Brasil reduziria juro com reformas, diz FMI

09/01/2009

Aprofundar as reformas estruturais é a melhor maneira de reduzir as taxas de juros no Brasil, disse ontem o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Raghuram Rajan. O Fundo elevou sua projeção para crescimento do país este ano de 3,5% para 3,7%.

Respondendo a uma pergunta do Valor, Rajan disse considerar “equilibrado” o papel das políticas monetária e fiscal no combate à inflação. “As taxas de juros para empréstimos são altas não apenas pela perspectiva de inflação, mas por outros fatores estruturais com os quais é preciso lidar. Isso não é uma tarefa apenas para a política monetária, as reformas estruturais precisam ser feitas para reduzir o nível das taxas de juros. Acho que o equilíbrio hoje entre as políticas fiscal e monetária é razoável (…) e o foco deveria ser em continuar o processo de reformas em curso.”

Recentemente, bancos representados pelo Institute of International Finance (IIF) e agências de classificação de risco sugeriram que o Brasil colocasse mais peso no superávit primário do que nas taxas de juros para combater expectativas inflacionárias.

Rajan disse que o Brasil teve uma performance “muito boa” no ano passado com o crescimento de 5,2% do PIB. O relatório “Perspectivas da Economia Mundial” (World Economic Outlook, WEO) credita o crescimento de 2004 a “robusto investimento e fortes exportações” e diz que o superávit fiscal de 4,6% “superou as expectativas”. O WEO recomenda que o país continue mantendo superávit primário para reduzir a proporção dívida/PIB.

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, irá amanhã a Washington, onde se encontra com o secretário do Tesouro dos EUA, John Snow, e com o diretor-gerente do FMI, Rodrigo Rato. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, falou ontem a investidores em Nova York e terá uma série de encontros com bancos hoje. Ele também estará amanhã em Washington.

A América Latina como um todo cresceu mais que o esperado no ano passado, 5,7%. Os maiores índices de crescimento ocorreram na Argentina (9%), Venezuela (espetaculares 17,3%) e Uruguai (12%). A alta dos preços do petróleo beneficiou a Venezuela, enquanto o Uruguai e Argentina cresceram com o aumento de exportações e investimentos.

A previsão para este ano é uma desaceleração da economia da região para cerca de 4,1%. A Argentina crescerá 6%, segundo previsão do Fundo. O crescimento de 9% na Argentina no ano passado foi maior que o da China, mesmo estando o país fora dos mercados internacionais, ainda negociando a reestruturação de sua dívida, e refutando reajustes de tarifas públicas pedidos por empresas privadas internacionais. “Estes problemas ainda não tiveram um impacto tremendo no crescimento. Mas a questão dos serviços públicos e do acesso aos mercados internacionais terá um efeito futuro no crescimento”, afirmou Rajan.

“Um crescimento de recuperação pode ocorrer sem muitas das coisas que estamos mencionando. Se você está partindo de um nível baixo, restrições na capacidade instalada energética não importam muito. Se suas exportações estão explodindo e as importações encolheram, então você tem algum espaço porque não precisa de financiamento externo. Mas eventualmente você terá um maior equilíbrio, e nesse ponto voltar aos mercados internacionais passa a ser mais importante. Acho que lidar com esses problemas deveria ser uma prioridade”, disse Rajan.

O WEO diz que o endividamento da América Latina ainda é muito alto, mas não acha provável uma nova crise na região. “A continuidade da desvalorização do dólar limitada e ordenada não terá repercussões significativas para a América Latina”, diz, lembrando que a maior parte dos países tem regime de câmbio livre. A região só seria afetada no caso de uma alta drástica de juros nos EUA e queda brusca do dólar, cenário menos provável.

Valor Economico
Tatiana Bautzer
14/4/2005