Brasil e emergentes precisam mudar para baterem desenvolvidos
18/01/2010
O Brasil e os outros três países emergentes que formam a sigla Brics – Rússia, Índia e China – precisam de uma mudança qualitativa na economia, e não apenas de uma rápida expansão do Produto Interno Bruto, se quiserem "tomar o bastão" dos países desenvolvidos, afirma reportagem do jornal britânico Financial Times.
O diário iniciou na sexta-feira uma série de reportagens especiais sob o título "Construindo Brics" – um trocadilho que poderia ser interpretado como "Construindo tijolos", ou ainda "Tijolos para construção", já que, em inglês, a sigla Brics tem a mesma pronúncia da palavra "bricks" (tijolos). Na primeira reportagem, um longo texto explica a origem do termo e como esses países mudaram o posicionamento econômico global.
Já a reportagem desta segunda-feira defende a tese de que o "centro de gravidade" da economia e da governança globais não está passando por uma mudança definitiva. Para isso ocorrer, os quatro principais países emergentes precisariam implementar mudanças estruturais – que, na visão do jornal, ainda não estão próximas.
O crescimento chinês continua fundado nas exportações, e não existe um movimento significativo na direção de formar um país de consumidores, com economia baseada no mercado interno no mercado interno, como é o caso dos desenvolvidos. A forte entrada de recursos na China é direcionada principalmente para as empresas, e não pára os consumidores.
A poupança das famílias chinesas é aplicada prioritariamente em serviços básicos como educação, seguro-saúde e cuidados com os pais.
O resultado é que "nós veremos um grande excesso de capacidade nas indústrias exportadoras chinesas, como a de aço", disse ao FT Razeen Sally, especialista em comércio da London School of Economics.
No caso do Brasil, o jornal destaca "a dominação de grande número de mercadorias agrícolas" e um grupo de "fazendeiros super-competitivos", mas observa que a economia do país já está "relativamente madura", com pouco espaço para um crescimento rápido. Mas (ao menos por enquanto) não apontou pontos específicos a serem mudados. Ao longo da semana, estão previstas reportagens específicas sobre cada país dos Brics.
Quanto à Índia, o FT enfatiza a indústria de software, mas aponta o "crônico problema das finanças públicas" e alta taxa de poupança das famílias (o que limita o consumo e o desenvolvimento do mercado interno). Em relação à Rússia, o FT diz que o país ainda depende muito dos preços do petróleo e lembra que sua economia "contraiu-se agudamente durante a recessão global".
Em relação ao Brasil, o jornal não menciona o fato de que a recuperação econômica após o momento mais difícil da crise mundial deu-se notadamente com uma grande participação do mercado interno – diferentemente da China, que se recuperou com um pacote econômico de mais de US$ 500 bilhões.
Fonte:
Estadão.com.br