BNDES vai montar fundos de investimento
09/01/2009
Idéia é oferecer aplicações em participações, recebíveis e em ações da carteira do banco
Dentro de 20 a 30 dias o BNDES deverá anunciar o lançamento de novos fundos de investimento para incentivar o mercado de capitais e baratear o crédito às empresas. O presidente do banco, Guido Mantega, confirmou ontem que estão sendo desenhados no BNDES fundos de “private equity” setoriais, de recebíveis e de ações para pequenos investidores, que poderá receber recursos do FGTS.
Mantega pretende conversar com as centrais sindicais, gestoras do FGTS, para liberar parte dos recursos para ser usado pelos trabalhadores na compra de ações do fundo, que seria nos moldes do bem-sucedido PIBB (Papéis Índice Brasil Bovespa).
“Vamos lançar um fundo de ações que vai dar um rendimento mínimo de poupança, totalmente seguro. O sujeito que aplicar nele não pode perder. No mínimo ganha poupança, além de toda a valorização do conjunto de ações que comporão a carteira”, explica.
O banco ainda não pleiteou os recursos do FGTS, mas deve fazê-lo em breve junto às centrais sindicais logo que o fundo de ações estiver definido. “Eu tenho certeza de que isso será muito bom para os mutuários do FGTS. Eu apliquei meu FGTS em ações da Vale do Rio Doce e estou muito satisfeito”, disse Mantega.
Ainda está em discussão no BNDES as ações da carteira da instituição que serão usadas para compor o fundo. O portfólio de ações do banco soma R$ 31,9 bilhões.
Apesar de informar que serão criados “vários” fundos de investimento, Mantega não tem ainda o número fechado desses instrumentos. Mas adiantou que além do fundo de ações, que mira principalmente o pequeno investidor de varejo, a área financeira do BNDES trabalha no desenho de outros fundos que independem do FGTS e que poderão atrair desde grandes investidores até pessoas físicas que têm seus R$ 10 mil a R$ 100 mil, como os fundos setoriais de private equity e de recebíveis.
Os fundos setoriais de private equity poderão ser criados para os setores de siderurgia e comércio exterior, dentre outros, citou Mantega. Eles serão mais voltados para grandes empresas e para grandes investidores, nos moldes do fundo de energia, criado pelo BNDES no fim de 2004.
O fundo de energia é um exemplo bem-sucedido de fundo setorial. Com capital de R$ 740 milhões, é gerido pelo Pactual e administrado pelo Bradesco. Seus cotistas são grandes fundos de pensão e a BNDESPar.
Com gestão profissional, a grande alavancagem deste fundo é promover a entrada em participações acionárias das empresas do setor. Seus cotistas são a BNDESPar, com 24,5% ; a Petros, 25%; a Funcef, 22,3%; a Fapes, 4%; o Banco do Brasil, 8,1%; e o Real Grandeza (fundo de Furnas), 10%. O Pactual tem 4% das cotas.
A estratégia do BNDES ao programar o lançamento de vários tipos de fundos é diversificar sua linha de atuação para contribuir com o novo ciclo de crescimento do país usando instrumentos do mercado de capitais para “puxar a poupança”.
Na opinião de Mantega, “não falta poupança no Brasil”, só que ela não é canalizada para a produção e é isso que o banco pretende estimular. “Vamos estimular também as empresas a colocarem debêntures no mercado e vamos participar do capital acionário das companhias”, realçou o presidente do BNDES. Mas ele destacou que para tal as empresas brasileiras terão de abrir o capital, cuidar da governança corporativa e dar mais segurança aos investidores.
Mantega vê um potencial grande nesse nicho de negócios, pois existem muitas companhias com projetos em carteira que querem crescer, mas evitam ir aos bancos tomar dinheiro, pois acreditam que os altos juros encarecem o empreendimento.
“Tenho certeza de que nossa atuação via mercado de capitais terá um efeito muito positivo, pois trata-se de uma dinamização de um mercado que está atrofiado no Brasil”, destacou Mantega.
Valor Economico
15/3/2005
Vera Saavedra Durão