Captações externas crescem 15%
10/07/2008
O grau de investimento ajudou o Brasil a captar US$ 6 bilhões no mercado externo no segundo trimestre do ano, uma alta de 15% na comparação com os US$ 5,2 bilhões do primeiro trimestre. Os números são do Valor Data e incluem empréstimos sindicalizados, com a participação de vários bancos, e títulos. Em maio – mês posterior à obtenção do primeiro grau de investimento, que foi no dia 30 de abril -, a taxa de rolagem da dívida externa em títulos explodiu, mostram os dados do Banco Central. O total de eurobônus e notas emitidos no exterior, sem considerar o Tesouro Nacional, representou 434% dos vencimentos desse mesmo tipo de papel.
A festa, no entanto, durou pouco. Desde junho, o mercado internacional piorou drasticamente e inúmeras empresas tiveram de abortar transações no exterior. Companhias do setor imobiliário chegaram a visitar investidores, mas desistiram de lançar títulos perpétuos. O risco-Brasil medido pelo prêmio do swap de crédito (CDS) da dívida externa de cinco anos está hoje 4% acima do nível pré-grau de investimento.
Mais bancos internacionais anunciaram prejuízos e deixaram claras suas necessidades de um capital cada vez mais caro. A desaceleração forte na economia nos Estados Unidos, o repique nos preços do petróleo e na inflação mundial aumentaram a cautela dos investidores.
No acumulado do primeiro semestre do ano, o total de captações externas somou US$ 11,2 bilhões, uma queda de 28% na comparação com o último semestre do ano passado. Em relação ao primeiro semestre do ano passado – quando a crise das hipotecas americanas não havia atingido os mercados internacionais e o risco-Brasil medido pelo CDS de cinco anos chegou ao recorde de baixa de 61,4 pontos básicos, no dia 19 de junho -, a queda no total de captações externas do Brasil foi ainda mais forte, de 44,2%.
Os analistas consideram que o segundo semestre será ainda mais difícil. "Os temores de aumento da inflação reduziram o apetite dos investidores institucionais por títulos de renda fixa de mais longo prazo, como por exemplo dez anos", diz Alexei Remizov, responsável pela área de mercado de capitais do HSBC.
Somente títulos mais curtos, de até três anos, de bancos médios brasileiros têm tido saída neste mercado. Ele são destinados aos fundos de private banking, que reúnem os recursos das pessoas físicas ricas, um mercado menor e com claros limites de volume em relação ao dos investidores institucionais. Dificilmente saem operações com total maior do que US$ 150 milhões. Neste momento, o Banco Cruzeiro do Sul e o Banco Daycoval estão vendendo papéis para esses investidores pessoas físicas.
"Os bancos americanos e europeus reduziram seu crédito aos fundos, que agora têm de operar só com caixa próprio e estão com menos liquidez disponível", completa Samy Podlubny, diretor da BCP Securities. Remizov vê a possibilidade de um rali em setembro, depois do fim das férias de verão no hemisfério Norte e passada a fase de divulgação dos balanços das instituições financeiras. Mas um rali que deve ser interrompido em outubro, quando novos números dos bancos vierem à tona.
Pablo Goldberg, chefe de estratégia de renda fixa para mercados emergentes da Merrill Lynch, também descarta qualquer melhora fundamental no mercado ainda neste ano. Ele acredita que o pior ainda está por vir, à medida que as economias européia e americana forem enfraquecendo mais. "Os bancos americanos e europeus estão com mais dificuldade para levantar capital, pois quem investiu neste ativo no início deste ano perdeu dinheiro", lembra Drausio Giacomelli, chefe de estratégia de mercados emergentes do Deutsche. "E a inflação tende a tirar a margem de manobra do Fed (banco central americano) para atuar", afirma Giacomelli.
Fonte:
Valor Economico