Brasil ganha espaço de países desenvolvidos nas aplicações

10/12/2008

SÃO PAULO – Apesar de afetado pelo colapso financeiro internacional, o mercado financeiro brasileiro já começa a ser beneficiado pelo processo de reestruturação dos investimentos globais. Segundo informações divulgadas ontem pela Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), em 2008, o País já verificou a repatriação de recursos de private banking que estavam aplicados ao redor do planeta. E a expectativa é de que, em 2008, o Brasil receba mais investimentos dos chamados fundos soberanos de nações emergentes, que no período pré-crise do subprime, eram alocados em países desenvolvidos, como os Estados Unidos e nações européias.

"Os emergentes sempre investiram aqui por meio de intermediários. A grande novidade agora é que esses países estão com a idéia de formar carteiras 100% brasileiras. Os investimentos vão crescer entre os emergentes", afirmou o presidente da entidade, Marcelo Giufrida. O executivo citou como origem desses possíveis aportes a China e países do Oriente Médio. "Cingapura também acaba de abrir um escritório no Brasil", continuou. Sobre esse tema, vale lembrar que estimativas do banco ABC Brasil apontam de que nações islâmicas têm o potencial de investir cerca de US$ 80 bilhões no Brasil. "Temos recebido questionários para serem respondidos a esses fundos soberanos. Então a tendência é de que a recuperação brasileira ocorra de forma mais rápida", disse Giufrida.

Do volume de repatriação de recursos do private banking, a Anbid não possui dados específicos. Conforme Sylvia Coutinho, diretora da instituição, o que existe é um conhecimento do movimento por meio de casos isolados. "Vimos que esses clientes investiram lá fora exatamente para diversificação de portfólio. Mas com a crise, e a alta taxa da renda fixa no Brasil, foi verificado um retorno dessas aplicações", comentou. A indústria de private banking, conforme pesquisa do The Boston Consulting Group, de R$ 260 bilhões até 2007, ou apenas 10% dos R$ 2,4 trilhões de ativos líquidos de pessoas físicas. Conforme declarações dadas recentemente por Celso Scaramuzza, vice-presidente da associação, é esperado para este ano um crescimento de 25% dos ativos, o que somaria R$ 326 bilhões.

A indústria de ativos custodiados teve queda de 14,48% entre dezembro de 2007 e outubro de 2008, com o volume saindo de R$ 1,937 trilhão para R$ 1,656 trilhão. Segundo a entidade, essa queda é resultado, principalmente, da retração dos ativos de investidores estrangeiros, que passou de R$ 681,3 bilhões para R$ 424,6 bilhões no período, ou 37,68% de queda. Apesar disso, o fluxo de investimentos estrangeiros via a Resolução 2.689 do Conselho Monetário Nacional ainda está positivo em R$ 2,5 bilhões no ano. Conforme Pedro Guerra, diretor da Anbid, são realizados diversos eventos fora do País para chamar, cada vez mais, a atenção de investidores estrangeiros. "O Brasil foi atingido pela crise, mas vai sair muito melhor do que os outros países. Temos oportunidades incríveis na Ásia e na Europa, e também podemos aumentar nossa participação nos EUA", garantiu.

A poucos dias do fim do ano, a indústria brasileira de fundos de investimento apresenta patrimônio líquido de R$ 1,095 trilhão, mostrando uma queda de 2,42% referente a dezembro de 2007 e com captação líquida negativa em R$ 62 bilhões. As perdas foram concentradas praticamente nas modalidades multimercados, que apresentaram captação líquida negativa de R$ 52 bilhões, e renda fixa, com saldo deficitário em R$ 43 bilhões.

"A perda nominal foi grande, mas se analisarmos a proporção, foi pequena", avaliou o coordenador da Comissão de Administração de Recursos de Terceiros da Anbid, Alexandre Zákia. "Em 2002, por exemplo, a perda proporcional foi de 20%. Neste ano, a perda no Japão foi de 30%", comentou. A entidade acredita que 2009 será um ano melhor para a indústria brasileira, que deve apresentar um crescimento de 20%. O País está na sétima colocação dos maiores patrimônios líquidos alocados em fundos no mundo, com US$ 738,5 bilhões.

 
Fonte:
DCI