Brasil diversifica mercados e reduz dependência de EUA e UE
09/01/2009
Entre 2002 e 2006, concentração das vendas do Brasil nos EUA caiu para 18% e, na UE, para 22%. Mas nem tudo pode ser festejado no ano em que o país bateu mais um recorde no comércio exterior: a participação de commodities aumentou
BRASÍLIA – O Brasil bateu mais um recorde de exportações (US$ 137 bilhões) e lucro (US$ 46 bilhões) no comércio com outros países, no ano passado, e o governo já projeta para 2007 um aumento de ao menos 10% nas vendas para o exterior, que totalizariam US$ 152 bilhões. Um dos fatores mais importantes para a expansão das exportações nos últimos anos, e que deve continuar influenciando o desempenho delas nos próximos, segundo o Ministério do Desenvolvimento, foi a ampliação do leque de países com os quais o Brasil negocia e o peso que eles têm nas transações feitas pelas empresas nacionais.
Por uma opção de política externa do governo, que chegou a ser contestada por empresários e vista com ceticismo pelo ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), houve uma redistribuição nas relações comerciais do Brasil entre 2003 e 2006. O principal reflexo foi a diminuição da importância – e da dependência – dos Estados Unidos. Os EUA absorviam 25% das vendas brasileiras em dezembro de 2002 e, em novembro de 2006 (último dado disponível), abocanharam um terço a menos (18%). No período, o Brasil também se tornou menos dependente da União Européia (a participação das vendas para lá caiu de 25,5% para 22%).
Ao mesmo tempo em que EUA e União Européia viram encolher sua importância como consumidor de artigos brasileiros, o país arranjou clientes em mercado considerados “não-tradicionais”, como Vietnã e Camarões, e reforçou o peso de antigos. De 2003 a 2006, quase dobrou o peso das vendas do Brasil para o Mercosul (de 5,5% para 10% do total das exportações), enquanto as destinadas à África subiram um terço (de 3,9% para 5,3%).
O destino das exportações que se agregaram ao comércio exterior também dá uma idéia do redesenho da clientela. De 2002 até 2006, houve incremento de US$ 77 bilhões no total de exportações. Até novembro de 2006, o acréscimo tinha sido de US$ 65 bilhões e se distribuía assim: US$ 20 bilhões para América do Sul, Cuba e México, que formam a Associação Latino-Americana de Integração (Aladi); US$ 11 bilhões para a Ásia; US$ 8,5 bilhões para a União Européia; US$ 7 bilhões para os EUA; US$ 4,5 bilhões para a África; US$ 1,5 bilhão para o Caribe, entre outros.
“Os Estados Unidos ficam com uns 20% das nossas exportações. Isso significa que 80% estão distribuídas por mais de 100 países. Essa diversificação dá consistência ao processo de crescimento das nossas exportações e vai fazer com que ele continue”, diz o secretário-executivo do ministério do Desenvolvimento, Ivan Ramalho. “Além disso, a pauta de exportações é diferente para cada país, o que também é um positivo para manter o ritmo de expansão das exportações”, completou.
Para 2007, o ministério aposta que as exportações chegarão a US$ 152 bilhões, crescimento entre 10% e 11%, em linha com o que o Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta para o comércio mundial. Mas o governo não faz previsões sobre o superávit da balança comercial, pois não tem estimativas de importações. “A expectativa é que o saldo seja menor. Acreditamos num processo mais acentuado de modernização da indústria, e isso puxa as importações”, afirma Ramalho.
O aumento das exportações deve decorrer, em parte, do pacote de medidas destinadas a estimular a economia que o governo está preparando.“A grande maioria das importações está vinculada à produção industrial, e acreditamos que a produção vai ter um crescimento, até em função de medidas do governo”, diz o secretário.
Atualmente, cerca de 70% das importações brasileiras são de matérias-primas ou máquinas para a indústria. Os bens de consumos, como carros ou eletroeletrônicos, representam menos de 15%. Apesar disso, este foi o segmento dos importados que mais cresceu em 2006, de acordo com o ministério.
Setor primário aumenta peso
Apesar da alteração no perfil da clientela do Brasil no exterior, o peso dos tipos de produtos vendidos pouco mudou entre 2003 e 2006. E a principal modificação registrada não pode ser festejada, segundo especialistas em comércio exterior. Ao contrário. Cresceu de 26,4% para 29,3% a participação das exportações de mercadorias consideradas “básicas”, como produtos agrícolas (soja, por exemplo) ou minério de ferro. São artigos de pouco valor agregado, cujos preços são preços relativamente baixos, ao menos quando comparados a “manufaturados” – máquinas equipamentos, carros, celulares, o melhor tipo de exportação. De dezembro de 2002 a dezembro de 2006, o tamanho dos manufaturados nas vendas brasileiras continuou o mesmo: 55% do total.
Fonte:
André Barrocal
Carta Maior