Câmbio breca investimentos em exportação
09/01/2009
O câmbio está afetando a intenção de investimento das empresas, especialmente os novos projetos voltados à exportação. Neste momento, a valorização do real tem efeito mais perverso que o dos juros altos, diz o diretor de planejamento do BNDES, Antonio Barros de Castro, que admite frustrações com os rumos da economia. Ele alerta que o juro alto “estrangula o curto prazo”, mas “a turbulência cambial torna opaco o futuro”. Os juros têm outros impactos deletérios como expandir a dívida, enquanto o câmbio torna extremamente incerto o longo prazo, inibindo investimentos.
Barros de Castro pondera que a mudança dos preços relativos introduzida na economia com a valorização cambial “no mínimo mudou o ânimo dos investidores, num momento em que estavam começando a surgir projetos centrados na exportação, e que agora estão sendo repensados”. A diretoria do BNDES, diz ele, não trabalhava com tais trajetórias de valorização do real e alta da Selic. Hoje, essas variáveis afetam o desempenho da instituição, cujo orçamento para este ano está fixado em R$ 60 bilhões. Até abril, os desembolsos recuaram 1% e as consultas, que sinalizam novas intenções de investimento, caíram 6%.
Na opinião de Barros de Castro, estudioso da indústria, o câmbio está introduzindo uma dúvida forte quanto ao rumo da economia e afeta de forma desigual regiões e setores. Se a indústria brasileira fosse apenas “maquiladora”, como a mexicana, aproveitaria a queda do dólar para importar mais. Além dessa diferença, diz, “o dólar do Mato Grosso mata o Rio Grande do Sul”, em uma referência às divisas obtidas com commodities e às dificuldades da indústria calçadista.
Apesar da retração de novos projetos, o economista ressalva que alguns setores da indústria estão investindo em modernização para aumentar sua produtividade. Esse movimento positivo aparece nos números do Finame para bens de capital industriais, que revelam expansão trimestral entre 23% e 26%.
Valor Economico
Vera Saavedra Durão
16/05/2005