu a poupar. Pela primeira vez, a chamada nova classe média brasileira destinou maior volume de recursos à poupança, aplicações e investimentos que as classes A e B.
É o que revela a quinta edição da pesquisa "O Observador – Barômetro Brasil 2010", divulgada ontem pela Cetelem, braço financeiro do grupo BNP Paribas no Brasil. Segundo o levantamento, a base de entrevistados da classe C poupou 55% a mais que os membros das classes A e B. Em termos nominais, cada membro da classe C conseguiu poupar, em média, R$ 633, contra R$ 407 dos mais ricos.
Em relação ao ano anterior, a classe C foi a única que consegiu economizar mais, com acréscimo de 203% ante retrações de 19% nas classes A e B e 33% nas D e E.
A pesquisa revela ainda uma expressiva ampliação da classe C, que em 2009 atingiu participação de 49% da população brasileira, com 92,8 milhões de pessoas, ante 45% em 2008. Enquanto isso, as classes A e B subiram de 15% para 16% do total, enquanto as D e E perderam representatividade, de 40% para 35%. No período de 5 anos, a classe C cresceu quase 50%, e contou com o ingresso de 30 milhões de pessoas, das quais 27 milhões emergiram das classes D e E. Foi justamente essa ascensão social que passou a impulsionar grande parte do consumo brasileiro.
Nesse período, fica evidente a mudança nos hábitos de consumo dessa nova classe média. A primeira fase foi a experiência do consumo reprimido, com a compra massiva de eletroeletrônicos, geladeiras e fogões. A segunda fase foi a renovação desses itens, com a substituição por produtos mais caros e de melhor qualidade, como televisores de plasma em vez dos de tubo. Por último veio a compra de automóveis e motocicletas – em grande parte incentivada pela desoneração fiscal.
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Pela primeira vez, a classe C passou a poupar mais que as classes A e BCetelem tem a maior taxa de juro do mercado
Segundo dados disponíveis no site do Banco Central, a Cetelem, realizadora da pesquisa "O Observador – Barômetro Brasil 2010", é a financeira que pratica a maior taxa de juro para o crédito pessoal dentre todas as instituições no país, com taxas que chegam a 20,26% ao mês – equivalente a 824% ao ano. O principal negócio da Cetelem, braço financeiro do grupo BNP Baribas no Brasil, está na concessão de cartões de crédito para consumidores de empresas do varejo.
Para o o diretor geral da Cetelem no Brasil, Marcos Etchegoyen, o juro praticado pela empresa está relacionado ao tipo de crédito que o consumidor está tomando. "O juro do rotativo é o mais alto, mas o parcelamento de fatura fica a partir de 2,9%. O saque no cartão tem taxa a partir de 4,9%", defende.
Endividamento
Sobre a possibilidade de que a exposição ao superendividamento impeça a continuidade da expansão do consumo dos brasileiros, o executivo avalia que essa questão está muito mais relacionada à experiência de crédito do que somente de oferta. "Ou seja, o consumidor precisa buscar os melhores instrumentos de crédito para suprir suas necessidades. Ele pode optar pelo rotativo do cartão, mas se ele tiver consciência de que este instrumento de crédito de ocasião é caro, ele vai partir para outro crédito mais barato", avalia.
Com relação à expansão do crédito, Etchegoyen acredita que há espaço para crescimento, na medida em que a sociedade amadurece. "(É isso) o que tem se percebido nos últimos anos no Brasil e inclusive é uma das constatações do Observador Brasil 2010", finaliza.
"Agora crescem os gastos com itens não essenciais, como viagens e lazer, além da própria intenção de economizar. Antes ,viajar era uma questão quase que exclusiva das classes A e B. Hoje a classe C tem lazer financiado em dez vezes sem juros no cartão", avalia o diretor geral da Cetelem no Brasil, Marcos Etchegoyen.
A tendência de poupar, aliás, deve continuar em 2010, já que 76% dos entrevistados afirmaram que pretendem aumentar as economias nos próximos 12 meses, em detrimento do consumo de bens e serviços.
Para o consultor da Go4! Carlos Esteves, o surgimento de uma classe C poupadora é um reflexo natural do processo de fortalecimento e amadurecimento da classe média brasileira nos últimos anos. "Este é um reflexo de desenvolvimento da sociedade brasileira em todos os sentidos e um sinal positivo não apenas para a classe C, mas para toda a economia, já que esse crescimento acaba alavancando também o desenvolvimento das outras classes. Por trás disso tudo temos um custo de capital mais baixo, o acesso facilitado ao crédito e o apoio do governo às classes menos favorecidas", avalia.
Mas para o consultor Marcos Pazzini, da Target, a nova poupança da classe C não deve ter um peso significativo na capacidade total de poupança do país. "Não deixa de ser uma poupança para um consumo mais pensado, mais planejado – o que por si só já é positivo –, mas que pode ser liquidada em uma oferta de consumo no futuro. Resolvida essa questão de consumo reprimido, é preciso planejar aspectos como o estudo dos filhos e a aposentadoria", aponta.
Fonte:
Gazeta do Povo