China é um shopping para a realização de bons negócios, diz Lula

09/01/2009

PEQUIM – Empresas brasileiras e chinesas assinaram ontem treze acordos de cooperação para intercâmbio comercial e produção na China e no Brasil, no encerramento de um seminário que reuniu 700 empresários dos dois países e que foi encerrado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

” A China é uma espécie de shopping para bons negócios; para comprar, vender, fazer parcerias ” , disse o presidente do Brasil. O encontro ocorreu no Beijing International Hotel.

Lula destacou a importância do contato pessoal entre os empresários. ” Nem internet, nem o mais sofisticado computador do mundo substitui um olhar, um aperto de mão. Por isso, nossa presença aqui mostra que o Brasil veio para ficar ” , afirmou, no discurso aos empresários brasileiros e chineses.

Um dois mais importantes acordos fechados ontem – e que terá o poder de multiplicar negócios vultosos nos dois países – foi assinado entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Grupo CTIC, estatal chinesa que tem US$ 100 bilhões disponíveis para investir em projetos fora da China.

Esse valor equivale a seis vezes o montante com o qual o BNDES pode contar para financiamentos. O diretor de comércio exterior do BNDES, Luiz Eduardo Melim, explicou que, inicialmente, serão criados dois grupos de trabalhos, um de infra-estrutura e outro de tecnologia.

Estes grupos irão selecionar projetos no Brasil e na América do Sul para receberem recursos do BNDES e do CTIC. Melim calcula que em 45 dias poderá estar montado o calendário para dar início a esse trabalho.

” Os chineses estão há trinta anos fazendo construção de projetos dentro do país. Eles sabem analisar projetos e investem diretamente, como sócios, não precisam recorrer a fundos de investimentos, o que permite saída fácil de um investimento (se ele não dá certo) ” , observou Melim. O CTIC, portanto, tem um caráter diferente da agência de financiamento JBIC japonesa, por exemplo, que só empresta recursos.

Os chineses, segundo o diretor do BNDES, têm especial interesse em construir uma saída para escoar os produtos brasileiros pelo Pacífico e em projetos ferroviários e portuários no Brasil. Mas isso não impede que o BNDES apresente projetos de outras áreas. BNDES e CTIC podem investir juntos em projetos que ajudem a integrar fisicamente os países da América do Sul, como ferrovias ou um gasoduto, por exemplo.

A idéia do BNDES é usar a carteira de projetos a ser implementada para reativar a indústria de bens de capital do Brasil. ” Não queremos um projeto no qual os chineses tragam dinheiro, máquinas, equipamentos, tudo. Queremos que as máquinas sejam fabricadas no Brasil ” , disse o diretor do BNDES.

A Companhia Vale do Rio Doce assinou, conforme previsto, acordos de cooperação com a Baosteel – para construir uma siderúrgica no Maranhão, um navio com capacidade para 540 mil toneladas e desenvolver projeto para fabricar carvão na China e exportar ao Brasil.

A Vale fechou outro acordo com o Grupo Yankuang para desenvolver um projeto de produção de carvão coque para abastecer o mercado chinês, exportar ao Brasil e a terceiros mercados. Terá capacidade para 2 milhões de toneladas por ano e 200 mil toneladas/ano de metanol. A produção deve começar em 2006 e 25% dela será exportada para o Brasil.

A Vale também está estudando a possibilidade de entrar numa parceria com o Yankuang para instalar novas minas de carvão metalúrgico na cidade de Zhaolou. A capacidade de produção da primeira mina seria de 3 milhões de toneladas por ano, para ser iniciada em 2007.

O projeto de exploração de bauxita e produção de alumínio para exportar à China no Brasil também foi confirmado entre a Vale e a Aluminium Corporation of China.

Os acordos firmados pela Vale podem levar a investimentos de cerca de US$ 5 bilhões. Foram assinados também um contrato entre a CMEC chinesa e a CTSUL gaúcha para a construção de uma usina termelétrica a carvão em Cachoeira do Sul.

Cynthia Malta | Valor Econômico