Brasil é 12º destino mundial de investimentos estrangeiros

09/01/2009

Países como Venezuela, Bolívia e Equador já vêm sofrendo o impacto direto de suas políticas e registraram uma queda de investimentos no ano passado

GENEBRA – Os investimentos estrangeiros no Brasil cresceram 5,9% em 2006, contra um aumento médio mundial de 34%. A avaliação é da Organização das Nações Unidas (ONU), que nesta terça-feira publicou um levantamento sobre o fluxo de investimentos no mundo e coloca o Brasil na 12º colocação como principal destino de investimentos no mundo.

Mas, segundo as Nações Unidas, países como Venezuela, Bolívia e Equador já vêm sofrendo o impacto direto de suas políticas e registraram uma queda de investimentos diante da falta de segurança jurídica oferecida pelos governos às empresas estrangeiras. Os economistas da ONU alertam que medidas de nacionalização como as que vem sendo anunciadas nesses países podem afetar diretamente o fluxo de investimentos para a América Latina nos próximos anos.

De acordo com o levantamento, os investimentos no mundo atingiram a marca de US$ 1,2 trilhão e 2006 registrou o terceiro ano consecutivo de crescimento dos fluxos. Em 2005, os investimentos haviam aumentado em 34%. Mesmo assim, o volume atual ainda é inferior ao recorde atingido em 2000, de US$ 1,4 trilhão. Para os economistas da ONU, o contínuo aumento reflete o crescimento da economia mundial, tanto nos países ricos como pobres. Outro fator que vem colaborando é o crescente número de países que promoveram liberalizações para atrair investimentos. Mas 2007 não deve apresentar o mesmo desempenho.

No caso brasileiro, os investimentos atingiram US$ 16 bilhões nos cálculos da ONU. Segundo a avaliação, houve uma queda de aquisições de empresas brasileiras por companhias estrangeiras. Em 2005, o valor dos investimentos havia atingido US$ 15,1 bilhões, contra US$ 18 bilhões em 2004. O volume é menos de um terço dos investimentos obtidos pela China e inferior ao da Rússia, Turquia, Cingapura e Polônia. O México é o líder latino-americano, com US$ 18,9 bilhões.

Os dados elaborados pela Conferência da ONU para o Desenvolvimento e Comércio (Unctad) não incluem os investimentos feitos em novembro e dezembro. Para o Banco Central brasileiro, o valor será maior se os últimos dois meses do ano forem contabilizados.

A ONU aponta que a valorização da moeda, diante das balanças positivas de conta corrente e do aumento dos preços de commodities, também seria um obstáculo para a atração de investimentos. Isso porque empresas que queiram investir em plantas de produção para exportar não teriam a competitividade que esperam num ambiente com uma moeda valorizada.

Chávez
Ainda assim, o aumento de 5,9% no Brasil foi bem acima da média latino-americana, que sofreu uma queda de 4,5% no fluxo de investimentos. A região foi a única do mundo a apresentar um saldo negativo em 2006, enquanto todos os demais continentes apresentaram taxas de crescimento.

Na América Latina, os investimentos estrangeiros somaram US$ 99 bilhões. Mas a ONU alerta que alguns países latino-americanos vêm promovendo uma mudança significativa em suas políticas econômicas “visando um maior papel do Estado, assim como mudanças em políticas que afetam diretamente indústrias e investidores estrangeiros, em particular no setor de recursos naturais”. Os economistas deixam claro que os regimes fiscais hoje em países como Venezuela, Bolívia e Equador são “menos favoráveis aos investidores” e a ONU teme que medidas parecidas sejam estendidas para mais países. “Isso cria incertezas entre investidores do setor primário, resultando em uma queda de investimentos para a região”, afirmou o documento.

Os países de Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa vão na contramão das demais economias que contam com recursos energéticos.

Segundo a ONU, nos últimos três anos, um volume alto de investimentos foi direcionado a países com reservas de petróleo e gás em todo o mundo, tendência que deve ser mantida para 2007, salvo nos casos dos países sul-americanos liderados por esses governantes.

Outros países latino-americanos não tiveram bons resultados: na Colômbia, a queda foi de 52%, contra uma diminuição de 30% na Argentina, que somou US$ 3,3 bilhões. Quem mais se beneficiou em 2006, porém, foi o Chile, com um aumento de 48% graças ao setor de mineração.

Salvo no caso sul-americano, todas as demais regiões apresentaram aumento de investimentos. No geral, os países emergentes tiveram um aumento de 10% na entrada de recursos. Para os países em transição da Europa e ex-repúblicas soviéticas, por exemplo, o aumento foi de 19% e 56%, um recorde. A África também registrou um ano recorde, principalmente com os investimentos chineses no setor primário. Na Rússia, o aumento foi de 94%.

No sudeste asiático, mais um recorde: US$ 187 bilhões, um aumento de 13% em relação a 2005. O que chama a atenção são os investimentos em alta tecnologia na China, que continua líder com US$ US$ 70 bilhões apesar da queda de 3% em 2006. A queda foi compensada por um aumento de investimentos de 15% em Hong Kong. Juntos, somam US$ 111 bilhões em investimentos. Já a Índia teve um aumento de 44% na entrada de recursos e, junto com a China, caminham para ser as duas principais fontes de investimentos em outros países emergentes.

Ricos
Já nos países ricos, o aumento dos investimentos foi de 48%, atingindo US$ 800 bilhões. Os americanos recuperaram sua posição de principal destino de capitais do mundo. Em 2005, esse posto era ocupado pelo Reino Unido. Como região, porém, a União Européia é ainda a maior beneficiada por investimentos de todo o mundo, 45% de todo o capital que circula.

Mas os riscos para os investimentos em 2007 existem e o ritmo de crescimento de investimentos pode não ser o mesmo. Desequilíbrios fiscais, volatilidade nos preços do petróleo, aumento das taxas de juros e desaceleração da economia americana podem afetar os fluxos de capitais produtivos para este ano.

Fonte:
Estadão.com.br
Jamil Chade