Brasil pronto para o consumo
09/01/2009
O brasileiro quer comprar e está comprando mais. É o que revelam duas pesquisas divulgadas nesta semana. Primeiro o levantamento da Ipsos, para o Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), segundo o qual seis em cada dez brasileiros estão dispostos a ampliar as compras neste segundo semestre. E agora, a confirmação, pelo Banco central, da expansão do crédito no País.
As operações no sistema financeiro chegaram a quase R$ 800 bilhões em junho, o que representa 32,3% do PIB (Produto Interno Bruto). Trajetória que confirma a expansão mês-a-mês. Em maio, o crédito foi equivalente a 32,1% do PIB. E, diante da disposição para gastos, já demonstrada por boa parte dos brasileiros, a tendência é de continuidade desse processo.
Na verdade, o Brasil ainda tem um nível de crédito inferior à média internacional. Mas temos um diferencial – taxas de juros entre as mais altas do mundo. Mas é um dado que parece não inibir muito o consumidor, acostumado a juros ainda mais elevados. Pra se ter uma idéia, hoje a taxa média de juros cobrada pelos bancos está em 37% ao ano. Isso, para uma inflação prevista em menos de 4%.
Há uma diferença enorme também na comparação com a taxa básica, de 11,5%. Essa relação até explica, de certa forma, a cautela do Banco Central na condução dos juros. Estímulo mais forte pode levar a uma verdadeira explosão do consumo, sem que haja condições de ampliar a oferta no mesmo ritmo. Segmentos com juros mais baixos, como de automóveis, já registra níveis recordes de vendas.
O brasileiro, com a renda apertada, acaba liberando toda a vontade de consumir com qualquer folguinha que possa ter, seja o aumento de renda verificado nos últimos anos – modesto mas que fez alguma diferença em termos de poder aquisitivo; boa parcela da população ainda foi favorecida por programas de transferência de renda como o Bolsa Família ou os reajustes reais do salário mínimo; a inflação baixa contribuiu para o maior poder de compra; e o próprio crédito: ainda muito caro, porém mais acessível. Hoje as prestações cabem no orçamento, com financiamentos para carros que chegam a 72 meses; de eletrodomésticos a 24; roupas em 6… 9 meses: tênis com parcelamento em até 10 vezes. Juros à parte, o que o consumidor presta mais atenção é no quanto vai comprometer da renda mensal. Queda maior dos juros só tende a reforçar essa “animação”.
Porém, independentemente disso, a cobrança por juros mais baixos deve prosseguir. Se no caso do Banco Central há preocupações mais estruturais com a calibragem da taxa básica, isso não é desculpa para se deixar de trabalhar mais pela derrubada dos juros na ponta final, que têm gordura exagerada pelos mais diversos fatores: impostos, risco, falta de um cadastro eficiente dos bons pagadores, spread muito alto, falta de concorrência no sistema bancário, ou concorrência com pouco peso na definição dos juros, o compulsório determinado pelo Banco Central.
E, nessa discussão, voltamos à origem da maior parte dos problemas mais persistentes da economia brasileira. O custo Brasil, o baixo nível de investimentos, o ajuste pouco saudável das contas públicas. Um equilibrio mais eficiente das finanças públicas, com menos gastos com a manutenção da máquina e pessoal, poderia liberar o governo para ampliar investimentos e reduzir custos, como a carga tributária, que inibem investimentos do setor privado e até impedem queda maior dos juros.
Fonte:
Invertia