Brasileiro trabalha 167 dias para pagar impostos e juro

09/01/2009

São Paulo (Agência Estado) – O brasileiro trabalha em média cinco meses e meio por ano só para pagar impostos e juros cobrados nas várias modalidades de crédito ao consumo. Levantamento feito a pedido do Grupo Estado mostra que hoje é necessário trabalhar 167 dias por ano para pagar o Fisco e as instituições financeiras – número maior que o apontado nos últimos estudos, de 155 dias em média.

São 142 dias só para pagar impostos e contribuições cobrados pelos governos federais, estaduais e municipais no ano passado, segundo estimativas dos economistas José Roberto Afonso e Beatriz Barbosa Meirelles. É como se cada contribuinte tivesse pago R$ 4,16 mil de tributos em 2005, tomando como base a arrecadação per capita. No total, a sociedade transferiu para os cofres do governo R$ 754,4 bilhões, valor correspondente 38,9% do Produto Interno Bruto (PIB) – número recorde. Já os cálculos referentes aos juros mostram que o consumidor gasta 25 dias do seu salário para pagar os encargos devidos a bancos e financeiras. O levantamento feito pela Consultoria Partner considerou os dados fechados de crédito ao consumo até fevereiro deste ano e constatou um aumento de três dias no comprometimento da renda, comparado a março de 2005.

De acordo com o estudo, apesar da alta do salário médio (R$ 932,90) e da queda da taxa de juros, a quantidade de dias comprometidos subiu por causa do aumento da demanda do crédito ao consumo, que foi de R$ 124,2 bilhões para R$ 162,6 bilhões.

Segundo dados da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), o juro médio das diversas modalidades de crédito para pessoa física estava em 7,54% ao mês em março. Se anualizada, a taxa sobe para 139,24%. Para pessoa jurídica, a média está em 4,44% ao mês ou 68,42% ao ano.

Na avaliação do vice-presidente da entidade, Miguel José Ribeiro de Oliveira, apesar das quedas promovidas nos últimos meses por causa da redução da taxa nominal de juros básicos da economia (Selic), os juros se encontram em níveis elevados no País, seja pelo baixo volume de crédito disponível (em torno de 31,3% do PIB quando a média internacional passa de 100%) ou pelos custos que incidem sobre as taxas, como impostos e inadimplência.

‘Os juros altos podem controlar a inflação e atrair investidores do mercado financeiro, mas agravam as despesas do setor público, afetam a carga tributária e desestimulam o crescimento da economia’, argumenta o diretor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Sérgio Gomes de Almeida.

Para especialistas, a combinação de juros altos e carga tributária exorbitante pode ser um veneno para o desenvolvimento econômico de um País. Juntos, os dois componentes são inibidores de investimentos produtivos e limitadores do crescimento. O grande problema é que o Brasil está no topo do ranking nesses dois quesitos.

O que seria possível comprar

São Paulo (Agência Estado) – O total de juros pagos pelo governo, empresas e famílias em 2005 (R$ 267,3 bilhões) seria suficiente para construir 6,7 milhões de moradias populares. Além disso, o montante representou 90% da renda agregada de todas as famílias do Estado de São Paulo, segundo levantamento da Federação do Comércio do Estado de São Paulo.

Hoje, a taxa nominal de juros básicos da economia (Selic) está em 16,5% ao ano, e deve recuar para 15,75% na reunião da próxima semana do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). Para muitos economistas, há espaço para um corte mais agressivo do que os já feitos pelo Copom desde setembro, quando terminou o ciclo de aperto monetário adotado para conter o avanço da inflação.

Segundo a Fecomércio, cada ponto porcentual de queda da Selic representa cerca de R$ 10 bilhões. Ou seja, se os juros nominais tivessem ficado apenas 2 pontos porcentuais menores em 2005, o governo poderia ter aumentado em 90% seus investimentos.

Fonte:
O liberal