Brasil melhora índices, mas segue em 70º no ranking do desenvolvimento

19/12/2008

BRASÍLIA – O relatório sobre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2008, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e divulgado ontem, manteve o Brasil entre os países considerados de alto desenvolvimento. Baseado em dados de 2006 – o relatório sempre contempla informações de dois anos antes -, o documento situa o Brasil na 70ª posição (onde já estava) em um ranking liderado pela Islândia. O resultado brasileiro é um pouco melhor do que o anterior, de 2007: o Brasil passou de uma nota de 0,802 para 0,807.

O relatório deste ano traz algumas novidades, como a inclusão de Sérvia, Montenegro e Libéria e a exclusão de Zimbábue, país que enfrenta uma grave crise política e, especialmente, econômica, com uma inflação anual galopante de 100.580,2%. Sérvia e Montenegro ocupam as posições número 64 e 65. Mas o ranking ainda não reflete os efeitos da crise econômica internacional, já que ela teve início de forma mais consistente a partir de 2007, com o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos e no Reino Unido. Por isso, o cenário começará a ser traçado no estudo do ano que vem e consolidado de forma mais concreta no IDH de 2010, quando o levantamento completa 20 anos de seu início.

Como a nota de corte é absoluta – 0,800 -, o ranking de países com alto IDH subiu de 70 para 75. " Mesmo assim, o Brasil manteve sua posição anterior, apesar de ainda enfrentar sérios problemas de mortalidade infantil, materna e pobreza " , destacou o economista do PNUD, Flávio Comim. Se comparado com outros países vizinhos, o Brasil não deve se orgulhar tanto. Chile, Argentina, Uruguai, Costa Rica, México, Panamá e Venezuela estão à frente do país.

De todos, o melhor resultado é o chileno, que está em 40º lugar no ranking, com nota de 0,874. O mais próximo do Brasil é a Venezuela, com nota de 0,826 e 61º lugar no ranking. Em uma análise de longo prazo (o período entre 1980 e 2006), Chile e Brasil foram os países que tiveram crescimento mais consistente no continente.

O relatório do ano passado, com base em dados coletados em 2005, foi revisado a partir de um novo parâmetro de preços comparativos que influem, especialmente, na renda per capita das pessoas. Os dados divulgados pelo PNUD mostram que a revisão alterou pouco os resultados brasileiros – a única mudança, insignificante, foi a renda per capita que aumentou 0,002. Outros elementos de análise, como expectativa de vida, taxa de alfabetização de adultos e matrículas de crianças na escola, não se alteraram.

Nos dados relativos a 2006, mesmo com elevações discretas, o país avançou em quase todos os indicadores: a expectativa de vida aumentou 0,001; o índice de alfabetização de adultos cresceu 0,002, e a renda per capita teve um acréscimo de 0,001. Comim destaca que essa mesma revisão foi ruim para os argentinos, que perderam oito posições no ranking, e os uruguaios, que desceram uma posição. No caso venezuelano, a evolução foi visível: o país governado por Hugo Chávez subiu de 74º lugar para 61º.

Mas o economista do PNUD faz um alerta. " Esses resultados levaram em conta os preços atrelados ao barril de petróleo, que em 2006 tinha uma cotação considerável. É de se esperar uma diminuição nessa nota a partir do próximo levantamento, por conta da desvalorização do barril " , disse ele.

No estudo atual, os americanos caíram de 12º para 15º no ranking. A Guerra do Iraque, que começou a provocar recessão nas contas americanas, pode ser um dos motivos que justificam a queda, na avaliação do PNUD. É de se esperar uma queda maior ainda a partir do próximo ano, quando os reflexos da crise do subprime começam a ser percebidos pela pesquisa.

O levantamento do próximo ano também deverá trazer mudanças no topo da pirâmide, já que os países nórdicos também foram profundamente afetados pela crise econômica mundial.

Fonte:
Paulo de Tarso Lyra
Valor Econômico