Brasil de hoje está quase igual ao da crise de 2008, diz consultoria
14/09/2011
Representantes do governo têm batido na tecla de que o Brasil está mais fortalecido para fazer frente à atual crise econômica global.
Segundo a presidente, Dilma Roussef, o país não é uma ilha, mas "tem baixo risco de contágio" e pode se "blindar" cada vez mais contra os efeitos da crise internacional.
Em 2008, o país tinha menos ferramentas para enfrentar os problemas, segundo Dilma, e atualmente está em melhores condições, já que tem um forte mercado interno, maiores reservas internacionais e um elevado depósito compulsório bancário.
Mas, afinal de contas, o Brasil está mesmo mais preparado agora do que em 2008?
Para a consultoria MB Associados, o país não está muito diferente do que se encontrava naquele momento.
"O país está com indicadores semelhantes aos de 2008, com uma deterioração adicional na inflação, que é preocupante", afirma Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. "A inflação é o mais preocupante porque, infelizmente, pode deixar todos os demais indicadores insignificantes."
"Em praticamente todos os indicadores macroeconômicos houve piora marginal, que pode ser creditada ainda à continuidade das políticas pós-crise. Ou seja, parece haver ainda uma economia sendo estimulada pelas políticas monetária e fiscal quase três anos depois do auge da turbulência", segundo relatório da consultoria.
Confira levantamento de indicadores econômicos do Brasil
INDICADORES DA ECONOMIA BRASILEIRA
INDICADOR | AGOSTO DE 2008 | MAIO DE 2011 |
IPCA – % | 6,2 | 6,6 |
Taxa de câmbio – R$/US$ | 1,6 | 1,6 |
Balança comercial – US$ bilhões | 19,8 | 23,2 |
Conta corrente – serviços – US$ bilhões | 54,9 | 76,9 |
Transações correntes – US$ bilhões | 21,5 | 51,0 |
Transações correntes – % do PIB | 1,8 | 2,6 |
Investimento direto líquido | 7,9 | 70,1 |
Reservas internacionais | 205,0 | 333,0 |
Dívida externa – % do PIB | 13,3 | 12,8 |
Crédito total – % do PIB | 36,4 | 46,9 |
Inadimplência – % | 4,2 | 5,1 |
Deficit nominal – % do PIB | 2,1 | 2,4 |
Superavit primário – % do PIB | 4,0 | 3,3 |
Dívida líquida do setor público – % do PIB | 40,6 | 39,8 |
Dívida bruta do setor público – % do PIB | 56,1 | 55,8 |
- Fonte: Banco Central, IBGE, Mdic
- Levantamento realizado pela consultoria MB Associados
IPCA – Piorou
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) passou de 6,2% em agosto de 2008 para 6,6% em maio de 2011. A aceleração da inflação atual tende a ser pior do quem em 2008, segundo a MB Associados, já que a crise naquela época parecia pior e também considerando que o Banco Central reduziu recentemente a taxa básica de juros (Selic).
Taxa de câmbio – Estável
No momento da elaboração do relatório, a relação entre o real e o dólar estava entre R$ 1,50 e R$ 1,60.
Balança comercial – Melhorou
A balança comercial brasileira passou de US$ 19,8 bilhões em agosto de 2008 para US$ 23,2 bilhões em maio de 2011. Essa melhora se deve à perspectiva positiva das exportações brasileiras, principalmente das commodities, avalia a MB Associados.
Conta corrente (serviços) – Piorou
A conta corrente de serviços passou de US$ 54,9 bilhões em agosto de 2008 para US$ 76,9 bilhões em maio de 2011. Essa conta corrente envolve a entrada e a saída de dinheiro em itens como viagens internacionais, fretes e seguros. O aumento do deficit na taxa de serviços se deve ao aumento de envio de recursos para fora do país por causa da taxa de câmbio, com mais lucros e dividendos sendo enviados para fora, sem falar no aumento de gastos dos brasileiros no exterior. Consequentemente, o deficit em transações correntes mais que dobrou.
Transações correntes (valor em US$) – Piorou
As transações correntes passaram de US$ 21,5 bilhões, em agosto de 2008, para US$ 51 bilhões, em maio de 2011. As transações correntes são a soma de valores de comércio exterior, juros da dívida externa, viagens internacionais e remessa de lucros de empresas.
O valor foi puxado, principalmente, pelo câmbio apreciado, segundo a consultoria.
Transações correntes (porcentagem do PIB) – Piorou
As transações correntes passaram de 1,8%, em agosto de 2008, para 2,6% do PIB (Produto Interno Bruto), em maio de 2011. Segundo a consultoria MB Associados, apesar do aumento, ainda é um valor adequado, já que os economistas só começam a se preocupar quando esse valor passa de 5%.
Investimento direto líquido – Melhorou
O investimento direto líquido saltou de US$ 7,9 bilhões em agosto de 2008 para US$ 70,1 bilhões em maio de 2011. Representa a aplicação de recursos de empresas estrangeiras no país. Esse crescimento significativo, segundo a consultoria, pode ser explicado pela confiança das empresas internacionais no crescimento do Brasil, com a entrada de investimentos de longo prazo.
Reservas internacionais – Melhorou
As reservas internacionais aumentaram de US$ 205 bilhões para US$ 333 bilhões. Foi um acúmulo significativo atingido pelo governo, avalia a MB Associados.
Dívida externa – Estável
A dívida externa passou de 13,3% do PIB em agosto de 2008 para 12,8% do PIB em maio de 2011. Essa relativa estabilidade, segundo a consultoria, é bastante positiva. No passado, esse valor chegou a quase 50%, o que levou o país à crise na “década perdida” de 1980.
Crédito total – Melhorou
O crédito total passou de 36,4% do PIB em agosto de 2008 para 46,9% do PIB em maio de 2011. Esse crescimento de mais de 10 pontos percentuais reflete a economia interna dinâmica, que é um sinal de que a economia brasileira está crescendo, apesar de ainda ser um valor baixo para os padrões internacionais, avalia a MB Associados. Também poderia ter um impacto adicional na inflação, mas isso ainda não é tão preocupante, dados os índices de inadimplência (veja abaixo).
Inadimplência – Piorou
A inadimplência passou de 4,2% em agosto de 2008 para 5,1% em maio de 2011. O valor ainda está relativamente baixo, o que indica que o crédito ainda está em um patamar saudável no país, segundo a MB Associados.
Deficit nominal – Piorou
O deficit nominal (despesas líquidas do setor público com pagamento e apropriação de juros) passou de 2,1% do PIB em agosto de 2008 para 2,4% do PIB em maio de 2011.
Superavit primário – Piorou
O superavit primário (a economia de recursos de União, Estados e municípios para pagar os juros da dívida pública) caiu de 4% do PIB em agosto de 2008 para 3,3% do PIB em maio de 2011.
Obter o superavit primário é importante para conter o aumento da dívida pública e evitar calotes no futuro. Se o governo não economizar, a dívida pode crescer muito e ele não tem como pagar. Isso caracterizaria o calote. No entanto, fazer muito superavit primário não tem só esse lado bom de guardar dinheiro para pagar as dívidas. O governo realiza essa economia aumentando impostos e deixando de gastar, por exemplo, em investimentos em obras e serviços.
Dívida do setor público – Melhorou
Diferente do que acontece nos EUA e em países em crise na Europa, a dívida do setor público brasileiro ficou praticamente estável. A dívida líquida passou de 40,6% do PIB em agosto de 2008 para 39,8% do PIB em maio de 2011. Já a dívida bruta passou de 56,1% para 55,8% no mesmo período.
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