Câmbio valorizado prejudica 72% das exportações brasileiras, diz Fiesp

09/01/2009

A grande maioria dos setores ainda se encontra sem margem e, portanto, sem condições de expandir negócios externos

Nos últimos quatro anos, o Brasil tem observado uma evolução das exportações, que continuam a crescer em 2006, apesar da forte valorização cambial, que já acumula um aumento de 30% desde 2004. O aumento de 38,5% em dólares dos preços das vendas externas, entre 2002 e 2006, está compensando a valorização cambial. No entanto, esse incremento concentra-se em apenas 28% da pauta de exportação brasileira, dos 31 setores que integram o estudo inédito da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), divulgado nesta quarta-feira (20/09).

Em reais, os preços recebidos pelos exportadores estão 6,5% maiores do que a média do período de 1980 e 2006. Posição esta superior da observada durante a década de 90, quando o preço ficou abaixo da série histórica.

Para a entidade, as exportações brasileiras vêm crescendo conforme a excitação da economia global, em destaque a asiática, que carece de commodities e insumos industriais básicos brasileiros.

“A valorização do câmbio já estava escrito pelo valor das commodities das exportações nacionais. O crescimento mundial e a demanda por produtos choveu no quintal brasileiro”, avaliou o diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon) da Fiesp, Paulo Francini. “A valorização cambial foi intensificada com a elevação da Selic em 2004, que iniciou o processo de aumento de preços”.

O diretor do Depecon acredita que a sustentação dos atuais patamares de preços das exportações está com os dias contados, já que a movimentação de preços das commodities é passageira. “Quando esses preços iniciarem um processo de queda, a tendência será uma rápida deterioração das receitas de nossas exportações”, afirmou.

Setores
Dos 31 setores que compõe o estudo, sete estão em um cenário favorável ao mercado externo, 10 se encaixam no mercado não favorável, mas com margem de preços que ainda podem sustentar as exportações, e 13, com mercado externo não favorável e sem margens de competição.

O setor que mais apresentou um cenário positivo foi o da indústria de açúcar, com um crescimento de 33,7% na série histórica (1980-2006) e 55,9% no segundo trimestre de 2006, em comparação ao mesmo período de 2004. Na seqüência estão os setores de metalurgia não-ferrosos (26,3% e 19%), seguido da indústria de café (25,7% e 14%).

Na zona cinzenta estão os setores de materiais elétricos (-7,9% e -8,9%), e máquinas e tratores (-6,9% e -9,7%). Já nos setores não favoráveis ao mercado externo destacam-se os de equipamentos eletrônicos (-39,3% e -36,7%), seguido de indústrias diversas (-18,5% e -23,6%).

O estudo aponta que é no grupo dos setores de mercado externo desfavorável que se concentra o maior número de trabalhadores: mais de 17,3 milhões de postos de trabalhos.
De acordo com Fiesp, outro ponto de preocupação está no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que também fica atrelado a este grupo, que corresponde a 37,6% e, cuja participação sobe para 49.3%, ao ser analisado com o valor adicionado.

“A utilização da demanda externa como mola propulsora na geração do crescimento econômico fica limitada, uma vez que os setores com maior peso no PIB enfrentam condições de mercado desfavoráveis”, avaliou o economista.

Na avaliação de Francini, as exportações só atingirão sua excelência quando o câmbio estiver competitivo. Para tanto, ele sugere ações de política econômica, como o aumento de compras de divisas por parte do Bancen e a neutralidade da Selic, não introduzindo operações de arbitragem, para conter o processo de valorização do câmbio. “Essas medidas promoveriam naturalmente uma desvalorização cambial, criando, assim, um ambiente propício à exportação e ao crescimento econômico”, concluiu.

Fonte:
Fábio Rocha
Agência Indusnet Fiesp